Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Enredo maroto
>>PCC muda o olhar

Enredo maroto


A lógica do processo eleitoral retomou seu curso nas declarações do presidente Lula em apoio ao governador de São Paulo, Claudio Lembo. Algumas pessoas se exaltam com o que seria uma exploração politiqueira de tantas mortes, violência, medo e prejuízos. É verdade que o teatro político tem um enredo maroto hoje no Brasil. Ao mesmo tempo, o processo eleitoral é um ritual estruturador do regime democrático.


São Paulo Sem Medo


Em 1997, em parceria com o Núcleo de Estudos sobre a Violência da USP, a Rede Globo promoveu um seminário chamado São Paulo Sem Medo. Dele nasceu o Instituto São Paulo contra a Violência, que no ano 2000 criaria o Disque Denúncia, responsável pela prestação de serviços relevantes.


No atual noticiário sobre criminalidade, o São Paulo sem Medo foi inteiramente esquecido. Assim como não se fez praticamente referência a outro episódio, infinitamente maior e bem mais recente: o referendo sobre a venda de armas de fogo, realizado há sete meses.


PCC muda o olhar


Alberto Dines saúda o mergulho dos jornais paulistas no noticiário local. Espera-se que não seja apenas um espasmo.


Dines:


– Desde ontem a Folha está de cara nova para enfrentar o visual do Estadão implantado no ano passado. Para diminuir o impacto das mudanças fisionômicas no concorrente, o Estadão lançou uma campanha de anúncios para mostrar a sua extrema modernidade. Já a Folha matou dois coelhos com uma só cajadada: fez a plástica e gastou uma nota na TV para badalar o seu novo look. Porém, a mudança mais importante aconteceu por acaso, à revelia dos marqueteiros: a inesperada onda de violência obrigou os dois jornalões paulistanos a mudar drasticamente de conduta no tocante ao noticiário local. E mudou para melhor. Os cadernos Metrópole do Estadão e Cotidiano da Folha de repente abandonaram as irrelevâncias e o noticiário policial (em geral voltado para o que acontecia no Rio), foi dramaticamente redirecionado para São Paulo. Muitas tragédias poderiam ter sido evitadas se os cadernos de noticiário local dos diários paulistas tivessem prestado mais atenção ao que acontecia nos subterrâneos da cidade em vez de seguir as imposições para atrair o chamado “leitor jovem”. Marcola mudou tudo: a cobertura policial foi reforçada, os cadernos locais ganharam peso e a violência que se procurava esconder apareceu sem retoques. O leitor ganhou do marketing. E os jornais ficaram mais próximos da verdade.



Ainda não é a virada


Foi importante a participação popular na Virada Cultural, exaltada hoje na primeira página do Estadão, mas a opinião pública ficará mal informada se forem ignorados dois fenômenos. Primeiro, que as atividades culturais foram suspensas em alguns bairros pobres da cidade, devido a riscos para a segurança dos eventos. Segundo, que na periferia da cidade jovens sem entusiasmo pelo PCC comemoraram os ataques de criminosos à polícia. Há lugares em que vigora um toque de recolher informal, por medo não de bandidos, mas de policiais.


Aliados linha-dura


Para entender melhor a conexão entre políticas de segurança que privilegiam o emprego da força, como a realizada pelo governo de São Paulo nos últimos anos, segundo dados publicados hoje no jornal Valor, com o mundo político propriamente dito, seria conveniente estudar as coligações feitas nas eleições de 2002. A vitória de Geraldo Alckmin contra José Genoíno foi garantida por uma transferência preferencial para Alckmin dos votos obtidos por Paulo Maluf no primeiro turno.


O deputado estadual mais votado do partido de Maluf foi o ex-capitão da Polícia Militar Roberval Conte Lopes.


Amizades de Dantas


A revista Veja usou como fonte o banqueiro Daniel Dantas. Depois resolveu encaminhar ao procurador geral da República documentos recebidos de Dantas. O noticiário menciona insatisfação da Polícia Federal diante do encontro do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, com o banqueiro Dantas na casa do senador Heráclito Fortes, em Brasília, na semana passada. Até o momento, o que se confirma no noticiário é uma interlocução de Dantas com alas do PT e do governo.


Avaliar a Bolívia com lucidez


Os jornais noticiam hoje a chegada do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a La Paz. Na semana passada, o vice-presidente da Bolívia, Alvaro Garcia Linera, disse em entrevista coletiva a jornalistas brasileiros que o Brasil é mais importante para seu país do que a Venezuela.


Linera é o principal e mais habilidoso formulador de políticas do governo boliviano. A cobertura da imprensa brasileira precisa se afastar das patriotadas e olhar os processos com mais lucidez, sem deixar de criticar as trapalhadas cometidos pela diplomacia brasileira.


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