Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>‘Cadáver político’
>>A volta de Heloísa

Hoje é dia de Renan

Em sessão ultra-secreta, como diz o Globo, decide-se hoje o destino de Renan Calheiros.

Reunidos no plenário sob um rigoroso esquema de segurança, os senadores vão julgar se o presidente da Casa faltou com o decoro parlamentar ao justificar o pagamento de despesas e pensão alimentícia para a ex-namorada.

A rigor, o plenário vai decidir apenas se os documentos e explicações apresentados por seu advogado batem com a conta de despesas ou se de fato ele foi socorrido pelo lobista de uma empreiteira.

‘Cadáver político’

Os jornais apostam que, a partir das 11 horas de hoje, começa o enterro da carreira política de Renan Calheiros.

O Estado de S.Paulo chama de ‘cadáver político’ esse parlamentar que conseguiu se manter à sombra do poder nos últimos dezesseis anos, graças à sua habilidade para se agarrar ao poderoso de plantão.

Um rápido perfil desenhado pela Folha de S.Paulo conta que Renan começou no PC do B, apoiou Fernando Collor de Mello em sua ascensão à Presidência da República, abandonou-o às vésperas do processo de impeachment, foi vice-presidente da Petroquisa no governo Itamar Franco, apoiou a emenda que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso e virou seu ministro da Justiça, apoiou a candidatura de José Serra a presidente da República mas depois se aliou a Lula.

Com tanta agilidade, Renan não conseguiu escapar dos dotes sedutores da jornalista Mônica Veloso, cujas qualificações poderão ser observadas na próxima edição da revista Playboy.

Na lápide de sua carreira política, bem que poderia ser inscrita a frase cunhada por sua mulher: ‘Homem é bicho besta’.

Votação ultra-secreta

Renan vai para o plenário do Senado sob absoluto sigilo.

Conseguiu não apenas manter o voto secreto, que pode reduzir o constrangimento dos que o apóiam, mas também determinou medidas extremas de segurança para evitar o vazamento de informações para o ambiente externo ao plenário.

Funcionário passaram a noite de ontem fazendo uma varredura eletrônica em busca de aparelhos celulares e gravadores ocultos.



Escaldado pelos acontecimentos no Supremo Tribunal Federal, quando o fotógrafo Roberto Stuckert Filho, do Globo, registrou o conteúdo de uma conversa online de dois ministros, Renan mandou retirar também os computadores portáteis usados pelos senadores.

Longa agonia

Muito provavelmente, nada disso será suficiente para impedir sua cassação.

Nenhum segurança haverá de se atrever a revistar qualquer um dos 81 parlamentares, mesmo porque, no prazo de cinco dias úteis a partir de hoje, outro senador poderá ser conduzido à cadeira do presidente.

E se, resguardados pelo sigilo, os senadores pouparem o mandato de Renan, restam ainda pelo menos três outras acusações contra ele, que foram se juntando nos 120 dias em que ele resistiu a ser levado a julgamento.

Como disse o senador tucano Tasso Jereissatti aos jornais, Renan passou da conta.

O papel da imprensa

Os jornais acabaram transformando o julgamento do presidente do Senado num divisor-de-águas do próprio Parlamento.

Todos eles afirmam, na edição de hoje, que a absolvição de Renan pode perpetuar a crise que se arrasta há 120 dias, prejudicando a votação de propostas importantes do Executivo e do Congressso.

Nas páginas dos diários, Renan está condenado há muitas semanas, o que explica o título do Estadão: está em julgamento um ‘cadáver político’.

Mas Renan já demonstrou, em toda a carreira, sua capacidade de sobreviver no poder.

Além disso, a condenação prévia da imprensa tem sido usada por seus aliados como argumento para afirmar a independência do Senado.

O papel da imprensa está descrito no Estadão: a cronologia da crise feita pelo jornal reproduz a seqüência de acusações que se acumularam contra Renan Calheiros, quase todas elas originadas nas mídia.

Apostas conflitantes

Os três jornais apostam hoje em resultados diferentes.

O Globo contabilizava apenas 37 votos pela cassação contra 45 pela absolvição.

Já a Folha calculava que serão alcançados hoje os 41 votos necessários para a cassação.



O Estadão não fez apostas. Apenas repetiu avaliações dos partidos.

A volta de Heloísa

A voz estridente da senadora Heloísa Helena vai interpretar, durante o julgamento, a representação do PSOL, que deu início ao processo contra Renan Calheiros.

Segundo o Globo, a oposição acha que a participação da senadora alagoana poderá favorecer Renan, reforçando sua tese de que tudo não passa de picuinhas da política provinciana.

Mas a ex-candidata a presidente da República se negou a renunciar ao momento histórico.
Mesmo sem os holofotes da televisão.

Troféu ‘tudo bem’

O ataque ao trem que levava os ministros Marcio Fortes e Pedro Brito, ontem, perto da favela do Jacarezinho, no Rio, teve conseqüências.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou a intenção de criar uma ‘sala de situação’, que funcionaria em Brasília, para coordenar o combate ao poder dos traficantes e milicianos nas comunidades pobres.

A ‘sala de situação’ é simplesmente um gabinete de gestão de crise cujo nome é copiado das ‘situation rooms’ que aparecem nos filmes americanos.

O governo resolveu combater o crime organizado com mais burocracia.
Mas pelo menos foi um pouco além da percepção do ministro Márcio Fortes.

Depois do ataque, o ministro das Cidades declarou que os bandidos atiraram porque ficaram incomodados com um trem diferente, cheio de fotógrafos, na linha usada para transporte de carga.

Levou o troféu ‘tudo bem’, mas terá que dividir o prêmio com o delegado da Coordenadoria de Operações Especiais da polícia do Rio, Rodrigo Oliveira.

Segundo o Estadão, o delegado disse que, se os bandidos soubessem que havia dois ministros no trem, eles não teriam atacado.

Ah, bom.