Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Em busca da razão
>>A guerra civil midiática

Em busca da razão


Os jornais comentam nesta sexta-feira que o governo decidiu alterar a estratégia para o encontro da ONU sobre mudanças climáticas porque foi convencido de que a ex-ministra Marina Silva, relatora da Comissão de Meio Ambiente do Senado, iria propor transformar a manifestação de intenção para a redução de emissões de gases poluentes em compromisso legal e obrigatório.


A simples presença da senadora acreana entre os possíveis candidatos à sucessão do presidente Lula da Silva tem sido um elemento fundamental para que não apenas muitos políticos de repente se transformem em ecologistas, mas também se nota que a própria imprensa deixa de tratar a sustentabilidade como assunto marginal e se rende à evidência de que é na verdade o tema central em todos os debates atuais.


Em função desse fenômeno, o projeto de emenda à Política Nacional de Mudanças Climáticas já foi aprovado quinta-feira na Comissão de Infraestrutura do Senado e deve seguir sua tramitação sem sobressaltos, pois nem mesmo a bancada ruralista, seguramente o núcleo mais obscuro do Congresso, terá coragem de se opor ao compromisso.


A representação brasileira deve chegar a Copenhague, em dezembro, na condição de líder dos países em desenvolvimento e portadora de iniciativas concretas para a redução das emissões de gases do efeito estufa, conforme destaca o Globo em entrevista.


Trata-se de uma oportunidade histórica para o País, que também se destaca entre as nações que venceram mais rapidamente a crise financeira internacional.


Mais do que isso, porém, o tema sustentabilidade, que por enquanto ainda é tratado de forma simplista na questão ambiental, cria as condições para a superação de outros impasses.


O mais importante e perigoso deles é a radicalização política que impede uma relação civilizada entre o atual governo e a oposição, com marcante participação de uma imprensa claramente partidarizada.


A irracionalidade que tem sido característica da imprensa e das relações políticas no Brasil nos últimos anos pode dar lugar a um diálogo proveitoso, se as partes se conscientizarem de que há muito mais riqueza nos debates sobre desenvolvimento sustentável do que nas atuais querelas que movem as opiniões.


Mas a imprensa tem que se desarmar e ampliar sua visão para os grandes desafios e oportunidades que se abrem para o Brasil. 


A guerra civil midiática


Alberto Dines:


– O que impressiona no programa sobre a Venezuela exibido pelo “Observatório da Imprensa” (terça, 17/11) é, em primeiro lugar, a intensidade da polarização em torno da mídia. Mentes lúcidas, racionais, extremamente sofisticadas, não conseguem esconder o dramático impasse. Independente das posições, pró ou contra Hugo Chávez, todos  os venezuelanos ouvidos concordam num ponto: não existe possibilidade de diálogo.


Já não existe necessidade de se fazer um bom jornalismo porque na Venezuela ninguém quer jornalismo, todos querem propaganda. No entanto, este quadro pré-ruptura não consegue motivar a mídia latino-americana e internacional. Somos obrigados a reconhecer que a cobertura desta guerra midiática na Venezuela esta igualmente intoxicada pelos ressentimentos e preconceitos que correm fora dela.


Surge então a grande questão: porque razão os grandes veículos, brasileiros e estrangeiros, não conseguem aquele mínimo de equilíbrio para reproduzir ao menos o inexorável caminhar para o confronto?  Será tão difícil reunir e comparar opiniões divergentes, sem tomar partido?


Já que no interior da sociedade venezuelana os ânimos estão tão exaltados, fora dela, em outros contextos e continentes, não seria possível repetir a experiência do “Observatório da Imprensa” com mais recursos e para audiências maiores? Falta disposição, falta senso de urgência ou simplesmente falta solidariedade?


A verdade é que ser solidário com a Venezuela, neste momento, significa não tomar partido algum e, assim, escapar da terrível compulsão maniqueísta. A terceira via nada tem de escapista, ao contrário, é a única alternativa capaz de mostrar aos beligerantes que existem outras dinâmicas além da confrontação. Não adianta convocar a OEA, a UNESCO, a ONU ou o Tribunal de Haia. É preciso convocar a própria mídia internacional para exibir o seu poder de persuasão. E se este potencial já está esgotado teremos que admitir que o jornalismo já não faz sentido.