Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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Cartão vermelho

O maior destaque nos grandes jornais de hoje é o descontrole do governo nos gastos com cartões de crédito.

A Folha informa em manchete que o governo decidiu retirar os cartões dos ministros, o Estado de S.Paulo publica, no alto da primeira página, que dez funcionários do gabinete presidencial gastaram mais de 3 milhões e meio de reais em 2007 com cartões corporativos.

O Globo
se adianta aos fatos e afirma que o governo saiu à frente da oposição e tomou a iniciativa de propor a criação de uma CPI  no Senado, para controlar a investigação.

Alguns articulistas e colunistas observam que, ao propor uma investigação oficial sobre o uso dos cartões corporativos nos últimos dez anos, o Executivo estaria, de fato, colocando um freio na oposição.

Afinal, o cartão corporativo para altos funcionários da administração pública foi criado em 2001, no segundo governo Fernando Henrique Cardoso.

Então, pergunta o leitor, como se pretende fazer investigações sobre um período anterior, desde 1998? – A resposta está  no texto que propõe a criação da CPI. Ali se diz que serão investigados os ‘suprimentos de fundos’ para despesas de agentes públicos, que antes dos cartões eram feitos por meio de contas bancárias especiais.

Uma das ironias da história é que o senador Romero Jucá, líder do atual governo no Senado e porta-voz do presidente Lula na proposta de criação da CPI, também foi líder do governo Fernando Henrique, quando ocorreram as primeiras denúncias de mau uso do sistema de ‘suprimento de fundos’

Outra ironia é que as irregularidades no uso de cartões corporativos no atual governo não foram descobertas pela imprensa ou denunciadas pela oposição. Foram publicadas pelo próprio Executivo, no site www.portaltransparencia.gov.br.

Os jornais já informaram que mais de 7 mil funcionários públicos são autorizados a usar cartões corporativos para despesas urgentes. Alguns deles possuem mais de um cartão, o que explica a existência de cerca de 13 mil e quinhentos cartões corporativos no governo.



Trata-se de um sistema mais transparente de controle de despesas oficiais, e o mau uso é um risco permanente. Tanto para a reforma de mesa de sinuca como para a compra de tapiocas, a tentação de sacar o cartão e mandar a conta para os cofres públicos é permanente

E foi o sempre governista Jucá quem definiu o nome que vai marcar a futura CPI: ‘a tapioca é a mesma; só muda o gosto’, declarou o senador.

Torcida na imprensa

A cobertura das eleições nos Estados Unidos repete neste ano certa precipitação de alguns jornalistas brasileiros.

Meses antes da definição, eles se vão se empolgando com as prévias e, como torcedores de futebol, acabam antecipando predileções.

Alberto Dines:

– Quando há eleições no Brasil, raros são os colunistas e comentaristas políticos que declaram o seu voto, preferem buscar a eqüidistância e ganhar credibilidade. Estão certos, certíssimos. Mas nesta empolgante temporada eleitoral  americana, muitos jornalistas brasileiros sentem-se à vontade para manifestar simpatias por este ou aquele candidato dos EUA, mesmo sabendo que a corrida eleitoral mal começou. Acreditam que as manifestações de um jornalista brasileiro jamais poderiam influenciar os eleitores americanos. Erram duas vezes: primeiro porque a disputa eleitoral americana é tão fascinante justamente porque é equilibrada. Ora, se o jornalista antecipa o seu voto nove meses antes do pleito, retira dele todo o seu potencial de suspense, toda a riqueza, e o esvazia inapelavelmente. Por outro lado, mesmo que não estejam influindo diretamente nas eleições americanas, mostram aos seus leitores brasileiros que são incapazes de se manter acima das paixões. Isso é ruim para todos, sobretudo para a credibilidade do nosso jornalismo.