Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Explicar a economia
>>Joga pedra na Geni

Explicar a economia


A economia é cada vez mais claramente o foco de atenção da opinião pública, o que revela certo amadurecimento do país.


Infelizmente, os interesses não aparecem crus, mas travestidos. A imprensa tem a tarefa de decodificar as manifestações, todas enroladas na bandeira do patriotismo e da defesa da justiça social.


Acaba de sair um prognóstico para a economia em 2006 assinado pela editora de economia da revista The Economist, Pam Woodall. Ela diz que a natureza excepcional da economia mundial nos dois últimos anos é surpreendente. Segundo Woodall, é a bolha imobiliária em países ricos que tem financiado as despesas com o aumento do petróleo, e essa bolha já começa a pipocar.


Nenhuma atenção ao debate sobre os rumos da economia brasileira será exagerada nesta entrada de ano eleitoral. O desafio é traduzir claramente os problemas e as propostas.



Joga pedra na Geni


O Alberto Dines nota que existe uma tendência a descarregar na imprensa uma parte dos conflitos políticos que se acentuam, enquanto ocorrem agressões específicas ao direito de informar.


Dines:


– A imprensa está virando uma espécie de Geni. Todos estão querendo jogar pedras nela. O governo e o partido do governo há seis meses culpam jornais e jornalistas por infrações que eles próprios já admitiram. A direita, através de Veja, denuncia histericamente a infiltração lulista na mídia. Agora aparece o juiz Sílvio Luís Ferreira da Rocha, da 5ª Vara Federal Criminal de S.Paulo para proibir que a Folha e a Folha Online publiquem qualquer coisa sobre as denúncias de espionagem realizadas pela empresa Kroll. E, como se não bastasse, aparece o incrível caso da autorização legal para grampear as ligações telefônicas do mais importante grupo jornalístico do Espírito Santo. Neste ambiente tenso o presidente da República teve a infeliz idéia de acusar a oposição de praticar o mesmo golpismo dos adversários de Hugo Chávez na Venezuela. É evidente que o grampo no jornal de Vitória e a censura prévia imposta à Folha são episódios autônomos. Mas também é evidente que a continuada pregação do governo contra a imprensa pode abrir caminho para uma temporada de intimidação muito mais grave.


Juiz não censura Google


Nesta segunda-feira, 12 de dezembro, a Folha anuncia em editorial que vai recorrer em juízo da medida. A mudança tecnológica afeta esse tipo de decisão judicial. Agora de manhã, uma pesquisa no site de buscas Google com as expressões Kroll e “Brasil Telecom” trouxe 10.800 ocorrências, das quais muitas na Folha Online. Não deixa de ser intrigante que só a Folha tenha sido censurada. Logo na primeira página da pesquisa aparecem notícias do Estadão, do Yahoo, da agência da Câmara dos Deputados, da Radiobrás, entre outras fontes.


O juiz não tem poder para tirar dos servidores do Google, na Califórnia, as páginas que estão arquivadas. Em outras palavras: para quem tem um mínimo de treinamento na internet, não há dificuldade de acesso às notícias vetadas.


A grife Daspu


Há muito tempo não se via na imprensa nada tão sábio quanto a página dedicada ontem na Folha pela coluna de Mônica Bergamo à grife carioca Daspu. Com uma só cajadada, Mônica acertou preconceitos e delírios consumistas das altas rodas. Com um subtexto de preciosa auto-ironia.


Cocaleiros da América


As conseqüências de uma vitória do líder cocaleiro Evo Morales, do Movimento ao Socialismo, na Bolívia, no domingo que vem, ultrapassarão muito as fronteiras nacionais, constata reportagem publicada hoje pelo jornal espanhol El País.


A vitória de Morales poderia, segundo o El País, estender o modelo venezuelano de Hugo Chávez – ataques ao neo-liberalismo e aos Estados Unidos, defesa do nacionalismo – ao altiplano boliviano, e daí para outras regiões onde se planta coca na Colômbia, no Peru, no Equador e no Chile, além da própria Venezuela.


O jornalista do El País mostra que a política americana de erradicação das plantações de coca não funciona. No país em que foi mais longe nos últimos cinco anos, a Colômbia, houve redução de plantio de 7%, mas se trata apenas de um deslocamento, porque ao mesmo tempo houve aumento de 17% na Bolívia e de 14% no Peru.


De volta à Bolívia, é preciso ter em conta que Evo Morales é a face moderada dos cocaleiros. O líder radical, informa El País, é Felipe Quispe, um ex-guerrilheiro que hoje dirige o Movimento Indigenista Pachakuti. Esse nem aceita acordo com as autoridades bolivianas. Propõe a secessão e a autodeterminação dos indígenas numa república independente.