Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Classe e cor são fardo do negro
>>Política sobre Álcool

Brasília e o Brasil
 
No caso Gautama, mais importante do que a crônica policial e a narrativa dos conflitos patentes e latentes entre o Planalto e a base aliada é a análise das razões e das conseqüências da centralização política brasileira. 


CPI funciona
 
Os controladores de vôo ouvidos ontem na CPI do Apagão Aéreo disseram o que já se sabia pouco depois do acidente: que houve erro humano nas torres de controle. Em sua primeira manifestação após a queda do Boeing da Gol, a Aeronáutica avisou que a tragédia tinha sido conseqüência de uma somatória de causas. A CPI é útil.


Movimento na sombra
 
Os invasores da reitoria da USP barraram a entrada da imprensa. Durante a ditadura, movimento estudantil e jornalistas eram aliados.


Força Nacional ausente
 
Os jornais descrevem de maneira precária o conflito em curso há três semanas num conjunto de favelas do Rio de Janeiro, chamado Complexo do Alemão. Esse inferno já fez o governador Sérgio Cabral Filho ser o responsável máximo por uma triste estatística. Como escreve hoje no Globo o jornalista Marlon Brum, nunca houve tamanho número de baixas por conta de um conflito entre policiais e traficantes.
 
Enquanto isso, nenhum jornal, nenhum noticiário pergunta o que faz no Rio de Janeiro a famosa Força Nacional, que corresponderia, no caso específico, à ajuda do governo federal, do presidente Lula, para enfrentar o problema da violência.


Classe e cor são fardos do negro
 
Um estudo acadêmico provocou nas últimas semanas duas manifestações divergentes. Na Folha e no Globo, Elio Gaspari escreveu que os negros brasileiros carregam dois fardos: o das desigualdades de classe e o da barreira da cor.
 
Na Veja, André Petry tirou do estudo uma conclusão muito diferente. Disse que a origem de classe “sempre pesa mais que a cor da pele”. Petry está enganado.
 
Vejamos o que diz o autor do estudo, sociólogo Carlos Antonio Costa Ribeiro, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Iuperj:
 
Costa Ribeiro:
 
– Esse estudo que eu fiz sobre Classe, Raça e Mobilidade Social no Brasil trata das desigualdades de oportunidade. Oportunidades educacionais e oportunidades de mobilidade social. Quanto às oportunidades educacionais, o que o estudo mostra é que, nos patamares mais baixos do sistema educacional, as desigualdades de classe se sobrepõem às desigualdades de raça com bastante clareza. Nos patamares educacionais mais altos a desigualdade racial se torna equivalente à desigualdade de classe, entendida aqui como desigualdade da classe de origem das pessoas.
 
Na hierarquia ocupacional da sociedade, que diz respeito às chances de mobilidade social – eu quero saber se há desigualdade nas chances de mobilidade social –, para alcançar ocupações hierarquicamente baixas ou médias na estrutura ocupacional da sociedade é a origem de classe que pesa com mais força e não há diferença de chances entre brancos e não-brancos. Quando se chega nas ocupações mais altas hierarquicamente, há claramente uma desigualdade racial, em que brancos têm mais chances do que não-brancos de alcançar posições ocupacionais mais altas. Isso, controlando pela classe de origem. Ou seja, independentemente da classe de origem.
 
Clique aqui para ler a entrevista completa de Carlos Antonio Costa Ribeiro.


Gelo russo
 
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, diz que jornalismo virou profissão de risco na Rússia. Segundo Egypto, são freqüentes os relatos de casos de pressões veladas, agressões físicas e assassinatos de jornalistas. E a república russa quer restaurar o controle estatal da informação. Das três maiores redes de TV, o Estado dirige uma e tem participação acionária em outra, além de controlar duas das principais emissoras de rádio.
 
Política sobre Álcool

 
A Folha faz em editorial críticas à Política Nacional sobre o Álcool que será anunciada hoje pelo presidente Lula. Mas não é contra. Acha que é pouco. E também afirma que o caminho escolhido, decreto presidencial e resolução da Vigilância Sanitária, dará margem a contestações judiciais.
 
É verdade. A turma da propaganda de cerveja já está em pé de guerra. Ontem, num editorial lido por Joelmir Beting em defesa desse tipo de propaganda, o grupo Bandeirantes saiu-se com um monumento de argumentação sofista: disse que tudo não passa de manobra da Ambev para manter o monopólio do mercado brasileiro de cerveja. Nem uma palavrinha sobre a realidade da disputa no mercado cervejeiro, que tem mais a ver com condições locais do que com propaganda. De quebra, a Band disse que o Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, encarregado de coibir cartéis, é um embuste.