Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>É a desigualdade, gente!
>>O artista invasor

É a desigualdade, gente!


O processo eleitoral permeia todo o noticiário porque já domina o comportamento dos protagonistas políticos. Mas discutir o novo salário mínimo à luz de chavões de palanque não é o método mais sensato. A grande pergunta que sempre precisa ser feita no Brasil é quanto as decisões de governo ajudam a reduzir a desigualdade.



O artista invasor


Jornais de São Paulo e do Rio acharam uma delícia o episódio da falsa exposição de um inexistente artista japonês no Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, de Fortaleza, promovida há duas semanas por Yuri Firmeza. Ele é um artista de 23 anos e teve a cumplicidade do curador do museu, Ricardo Resende. Yuri desmascarou métodos de uma mídia que terceirizou parte de sua apuração para assessorias de imprensa. E vive pendurada em governos. O artista estava tratando de complexas questões sobre a arte propostas pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu.


Yuri:


– E uma das questões é o papel da imprensa e da mídia dentro desse circuito das artes. A imprensa, que tem esse poder de sedução… Vários artistas, e instituições de arte acabam perdendo a autonomia do trabalho justamente por estarem subordinados a outras questões que não são meramente estéticas. Outra questões que regem o jogo da arte. E uma dessas questões é justamente essa visibilidade na mídia. E para isso tanto artistas como instituições não podem, ou não devem, segundo eles, arranhar, ou colocar o dedo na ferida da mídia, porque essa tem o poder de manipular informações.


Mauro:


– Ricardo Resende, curador do Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar, explica sua posição.


Ricardo:


– Ele teve toda a liberdade para criar esse Artista Invasor, que veio questionar como hoje é construída a informação, a matéria jornalística, além de questionar também os próprios limites do museu, do que nós entendemos por arte. É uma discussão muito boa, rica, porque a gente conseguiu um espaço que jamais conseguiríamos em condições normais.


O Brasil tem esse histórico, infelizmente, de devoção ao estrangeiro. Nós tivemos vários outros eventos no decorrer do ano de 2005 e poucas matérias foram publicadas nos jornais locais, evidenciando um certo preconceito contra o artista local, e principalmente o jovem artista.


Mauro:


– Os jornalistas foram obrigados a parar para pensar. É o que conta Marcos Tardin, chefe de Redação do jornal O Povo.


Tardin:


– Do ponto de vista da polêmica, é ótimo. O Yuri, como personagem artístico, fez o papel dele muito bem. O que, para a gente aqui do jornal O Povo, deixou a gente chateado, dois pontos. Um, a evidente reflexão que a gente precisa fazer sobre falhas de checagem, de apuração, que a gente tem. Aliás, não só nós. Boa parte da imprensa brasileira e até mundial sofre hoje em dia desse mesmo mal.


Agora, um ponto que deixou a gente chateado, decepcionado, foi que nesse ponto específico do Yuri, ele contou, mais do que com a conivência, com a colaboração ativa mesmo de uma instituição pública forte, importante aqui para Fortaleza, que é o Dragão do Mar. A gente procurou essa instituição até para saber da exposição, para confirmar as informações, e ela confirmou tudo: Ah, o artista vem mesmo, a exposição começa no dia tal… Deliberadamente, mentiu para os jornais daqui de Fortaleza para dar sustentabilidade a essa grande farsa do artista plástico.


Mauro:


– O Povo teve algum fairplay. Publicou logo, com grande destaque, uma entrevista de Yuri Firmeza, e promoveu um debate sobre o assunto.


O caso do Ceará ilustra um fenômeno que, em maior ou menor grau, acontece todo dia em todos os jornais brasileiros.


Ver site do Dragão do Mar.



Reportagens ausentes


No Observatório da Imprensa Online, Rolf Kuntz pede uma reportagem capaz de revelar o que houve na longa reunião do Comitê de Política Monetária da semana passada.


E Paulo Roberto de Almeida constata que os jornalistas não conseguem ultrapassar a descrição do espetáculo do Fórum Social Mundial e penetrar nas discussões. Será que o jornalismo atual virou uma simples caixa de ressonância de slogans estudantis, pergunta?


No noticiário desta quarta-feira, 25 de janeiro, a preocupação é com a influência que o governo do presidente Hugo Chávez poderá ter no evento.


Voto e diálogo


Evo Morales usou suas prerrogativas para nomear a nova cúpula militar boliviana. Parecido com o que fez Fernando Collor depois de ganhar a primeira eleição direta para presidente após a ditadura no Brasil. Mas é preocupante a entrevista do novo presidente da Bolívia ao jornalista mexicano Jorge Ramos, publicada hoje no Estadão. Morales mostra baixa propensão ao diálogo.