Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

>>Entrevista: O livro das vidas
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Entrevista: O livro das vidas

O jornalista Matinas Suzuki é o organizador do Livro das Vidas, que analisa uma tradição da melhor imprensa mundial, os necrológios.

Nós iniciamos hoje uma conversa com Matinas sobre esse trabalho, que acaba de ser publicado pela editora Companhia das Letras.

Luciano Martins: – Matinas, de onde surgiu essa idéia de, digamos, desenterrar o jornalismo de necrologia?

Matinas Suzuki Jr.: – A coleção Jornalismo Literário costuma lançar dois livros por ano. E nós ficamos procurando textos jornalístico que sejam bem escritos. E como os obituários são, sem dúvida, na imprensa diária, os textos mais bem escritos, eles estão muito próximos do melhor texto do jornalismo literário, especialmente, por exemplo, os obituários de um grande obituarista do New York Times chamado Robert McG. Os McGs são uma espécie de clássico do obituário. Ele morreu muito cedo; na verdade, escreveu pouco mais que quatrocentos obituários pra o New York Times. Mas os obituários, os McGs  estão muito próximos de uma crônica, eles chegam às vezes a lembrar Rubem Braga, chegam a lembrar as melhores crônicas que a gente tem no Brasil. Tem tudo a ver com a coleção Jornalismo Literário, então foi essa uma das idéias, foi fazer esse livro na coleção jornalismo literário.


Luciano Martins: – Talvez seja um ponto em que a expressão jornalismo literário caiba bem, não é? Porque se trata de literatura pela qualidade do texto e é jornalismo também, porque, para se fazer o texto do obituário perfeito é preciso que se faça uma reportagem muito boa sobre a vida do retratado, não?


Matinas Suzuki Jr.: – É, exatamente. Não se faz um bom obituário sem os fatos da vida da pessoa. E esse fato implica, vamos dizer assim, naquele “bater-pé”: tem que ir atrás, fazer entrevistas, ler as biografias – se tiver biografia –, entrevistar parentes, entrevistar amigos, essa coisa toda e, muitas vezes, no caso do New York Times, entrevistar o próprio obituariado, quando há tempo, quando se pega em vida. Esse é um caso clássico. A partir dos anos sessenta, o New York Times começou a entrevistar os próprios candidatos a um obituário para checar fatos nebulosos sobre a vida dele. Isso é o exemplo máximo do jornalismo, de procurar precisão jornalística, a meu ver. Havia dúvidas sobre alguns fatos na vida de algumas pessoas, então eles foram a essas pessoas para checar os fatos, para que o obituário fosse o mais preciso possível.


Luciano Martins: – Na sua opinião, por que é que a imprensa brasileira não lida bem com esse tema?


Matinas Suzuki Jr.: – A cultura brasileira não lida bem. Na nossa tradição católica e latina, a morte é viva como silêncio e como dor. Você pode ter a dor da perda, mas isso não impede que você possa também celebrar os fatos importantes relacionados à vida de uma pessoa.


Luciano Martins: – Obrigado Matinas. Na edição de amanhã seguimos conversando com Matinas Suzuki, coordenador do Livro das Vidas, lançamento recente da Companhia das Letras.


O caso dos cartões

O leitor tem recebido muitas informações, todos os dias, sobre  o caso do mau uso de cartões corpoirativos por parte do governo.

Mas será que a imprensa está fazendo um bom trabalho?

Alberto Dines:

– Enquanto governo e oposição se engalfinham por conta das investigações sobre a farra dos cartões corporativos, qual deve ser o papel da imprensa ? Estimular a briga política ou a estimular uma devassa imediata?  O cidadão evidentemente está interessado em punir os prevaricadores, mas antes de tudo, quer fechar as torneiras por onde escorre o dinheiro dos seus impostos. A queda de braço entre as principais forças políticas vende jornal, aumenta as audiências, mas este tipo de disputa  não resolve problemas imediatos, deverá continuar certamente até as próximas eleições. Além de fazer barulho, cabe à imprensa investigar. Enquanto o governo federal e o estado de S. Paulo tomam providências para acabar com os abusos, cabe à imprensa descobrir como está a situação no âmbito do Judiciário, do  Ministério Público e dos serviços administrativos do Legislativo. Há outras questões que merecem ser apuradas, uma delas crucial – como foi a escolha da administradora dos cartões, houve licitação? A imprensa não pode perder esta oportunidade para mostrar sua autonomia, sua capacidade investigativa e sua importância como poder fiscalizador. A farra dos cartões foi descoberta pela imprensa e não pelos políticos, cabe à imprensa ir adiante.