Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Em busca do consenso
>>Aprendendo com a crise


Em busca do consenso


O noticiário econômico de hoje traz duas novidades em relação à crise financeira mundial.


A primeira delas é o fato inédito de que alguns dos principais bancos centrais do mundo tomaram a decisão conjunta de baixar os juros, para tentar conter a expansão da crise.


A medida é relevante, porque indica o reconhecimento de que toda a humanidade pode ser atingida pelos efeitos da turbulência, e que uma ação solidária pode ter resultados melhores do que as atitudes isoladas que vinham sendo tomadas até então.



A segunda novidade é o ingresso do Brasil no grupo dos países que lideram a reação contra a crise.


A conversação entre os presidentes George Bush e Lula da Silva, cujo teor é divulgado hoje pelos jornais, consolida o fato de que o Brasil se tornou um interlocutor importante no cenário internacional.


A pedido dos Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou o G-20 Financeiro, o grupo das vinte economias avançadas e emergentes do mundo, para ampliar a ação global contra a crise.


Mantega preside o G-20 Financeiro, no sistema de rodízio entre os países participantes. 


A primeira notícia dá conta de que, em meio a todas as turbulências, sobrou bom senso para as autoridades dos países líderes buscarem uma direção comum.


Até a véspera, o que a imprensa divulgava eram medidas isoladas, com cada país tentando aliviar seu quinhão de perdas.


Apesar de os jornais impressos ainda trazerem notícias negativas, os sites noticiosos já informavam nesta manhã que os mercados asiáticos, os primeiros a abrir, apresentavam sinais de estabilidade.


Os especialistas ainda prevêem a ocorrência de muitas oscilações, mas a tendência é que a confiança comece a substituir o pânico. 


A outra notícia revela que os países ricos entenderam a necessidade de buscar um consenso na solução da crise, de uma forma ampla que inclua os países emergentes.


Essa é, realmente, uma novidade importante no cenário da globalização, e tende a estabelecer um novo patamar nas relações multilaterais.


Aprendendo com a crise


Embora o título dado pelo jornal O Globo – “Mundo se une contra a crise” – possa ser considerado exagerado do ponto de vista do otimismo, o noticiário de hoje marca uma virada na forma como a turbulência vinha sendo atacada.


A imprensa internacional também destaca os elementos dessa nova postura, que indica o convencimento geral de que, sem uma ação ampla e multinacional, a persistência de pontos vulneráveis em economias locais pode afetar o todo da economia global. 


Outra evolução registrada pela imprensa é a decisão de diferenciar os setores que precisam ser socorridos daqueles que devem simplesmente arcar com suas responsabilidades na ciranda de especulações.


No Brasil, assim como em outros países, os “lobbies” se movimentaram para garantir o socorro amplo e indiscriminado, mas em todos os jornais aparecem restrições a medidas igualitárias.


Afinal, não podem ser colocados no mesmo pacote aqueles que ganharam inflando a bolha e os setores que sofrem as conseqüências sem terem sido favorecidos pela festa da especulação.


A sinalização é importante também para dar algum alento à indústria e aos agronegócios, que dependem ciclicamente de financiamentos e de acesso aos capitais negociados nas bolsas de valores.


Em situação de pânico, mesmo setores que enfrentam dificuldades normais no ambiente de negócios tendem a engrossar a bola de neve, o que pode levar a situações impossíveis de administrar. 


Parece claro, pelo noticiário de hoje, que as autoridades monetárias começam a olhar também para o futuro das relações entre os países ricos e os emergentes.


A crise pode, afinal, estar quebrando a arrogância dos países desenvolvidos  e abrindo espaço para negociações mais equânimes.


Os  jornais de hoje indicam que a rodada de Doha pode ser retomada em um padrão de maior tolerância.


Não foi à toa que o presidente do Brasil introduziu, em sua conversa com o presidente dos Estados Unidos, um pedido para que ele se esforce para que as negociações sejam retomadas.


Depois que a tormenta passar, é possível que o mundo amanheça um pouco mais solidário.