Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

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A imprensa e os novos pecados

Os jornais brasileiros publicaram como curiosidade a notícia sobre os novos pecados anunciados pelo Vaticano, mas não deixaram de procurar esclarecer o leitor sobre o significado das novas preocupações da mais influente igreja cristã.

Dos grandes diários, apenas o Globo limitou-se ao aspecto mais visível do documento da igreja, aquele que se refere aos pecados contra o meio ambiente.

O Estado de S.Paulo e a Folha deram mais atenção ao tema, ouvindo teólogos e procurando explicar a tentativa de atualização das autoridades religiosas.

Ainda assim, permanece na leitura um tom de distanciamento, como se a igreja estivesse apartada do mundo real.

Basicamente, a manifestação da hierarquia católica se refere a comportamentos sociais que, no ambiente globalizado, têm conseqüências mais amplas, como o tráfico de drogas, a desigualdade social e ações antiecológicas.

A manipulação genética, também citada pelas autoridades eclesiásticas, entra no rol dos pecados ‘como o Pilatos no credo’: trata-se de um marco histórico da manifestação da Igreja, uma vez que tanto a destruição do meio ambiente como a cultura das drogas estão aí há muito tempo, mas a pesquisa genética com embriões é uma prática científica do século XXI.

Quanto à acumulação exagerada de riquezas, que agrava a desigualdade social, também incluída no rol dos novos pecados, espera-se que os jornais ouçam também o outro lado, ou seja, que dêem a oportunidade da penitência a bilionários como Warren Buffett, Carlos Heluf, Bill Gates e Eike Batista.

Eles devem estar preocupadíssimos com o fogo do inferno.

O Estadão faz questão de esclarecer que a nova lista do Vaticano não exime os católicos da obediência às outras restrições.

Assim, o leitor e ouvinte fica advertido de que ainda são pecados capitais a gula, a luxúria, a avareza, a ira, a soberba, a inveja, e a preguiça.

Apesar de essas práticas parecerem hoje em dia bastante comuns, ainda são consideradas desvios ou ‘ofensas a Deus’ porque, segundo explica o jornal, ‘ferem a natureza do homem e atentam contra a solidariedade humana’.



Foi um fato raro, mas apenas a Folha noticiou que o representante da igreja se referiu também a outro desvio que se agrava com a globalização e o crescimento da internet: a pedofilia.

Hoje na televisão

A divulgação, pelas autoridades da igreja católica, daquilo que o Vaticano considera como os novos pecados sociais, pega a imprensa brasileira envolvida nos debates sobre a nova lei da Biossegurança, contra a qual os religiosos mobilizam suas forças de convencimento.

Mas o noticiário se desviou do tema central para dar espaço a discussões entre duas visões de mundo que durante toda a história da humanidade andam em linhas paralelas: a fé e a ciência.

A imprensa se distanciou recentemente do jornalismo científico e colocou a questão da pesquisa com células-tronco de embriões no noticiário político.

Discute-se, afinal, se o Congreso vai legislar de acordo com a ciência ou sob os limites da religião.

Alberto Dines:

– O debate é sério, travado com civilidade como convém, mas não se pode esquecer que a discussão sobre o uso científico das células-tronco embrionárias nada tem de científico. Trata-se, na verdade, de um confronto entre dogmas religiosos e a busca da verdade. Em última análise é um debate sobre liberdade e repressão. Este será o assunto desta noite do ‘Observatório da Imprensa’ com a presença de cientistas, representantes do governo, jornalistas especializados na cobertura científica e o ex-Procurador Geral da República, Cláudio Fonteles autor da ação de inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança. Hoje à noite, às 22:40, ao vivo pela TV-Cultura e pela TV Brasil.