Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Chapa branca aérea
>>Os métodos do governo

Dinheiro, política e informação


O ministro Franklin Martins se equivoca ao dizer que publicidade e jornalismo convivem corretamente em empresas de mídia. Ficou mais difícil o comercial se intrometer diretamente na maneira de apurar, editar ou omitir notícias, mas a lógica geral da busca de audiência torce e distorce o jornalismo. Interesses políticos governistas poderão distorcer muita coisa na TV pública que estará sob o comando de Franklin. As verbas publicitárias complicam ainda mais a equação.


Apontar a BBC como modelo é bonito, mas a Inglaterra tem instituições um pouquinho mais sólidas do que as brasileiras. Talvez um modelo institucional com pesos e contrapesos possa ajudar Franklin Martins a conseguir o avanço democrático que tem em mente.


Chapa branca aérea


Alberto Dines diz que o verdadeiro jornalismo chapa-branca é ignorar a dimensão da crise aérea brasileira.


Dines:


– Ao dar posse ontem ao jornalista Franklin Martins como ministro-secretário da Comunicação Social, o presidente Lula condenou o que ele chamou de jornalismo chapa-branca. Mas o que está acontecendo na cobertura da maior tragédia em céus brasileiros é algo muito pior do que o jornalismo oficial. Há seis meses ininterruptos, desde aquele fatídico 29 de Setembro, o governo tenta controlar o noticiário empurrando os desdobramentos do doloroso episódio para debaixo do tapete. Não se trata de manipulação jornalística, é manipulação política. Ontem, o macabro aniversário foi comemorado com dois eventos: um apagão aéreo em Manaus com todas as aparências de ter sido provocado por uma greve branca dos controladores de vôo e a decisão do STF que valida outra decisão. esta da Câmara Federal, de instalar uma CPI sobre o caos aéreo. É preciso não esquecer que o desastre ocorreu dois dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais e que, ao longo das semanas seguintes, o ministro da Defesa empenhou-se ativamente em jogar a culpa nos pilotos americanos, ignorando o sofrimento dos controladores de vôo de Brasília que conhecem o outro lado da tragédia. O presidente da República está certamente no auge da sua popularidade, as posses dos novos ministros são verdadeiros shows políticos, mas cada vôo comercial hoje no Brasil converteu-se em comício oposicionista. Ignorar esta realidade é um exemplo dramático do jornalismo chapa-branca.


Os métodos do governo


O senador Jarbas Vasconcelos criticou ontem os métodos de montagem do segundo governo Lula. As declarações do ministro Carlos Luppi sobre partilha de cargos, tão escandalosas, foram tratadas como algo natural. É mau sinal. O chefe da sucursal da Época em Brasília, Andrei Meireles, pede que a mídia fique atenta.


Andrei:


– Para que maioria? Para evitar CPI? Quais são os projetos, quais são as reformas? Você está construindo uma maioria sem idéias, sem objetivos, sem premissas. Acho que a mídia está sendo muito boazinha com tudo o que está acontecendo. Omissa, às vezes. Está registrando, mas não… Mas, também, precisa ver o seguinte: a mídia bate, bate e nada acontece. Esse é que é o problema, neste país. Essa coisa de formar maioria descamba às vezes para um mensalão. Você tem mil conseqüências disso. Os governos no mundo inteiro formam maioria? Tem que formar maioria, tem que dividir o espaço. Coisa boa é quando você tem um programa para isso. O PDT fez uma série de exigências para entrar no governo. Eles esqueceram todas as exigências deles agora. O PMDB, [tendo em vista] esse governo de coalizão, inventou uma carta, com não sei quantos princípios, meios genéricos, depois esqueceram e isso aí virou uma “brigaiada” pelos cargos.


Mauro:


– Andrei Meireles diz que a imprensa precisa dar prioridade aos focos tradicionais de corrupção.


Andrei:


– Ela tem que ficar no seu papel de ficar fiscalizando isso aí e cobrir com conseqüência. É muito na base do surto. Tem um caso, todo mundo vai, é o estouro da boiada. Mas [é preciso] cobrir o que está acontecendo. Está colocando gente lá, se não está observando eficiência, competência, o que essa pessoa vai fazer. Eu não sei se a gente tem mão-de-obra para tanta coisa, tantos cargos que tem por aí. Mas pelo menos nuns cargos com mais tradição de roubalheira, tinha que acompanhar mais de perto.


Política na segurança pública


A mídia não fez nenhum balanço da chamada megaoperação da Polícia Civil, há uma semana, e já se anuncia uma resposta política articulada pelas Polícias Militares. Está hoje na coluna de Ancelmo Gois.