Wednesday, 17 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

>>CPI dos Bingos, duas leituras
>>Jornalismo em campo minado

CPI dos Bingos, duas leituras


Os jornais mais influentes do país dão hoje uma demonstração prática da teoria do copo meio cheio, ou meio vazio. A Folha e o Globo comemoram o pedido de indiciamento de Paulo Okamotto, amigo do presidente Lula, contido no relatório final da CPI dos Bingos. O Estadão lamenta que José Dirceu e Gilberto Carvalho tenham sido poupados.


Mosaico brasileiro


Até aqui, o noticiário sobre eleições nos estados, com exceção do Rio de Janeiro nos jornais cariocas, só aparece em colunas dos grandes jornais. E aparece inteiramente subordinado à corrida presidencial, como se nos estados não houvesse embates políticos e programáticos importantes. Foi-se o tempo em que os grandes jornais tinham sucursais ou correspondentes fixos e davam espaço para um noticiário sem o qual não se monta uma compreensão adequada do mosaico brasileiro.


Jornalismo em campo minado


O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egyto, relata conclusões preocupantes de um seminário sobre as condições de trabalho de jornalistas em países da América Latina.


Egypto:


– Encerrou-se no sábado passado, na Flórida, a convenção da Associação Nacional de Jornalistas Hispânicos, entidade sediada em Washington. Um dos seminários do encontro intitulou-se “Ameaças, prisão, morte e silêncio”, reuniu jornalistas de Cuba, Colômbia, Guatemala e México, e chegou a conclusões muito preocupantes.


Os debatedores constataram que, em razão dos ataques do crime organizado e do narcotráfico, algumas regiões da América Latina se transformaram em campos minados para o exercício do jornalismo. E depois de tantos anos de luta contra o silêncio imposto pelas ditaduras militares, é duro admitir que as ameaças e assassinatos de jornalistas tenham provocado o ressurgimento da autocensura.


“Os jornalistas estão vulneráveis”, disse Carlos Lauría, da ONG Comitê para Proteção dos Jornalistas, para quem a autocensura debilita o sistema democrático. Ramón Cantú, do diário El Mañana, de Nuevo Laredo, no México, disse que há três anos seu jornal adotou a autocensura para melhor proteger os repórteres.


Essas são más notícias para o jornalismo. E para a democracia.


O caráter do Estadão


Ruy Mesquita, diretor do Estado de S. Paulo, diz à revista Nossa História deste mês que “jornal neutro é um boletim de notícias. Um jornal tem caráter, tem alma, tem personalidade”. A entrevista traça um panorama da imprensa brasileira nas últimas décadas. Só não menciona, em nenhum momento, nem foi feita pergunta a esse respeito, o jornal hoje mais influente, a Folha de S. Paulo.


Mesquita afirma que o Estadão se destacou não por sua qualidade jornalística, que não era melhor nem pior do que a dos outros. Fundamental, diz, foi a orientação ética e política do jornal, que o fez participar decisivamente de diferentes movimentos da história recente do país.



Soja na Bolívia


O economista Marcos Jank alerta hoje no Estadão que a promessa de reforma agrária feita pelo presidente Evo Morales põe em xeque plantadores brasileiros de soja na Bolívia. Segundo Jank, o Itamaraty acha difícil que os brasileiros instalados na zona de 50 quilômetros da fronteira escapem da desapropriação. A posição deles é frágil do ponto de vista documental, ambiental e trabalhista.


Os passageiros


Pouco se disse sobre o drama dos que compraram passagens da Varig ou, pior, já viajaram e precisam voltar. Ontem, no Jornal Nacional, começou a mudar o tom do noticiário.


Cadeias destruídas


Demorou mais de um mês para um grande jornal se interessar pela destruição promovida em presídios nas rebeliões de maio comandadas pelo PCC. Hoje a Folha dá um primeiro balanço. O Estadão noticia a prisão de dois PMs acusados de praticar extermínio, na Zona Leste de São Paulo.


Ler também ‘A antilogística do sistema prisional‘.



Homenagem a Bussunda


Foi impecável a homenagem prestada ontem ao humorista Bussunda no programa Casseta e Planeta Urgente, da Rede Globo.


Mindlin acadêmico


A Academia Brasileira de Letras fez gol ao eleger o bibliófilo José Mindlin para a cadeira de Josué Montello, ex-diretor da Biblioteca Nacional. Mindlin, na distante juventude, trabalhou no Estado de S. Paulo.


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Leitor, participe. Escreva para noradio@ig.com.br.