Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Eleição atropela
>>Dirceu no Observatório na TV

Eleição atropela


O tamanho do estrago feito pelo esquema do valerioduto começa a ficar mais definido nas CPIs. Ainda não voltou a andar a fila das cassações, mas a mídia já mergulhou no processo eleitoral de 2006, sem um marco balizador do que seriam plataformas capazes de responder à crise política brasileira. Para não falar em problemas econômicos e sociais.


Dirceu no Observatório na TV


O Alberto Dines anuncia a presença no Observatório da Imprensa na televisão, hoje à noite, do ex-ministro e ex-deputado José Dirceu para discutir o trabalho da mídia.


Dines:


– A última moda, o dernier cri nos bares e academias de ginástica é falar mal da imprensa. Gosto não se discute, mas é preciso tomar cuidado. No caso vale o ditado “ruim com ela, pior, muito pior, sem ela”. Estamos esquecendo que o primeiro passo para solapar a democracia começa com a desmoralização da imprensa. O resto desaba naturalmente. O governo e o partido do governo não gostam de uma certa imprensa. As direitas não gostam de outro tipo de imprensa. Neste confronto de interesses escusos quem perde é a instituição jornalística. Em outubro de 2002, logo depois da vitória do candidato Lula, o então presidente do PT, deputado eleito José Dirceu, disse no Roda Viva que a crise financeira que abalava a mídia era um assunto de interesse nacional. Prometia ajuda. Três anos depois, já não mais ministro nem deputado, José Dirceu tem outras idéias a respeito da imprensa. O que fez ele mudar de opinião? Só ele tem a resposta. Vamos ouvi-la hoje à noite no Observatório da Imprensa. Às dez e meia da noite na rede da TV-E e às onze na rede Cultura.


Mais visão de conjunto


O jornalista Wilson Figueiredo, durante muito tempo editorialista do Jornal do Brasil, cobra da imprensa uma cobertura mais articulada da crise do “mensalão”.


Figueiredo:


– A imprensa continua falhando, a meu ver, naquilo que é uma obrigação dela, que é fazer pequenas conclusões, acompanhando a leitura dos fatos. Até agora a imprensa lança as coisas e deixa por conta do ouvinte, do leitor. É pouco. Ela tem que fazer mais. Ela tem que ajudar a amarrar uma visão de conjunto do trabalho das CPIs. Nada disso pode ser perdido. E nada disso pode se prestar a dizer depois que foi frustração. Não foi. O que está faltando é só amarrar. Em todos os sentidos. As conclusões não podem se perder. Trata-se de amarrar uma fórmula que satisfaça eticamente a sociedade. A sociedade quer entender o que houve e a responsabilidade política disso. Não é a punição que é a responsabilidade política. Há uma execração cívica que é importante fazer.


Dilema de Lula


O presidente caminha sobre o fio da navalha. Ajustar a política econômica é uma coisa. Outra é ceder às pressões para detonar a estabilidade. O ciclo de reformas iniciado com a abertura da economia, no governo Collor, ainda está longe de ter colocado o país num patamar competitivo.


Números confusos


Miriam Leitão esboça hoje no Globo uma revisão crítica das fontes de informação sobre a economia brasileira. Mostra como os dados estão carregados de contradições e paradoxos. Uma pessoa de fora não entende nada. E quem está dentro também não consegue entender.


Na maior parte do tempo, a mídia trabalha no piloto automático. Publica números e retransmite percepções e sensações de economistas e instituições. Sem entender ou revelar quais interesses estão associados às opiniões. E sem questionar os métodos.



Futebol sitiado pelo crime


A mídia ainda não sabe como tratar a violência que contaminou o futebol no Brasil. É um fenômeno que se alastra há trinta anos sem uma resposta eficaz das autoridades policiais, dos clubes, dos governantes e, principalmente, do povo.


Não houve uma só idéia inovadora na imprensa nesse terreno. Os interesses econômicos e o espírito de rotina amarram a cobertura a uma estranha dicotomia. De um lado, sangue e choro. De outro, a comemoração da vitória ou do título. Tratados em momentos diferentes. Ou, nos jornais, em páginas separadas.


Sem mobilização de consciências a situação só pode se deteriorar ainda mais.



Atoleiro venezuelano


A Venezuela pode estar no início de um triste retorno. A denúncia da escandalosa corrupção foi um dos combustíveis que levaram o presidente Hugo Chávez ao poder. Nas eleições de domingo, entretanto, o governo e aliados ficaram com 100% Congresso, dados por 20% do eleitorado. Situação ideal para o espraiamento da corrupção. Que a mídia de lá não saberá combater.