Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Caiu a CPMF
>>Lula, o popular

Caiu a CPMF



Os jornais não conseguiram disfarçar o contentamento com a queda da CPMF.



A batalha do Senado, vencida pela oposição, vai significar mudanças importantes na política econômica do governo federal, que vinha navegando em céu de brigadeiro.



Mas deve representar também um custo pesado para governadores e prefeitos, muitos dos quais filiados aos partidos que conduziram a votação.


 


A oposição tem todo o direito de votar como entender melhor todas as matérias levadas ao plenário do Congresso.



A independência em relação ao dono eventual do poder Executivo é um dos fundamentos da democracia.



Para isso, leva em conta seus interesses no Parlamento e em cada unidade executiva que tem sob seu comando.



No caso do PSDB, devem ter sido ponderadas as perdas que o fim da CPMF representam para os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde pontificam destacados representantes do partido.



O que o leitor deve estranhar é o evidente alinhamento dos jornais com uma das partes.



Os interesses dos partidos vêm e vão, mas as escolhas da imprensa criam compromissos com seu público.


 


Criada em 1996 como um tributo provisório, a CPMF já havia sido prorrogada três vezes, e em nenhuma delas a batalha pela votação tinha sido levada a extremos.



A derrota do governo marca o fracasso do estilo do presidente Lula, de compor suas forças à custa de barganhas.



Sobram recursos no cofre da União, como destacaram líderes da oposição citados por todos os grandes jornais.


 


Não se sabe se o presidente Lula tem disposição para encarar uma mudança em seu estilo de governar.



Derrotado, pode ser que venhamos a testemunhar o fim da era do Lulinha paz e amor.



Com os cofres cheios e navegando em altos índices de popularidade, é provável que Lula passe a governar sem o Congresso, na base das medidas provisórias.



Se esse for o cenário que se seguirá à votação de ontem no Senado, a política pode se tornar um palco muito interessante para os observadores.



No ano que vem teremos eleições municipais.



A derrota pode afiar as garras de Lula e motivá-lo a testar seu potencial de cabo eleitoral para a sucessão presidencial de 2010.




 


Lula, o popular



O presidente sofre sua maior derrota diante do Congresso no momento em que os jornais noticiam um importante crescimento nos indicadores de popularidade de seu governo.



A pesquisa feita pelo Ibope por encomenda da Confederação Nacional da Indústria mostra que neste mês de dezembro 51% dos entrevistados consideram o governo ótimo ou bom, contra 48% que o avaliavam positivamente em setembro.


 


Os jornais destacam entre os principais fatores da popularidade do presidente a estabilidade e o crescimento da economia, a percepção da população de que a vida melhorou nos últimos dois anos e a sensação de que o noticiário é favorável ao governo.



Outro aspecto interessante destacado pela mídia é o crescimento da avaliação favorável de Lula entre os mais jovens, aparentemente beneficiados pelo aumento da oferta de empregos.


 


Considerando-se que a mídia, de modo geral, não pode ser apontada como correligionária do Executivo, sobram questionamentos nessa análise.



De fato, quem acompanha o noticiário sabe que o governo federal tem sido atacado preferencialmente pela imprensa em praticamente todos os eventos mais relevantes.





Desde os problemas no setor de aviação civil, que tiveram sua culminância no acidente com o Airbus da TAM em Congonhas – quando o governo foi responsabilizado pela mídia, até o longo processo contra o ex-presidente do Senado Renan Calheiros, quando a bancada governista foi acusada de proteger o denunciado, o presidente Lula foi colocado no centro de quase todos os episódios negativos.


 


Nessas circunstâncias, a persistência e o crescimento das avaliações positivas do seu governo revelam que, ou ele de fato está conduzindo bem suas tarefas, ou a opinião pública decidiu caminhar na contramão do que aponta a opinião da imprensa.



Em qualquer das duas possibilidades, a situação da imprensa não fica muito confortável.


 


A popularidade de Lula contrasta claramente com o que dizem dele os jornais, não apenas nas escolhas de títulos para as reportagens, mas principalmente na seleção de articulistas e nos editoriais.



Muito provavelmente, a repercussão da pesquisa Ibope-CNI vai estimular nos próximos dias os boatos sobre um eventual terceiro mandato do atual presidente.



Mesmo com todos os desmentidos.