Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Eleição contamina noticiário
>>Barata tonta

Eleição contamina noticiário


A campanha de 2006 invadiu definitivamente o noticiário e ofusca o interesse pelo resultado das apurações das CPIs no Congresso. A imprensa tem a responsabilidade de acompanhar o trabalho dos parlamentares que têm compromisso com a busca da verdade. Encarar deputados e senadores em bloco seria um erro, porque as motivações e os atos são muito diferentes. O triste fim da CPI do Mensalão, conduzida por Amir Lando e relatada por Ibrahim Abi-Ackel, deixou isso claro.


Prefeitos assassinados


Está cada vez mais difícil acreditar que os prefeitos de Santo André, Celso Daniel, e de Campinas, Toninho do PT, foram assassinados em crimes comuns.


Barata tonta


O Alberto Dines detecta na imprensa um comportamento errático. Fala, Dines.


Dines:


– Mauro, a mídia está prevendo que esta semana será uma das mais difíceis para o presidente Lula desde o começo da atual crise. A mídia só esqueceu de dizer que também ela vai suar frio porque na terça-feira a CPI dos Bingos vai votar a convocação do ministro Antônio Palocci. E a imprensa, sobretudo os jornais, desempenhará um papel decisivo nesta votação. Na verdade, o Caso Palocci é uma espécie de termômetro das disposições da grande imprensa. O ministro tem sido excepcionalmente hábil em lidar com a imprensa – comparado, é claro, com seus companheiros de governo e de partido. Prova disso foi o absoluto silêncio da última edição de Veja a respeito do suposto recebimento dos dólares cubanos no qual dois ex-auxiliares de Palocci têm papel destacado. Mas acontece que o ministro começou a ser alvejado abertamente pelo fogo amigo da ministra Dilma Roussef. E neste caso a imprensa andou como barata tonta, ora acreditando que já começara a fritura de Palocci, ora veiculando que estava mais forte do que nunca. Começa hoje uma semana de fatos importantes, esperemos que os factóides não dominem a cena.


O teatro planaltino


Dines, quando a ministra Dilma bate no ministro Palocci, a tendência da imprensa é defender a responsabilidade fiscal contra a ameaça de política econômica populista. Enquanto isso, o presidente Lula, que é o responsável pela própria existência do conflito, foge dos ataques mais contundentes.


A imprensa vive um momento de perplexidade. As capas das revistas desta semana são um retrato disso. E fenômenos insólitos começam a se manifestar. Para contrariar quem já se acostumou a vê-la como veículo a serviço do PSDB e do PFL, é na Veja desta semana que se encontra a crítica mais contundente contra o comportamento desses partidos durante o depoimento do ministro Palocci na CPI. Diz que tucanos e pefelistas são desbragadamente oportunistas. “Seu negócio é fazer politicagem, de olho apenas em suas próprias arquiteturas eleitorais”.


Audição seletiva


A mídia apresentou na sexta-feira e no sábado um panorama rico a partir dos dados do PIB dos municípios, divulgados pelo IBGE. Nem sempre é assim. Semanas atrás, quando foi apresentado o PIB dos estados, os principais jornais deram como fato negativo a diminuição da concentração de riqueza nos estados mais ricos.


Muitas vezes, os veículos partem para a apuração das reportagens com idéias preconcebidas e procuram fontes que apenas convalidem tais idéias. E, quando há divergência, não se mostram interessados em ouvir o que têm a dizer, como relata o economista François Bremaeker, coordenador de Articulação Político-Institucional do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, Ibam.


Bremaeker:


– Foi feita uma matéria pela Rede Globo a respeito da criação de municípios, o que tecnicamente não representa nenhum ônus financeiro maior, nem para a União, nem para os estados. O que acontece na prática é uma repartição maior dos recursos que vão para os municípios naquele estado. Em princípio, ao que tudo indicava, a intenção da matéria era no sentido de que deveria ser feita uma crítica direta ao processo de criação de municípios. Como nós defendemos a tese de que isso não causava maiores problemas, até, pelo contrário, para as comunidades locais representava até uma situação de melhora bastante significativa, porque eles passavam a ter recursos adicionais, naquele local, naquela comunidade, que antes nunca teriam, essa matéria simplesmente caiu, não foi ao ar, porque não foi dito aquilo que se esperava que fosse dito.


Bolívia sem maniqueísmo


A visita ao presidente Lula do líder do Movimiento al Socialismo da Bolívia, Evo Morales, mostra que a mídia poderá fornecer retratos errados do processo eleitoral boliviano se entrar numa retórica sensacionalista. Morales não é Chávez.