Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Correios, oposição e mídia
>>Crime ainda na ofensiva

Correios, oposição e mídia


A notícia de que o governo vai entregar ao PMDB a direção dos Correios é a mais cabal demonstração de incompetência da oposição e da mídia desde que, quatorze meses atrás, foi divulgado o famoso vídeo em que Maurício Marinho aparece embolsando três mil reais. A oposição teve medo de que seus próprios podres viessem à tona. A imprensa teve coragem para se contrapor ao cinismo palaciano, mas não para tornar mais difícil a vida de todos os que praticam apropriação privada da coisa pública. O PMDB recebe na barganha, também, o Ministério da Saúde e postos estratégicos em estatais e agências reguladoras. Que tal publicar uma mapa completo dessa negociação?


Crime ainda na ofensiva


O Alberto Dines pede que a mídia não deixe em segundo plano a crise das prisões. Fala, Dines.


Dines:


– Os jornais e a mídia eletrônica estão noticiando com razoável destaque a nova ofensiva do PCC contra o Estado brasileiro. Desta vez os ataques são dirigidos contra agentes penitenciários assassinados a sangue-frio em suas casas ou na rua. Apesar da brutalidade, o noticiário não está conseguindo criar o clima de emergência. Talvez porque os assassinatos obedeçam a um ritmo lento, justamente para disfarçar a importância da ofensiva ou talvez porque o país ainda não acordou da anestesia produzida pela participação brasileira na Copa do Mundo, a verdade é que estamos sendo sitiados e ninguém ligou o alarme. As greves que os agentes penitenciários organizam nos presídios criam algum desconforto para os presos mas não conseguem dissuadi-los a pressionar o PCC a desistir do banho de sangue. Por outro lado, é muito perigosa a decisão do governo federal de permitir que os agentes andem armados quando não estão em serviço. Breve, poderemos ter batalhas campais entre o PCC e os agentes carcerários em plena rua com resultados catastróficos. Enquanto as autoridades não se mexem e não sabem o que fazer, a mídia ao menos poderia ao menos falar um pouco mais alto.



Arroz maldito


O efeito manada na mídia passou por Araraquara. A Folha descobriu fatos de quinze dias atrás e a cobertura se ampliou. O repórter Cláudio Dias, da Tribuna Impressa, de Araraquara, defende uma cobertura local mais intensa, e mostra como detalhes atrozes da situação continuam desconhecidos do público.


Dias:


– A vantagem de você ter uma equipe aqui na cidade [é que] facilita nos contatos com os familiares, com os presos. Isso pôde ser visto agora. Demorou para a grande imprensa vir para a Araraquara acompanhar, e quando chegou viu que a situação era crítica. Vindo uma, vem outra, e assim todos os veículos acabaram passando pela cidade. O ideal seria que continuassem aqui para acompanhar. Estando aqui, poderiam conseguir algumas informações como a que conseguimos hoje, que é a dos presos estarem recebendo a comida e, ao invés de comê-la, temendo que vidros moídos sejam inseridos nela, eles estão lavando a comida, lavando o arroz e deixando a água, para que bóiem pó de vidro, mosquitos e outras sujeiras que, segundo eles, estariam sendo colocadas pelos agentes. Os funcionários desmentem, a Secretaria [da Administração Penitenciária] desmente, mas existe essa denúncia. Virou a bandeira dos presos nessa última negociação.


Mauro:


– Hoje se noticia que os presos querem participar da reconstrução da penitenciária, idéia encampada pelo senador Eduardo Suplicy. Será curioso ver ferramentas pesadas nas mãos de detentos rebelados.



Crianças desprotegidas


Nada nos jornais, hoje, sobre a nova classificação indicativa que o Ministério da Justiça criou para cinema e programas de televisão, anunciada ontem tem Brasília. Durante o horário de verão, há um período em que a diferença de fuso chega a três horas. Emissoras do Acre, por exemplo, passam às seis da tarde a novela do horário de nove da noite em Brasília. E dizem que não podem fazer nada para mudar isso.


Mais debate sobre raça


É sensato transferir para 2007 a votação na Câmara dos Deputados do Estatuto da Igualdade Racial. Mas uma precondição para que o debate seja ampliado é que a mídia dê ao tema o necessário destaque, o que não tinha ocorrido até agora, embora a proposta tenha sido apresentada há oito anos.


# # #


Outros tópicos recentes


De Alberto Dines


Fátima Bernardes, onde está você?


Por um jornalismo de relatos e emoção


Brasil eliminado: um caso de anestesia federal


Do blog Em Cima da Mídia


Catanduvas ainda está vazia


Erundina quer rever radiodifusão


Raça e pesporrência


Mais quatro canais estatais


Congresso e mídia, relação incestuosa