Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

>>A bancada dos negócios
>>Fichas sujas

A bancada dos negócios

A investigação sobre a quadrilha que fraudava licitações de obras do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, revela que os operadores da bandidagem no Congresso Nacional são parlamentares de pouca expressão, integrantes daquele grupo que a imprensa chama de ‘baixo clero’.

Politicamente inexpressivos, incapazes de brilhar frente às câmaras de televisão ou diante do microfone, eles funcionam como massa de manobra no plenário, mas é nos bastidores que exercem a pequenez de seus mandatos.

Todos os jornais destacam que o esquema de fraudes, pelo qual deputados federais conseguiam verbas para obras em troca de uma comissão de dez por cento, alcança pelo menos 119 municípios, mas a Polícia Federal investiga 268 contratos.

O esquema se espalhou por vários Estados, mas as evidências se concentram em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Goiás, Tocantins e Distrito Federal.

Segundo a Folha de S.Paulo, o esquema foi detectado pela primeira vez em Minas, no final do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O grande volume de obras do PAC, criado neste governo, teria dado oportunidade para os parlamentares e seus sócios aumentarem o volume de seus ‘negócios’.

Os jornais não avançam na pista deixada pela Polícia Federal, que revela a participação de um número maior de parlamentares no esquema.

Quem organiza e dirige o sistema de fraudes, segundo o noticiário de hoje, são dois deputados pouco expressivos, mas seus lucros podem estar sendo distribuídos a gente de maior expressão na política.

No esquema que os deputados chamam de ‘rachadinha’, os autores de emendas dividem a comissão com parlamentares que apóiam seus pedidos de verbas mas não precisam aparecer para defender a aprovação dos projetos.

A fraude envolve provavelmente os prefeitos das cidades investigadas, uma vez que eles são os autores dos pedidos originais de obras.

Muitos dos envolvidos são candidatos nas próximas eleições municipais.

Está aí mais uma boa razão para a Justiça Eleitoral deixar a imprensa trabalhar e cuidar de bloquear os candidatos com antecedentes não recomendáveis.

Fichas sujas

Por causa da programação do Arraial Brasil, que está no ar desde ontem pela TV Brasil, o Observatório na TV não será apresenado hoje.

Voltaremos na próxima terça-feira no mesmo horário, 22h40, ao vivo.

Na edição passada, o Observatório tratou do problema de candidatos com fichas sujas, que, por critério do Tribunal Superior Eleitoral, não podem ter seu registro negado enquanto não forem condenados em última instância.

Pelo que noticia hoje o Estado de S.Paulo, os partidos políticos vão tomar a iniciativa de negar candidatura a postulantes que não preencham certos requisitos de confiabilidade.

Trata-se, na verdade, de uma atitude defensiva dos partidos, que temem aparecer na lista de candidaturas suspeitas que será publicada pela Associação dos Magistrados Brasileiros.

Mas também pode-se imaginar que as quadrilhas que já chegaram ao poder  não desejam mais concorrência.

Afinal, como revelam as investigações sobre as fraudes no PAC e outros tantos casos de corrupção envolvendo prefeitos e parlamentares, o butim pode estar ficando pequeno para tantos empreendedores de verbas públicas.

Os grandes partidos preferiram tomar medidas internas de controle mais rigoroso do que aderir ao compromisso proposto pelo Movimento Voto Consciente, que defende uma declaração pública e oficial dos partidos de que irão impedir candidaturas de cidadãos que estão sendo processados por crimes ou irregularidades administrativas.

Na maioria dos casos, os partidos criaram processos informais para negar a candidatura a políticos que tenham renunciado a mandato para escapar da cassação.

Também deverão ser vetados os candidatos que foram acusados e receberam denúncia judicial por crimes contra a fé pública ou a economia popular, tráfico de drogas, crimes dolosos contra a vida ou que tenham sofrido condenação em qualquer instância por improbidade administrativa.

Não é muito, mas já é alguma coisa.

Muito provavelmente, esse movimento defensivo dos partidos deve ter alguma coisa a ver com a atenção que a imprensa deu ao problema nas últimas semanas.

A campanha nos municípios começa a esquentar no mês que vem

A imprensa vai prestar um bom serviço se não deixar tudo nas mãos dos partidos e da Justiça Eleitoral.