Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Comunidades sequestradas
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Comunidades sequestradas

Detalhe inserido em uma reportagem da Folha de S.Paulo sobre as mortes de quatro pessoas da mesma família no deslizamento de um morro em Jundiaí, no interior paulista, dão uma idéia de quão longe da realidade do País anda a imprensa brasileira.

No relato sobre a tragédia, o repórter observa que o morro do Jardim São Camilo, onde ocorreu o deslizamento, é parcialmente controlado por traficantes.

Ele relata que, quando algum carro se aproximava do local, adolescentes e jovens se comunicavam por aparelhos de rádio nas ruas da favela.
 
Outra nota, publicada no Estado de S.Paulo, conta a história de uma família cuja casa foi invadida por traficantes, na Favela Portinari, em Diadema, na região metropolitana de São Paulo.

Enquanto os moradores ficavam trancados no quarto, os criminosos usavam a casa como ponto de venda de cocaína e maconha.

A família foi mantida refém durante uma semana inteira e era obrigada a cozinhar para seus carcereiros.

A notícia não explica como foram libertados, mas provavelmente a polícia foi alertada por vizinhos.
 
Paralelamente, os jornais destacam em grandes títulos a retomada das operações policiais e militares para resgatar comunidades do Rio de Janeiro do controle de criminosos.

Nesta sexta-feira, por exemplo, o Globo informa que a Unidade de Polícia Pacificadora será montada no bairro de Engenho Novo dentro de 30 dias e que agentes policiais rastreiam favela de Manguinhos em busca de fugiticos.
 
O que revelam as notas nos jornais paulistas e as notícias em destaque no Globo?
Revelam que a imprensa esconde uma realidade de São Paulo que é escancarada no Rio: que não se sabe quantas comunidades, nas cidades paulistas grandes, pequenas ou médias, encontram-se dominadas por bandos criminosos.

Sabe-se que na Grande São Paulo há integrantes de grupos criminosos atuando como vereadores e um deles conseguiu até mesmo se candidatar a deputado federal.

A falta de interesse em libertar essas comunidades da tirania de criminosos, revelada na omissão dos jornais, pode induzir o leitor a entender que não é a gravidade do fato social, mas sua possível repercussão, que move a imprensa.
 
Mesquinharia

Alberto Dines:

– A grande imprensa está se vingando dos raivosos ataques do então presidente Lula nos últimos dias do seu governo. Mas poderia ter escolhido temas mais relevantes para a desforra.
A Folha sapecou ontem em manchete da capa a concessão de passaporte especial para dois filhos do ex-presidente momentos antes de terminar o seu mandato. Ontem mesmo, o Jornal Nacional repercutiu a notícia em grande estilo com uma longa matéria de 3 minutos sobre o privilégio e onde o logotipo da Folha foi exibido com destaque. Parece até que as duas empresas fizeram as pazes tantas são as demonstrações publicas de apreço. Ontem também o Globo destacou na capa uma pretensa polêmica sobre as férias do ex-presidente num forte do Exército no Guarujá. Os juristas não viram qualquer ilegalidade já que o ministro da Defesa pode oferecer hospedagem a quem acha que mereça. A concessão de passaportes especiais aos filhos do ex-presidente, embora sem suporte jurídico porque são maiores de 21 anos, não chega a constituir infração. No país dos favores não é fato novo nem grave. Mais grave, afrontosa, foi a concessão do passaporte e cidadania italiana à Dona Marisa Letícia, mulher do ex-presidente em fevereiro de 2009. O caso repercutiu muito na Itália, inclusive junto à esquerda sempre muito ligada a Lula. Nossa mídia logo abafou o caso mesmo sabendo-se que pela lei um Presidente da República não pode estar casado com cidadã estrangeira ou com dupla nacionalidade. Agora que Lula está desempregado e, como confessou, não consegue desencarnar do cargo, o duplo ataque desferido cinco dias depois de entregar a faixa, soa como mesquinharia. Como se evidenciou, o ex-presidente perdeu a compostura algumas vezes nos últimos dois anos, na campanha eleitoral desrespeitou ritos e o decoro. Não obstante,  a mídia enfiou o rabo entre as pernas. Agora, enche-se de coragem. Perversa.