Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Calheiros e Veja
>>Dilemas venezuelanos

Governo, mídia e USP
 
Se tivesse planejado, o governo de José Serra não teria conseguido errar tanto como nesta crise que se espalhou da USP para outras universidades. A partir de um movimento que não discute rumos do ensino superior e proíbe a presença da mídia. A mídia, por sinal, agiu como espelho do governo ao ignorar o quadro da universidade, agora descoberta como caso de polícia.


Calheiros e Veja
 
O Alberto Dines pergunta o que trará a Veja desta semana sobre Renan Calheiros. Fala, Dines.


Dines:
 
– Já deve estar pronta a edição da Veja que circulará amanhã. Pode ser uma edição histórica: ou condena o presidente do Senado, Renan Calheiros, ou condena-se ao descrédito. Não há alternativas. Além de oferecer um mínimo de provas ou, pelo menos, evidências para sustentar a acusação da semana passada sobre as supostas relações do senador com a empreiteira Mendes Júnior, a revista faria muito bem se escapasse da esfera do escândalo e das demandas que sucedem romances mal-sucedidos. Por enquanto, as acusações ao senador alagoano partem apenas do advogado da sua ex-namorada, evidentemente insatisfeita com os valores estipulados pela justiça para a pensão alimentícia da filha de ambos. Por conta de uma nova bomba, o senador Renan Calheiros, cancelou a sua viagem a Londres para assistir ao amistoso  Brasil-Inglaterra em Wembley ao lado do presidente Lula. Quer estar aqui para rebater na hora: neste aspecto, o comportamento do senador está sendo correto, não se omite. Resta saber se aquilo que o senador Renan Calheiros designou como “calvário” acaba amanhã  ou se este calvário vai transferir-se para  Veja e contaminar a credibilidade da mídia como instituição.
 
Mauro:
 
– Esse foi Alberto Dines. Hoje a jornalista Mônica Veloso diz na Folha que ouviu muita coisa ao longo de três anos com Renan Calheiros. Eu sou Mauro Malin. Você ouve o Observatório da Imprensa, um programa da Rádio Cultura FM de São Paulo.


Dilemas venezuelanos
 
O jornalista venezuelano Boris Muñoz foi contra a atitude da RCTV no golpe de 2002 e contra seu fechamento pelo presidente Hugo Chávez. Ele falou ontem à noite de Caracas.
 
Boris:
 
– O que vemos nas ruas de Caracas e outras partes e lugares do país é uma reação a uma medida muito arbitrária do governo. Nós temos um governo que costuma tomar medidas arbitrárias e unilaterais, e algumas dessas medidas receberam uma reação muito contundente e espontânea da sociedade. Não é algo organizado, mas que surgiu a partir da indignação que sentem as pessoas comuns ao ver o espaço democrático, do debate, da liberdade de expressão, encurtar-se. Ao fechar-se Rádio Caracas Televisión não apenas se está fechando um canal tradicional, com 53 anos e com alta sintonia. Como jornalista, não estou de acordo com a linha editorial e com a atitude que teve a RCTV diante da sociedade venezuelana em outros momentos, como em abril de 2002, quando participou, ao menos indiretamente, no golpe de Estado, ao provocar um silêncio midiático. Muita gente não compartilha essa política, mas ao fechar a RCTV, que é um meio dissidente, se está tirando do jogo político um ator muito importante e se está limitando a possibilidade de expressão de um grupo muito numeroso de venezuelanos.
 
Mauro:
 
– Boris Muñoz fala do que pode acontecer agora.
 
Boris:
 
– Creio que as manifestações demonstraram um grande descontentamento entre a nova geração sobre o manejo da política e o rumo do governo na Venezuela. E isso já é uma vitória na batalha midiática e na batalha política que se desenvolve na Venezuela. Ao lado disso, é preciso perguntar quais são os cenários vindouros.
 
Um cenário seria quase impossível de prever: que o governo se abra ao diálogo. Esse é o cenário mais desejável. Porque os estudantes, ao protestar, não estamos querendo que o governo caia, que Chávez saia do governo. Estão pedindo mais liberdade, estão pedindo mais diálogo.
 
Agora, claro, o governo tende, como de outras vezes, para uma estratégia de desgaste, de erosão do movimento. De modo que, se se prolongar, o governo vai, no final, deixar que o movimento morra, por sua própria falta de força. Tenho muito claro que, se o governo sentir que o fechamento da RCTV foi uma vitória política para ele, vai endurecer muito mais o regime. Então vamos nos aproximar perigosamente de um regime de opressão, no estilo clássico latino-americano, com estratégias um pouco mais sofisticadas, estratégias legais e estratégias midiáticas de imposição de um poder totalitário, absolutista, nas mãos de Chávez.
 
Mauro:
 
– Leia em nosso site a entrevista de Boris Muñoz.


Só repressão, não
 
O Globo descobre hoje em editorial que só repressão não resolve a situação das favelas dominadas pelo tráfico. Demorou.
 
No Estadão, a informação de que a máfia dos jogos pagava um milhão de reais por mês à polícia no Rio.


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