Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Em guerra
>>Oligopólio telefônico

Por trás da foto


A foto do PMDB com o presidente Lula e o ministro Tarso Genro pode ser bom ponto de partida para uma tarefa jornalística difícil, mas necessária: o que cada um dos ilustres dirigentes partidários ganha se o PMDB vier a apoiar de fato o governo Lula? Ou será que foram movidos apenas a patriotismo e consciência de dever cívico?


Em guerra


Ontem na CPI o ex-petista Oswaldo Bargas fez uma revelação gravíssima: leu antes da publicação o texto da reportagem da IstoÉ sobre o Dossiê Vedoin. E explicou as boas relações com a revista: “Estávamos em guerra contra a imprensa, não poderíamos escolher um jornal qualquer”.



Oligopólio telefônico


O jornalista Michael Reid fez para a The Economist desta semana um especial sobre o México. É altamente esclarecedor. Mas, num dos textos, Reid contrapõe o mercado brasileiro de telecomunicações, onde haveria competição, ao monopólio exercido pela Telmex, de Carlos Slim, o terceiro homem mais rico do mundo, que no Brasil controla a Embratel, a Net e a Claro.


O repórter Renato Cruz, que cobre o assunto para o caderno de Economia do Estado de S. Paulo e tem um blog no portal do Estadão, explica por que a comparação não funciona.


Renato:


– Não é bem assim porque, diferentemente do México, onde a empresa foi privatizada como uma operadora nacional, no Brasil a telefonia fixa foi dividida em quatro, Embratel mais três operadoras locais. E cada uma dessas operadoras locais, a Telemar, a Telefônica e a Brasil Telecom, continuou dominando o mercado em cada uma das suas regiões. Se a gente somar a participação das três, elas têm mais ou menos 95% das linhas fixas e 77% da banda larga. A competição acabou acontecendo mesmo na telefonia móvel. A Vivo, que é a maior operadora de telefonia celular do Brasil, tem 30% do mercado.


Mauro:


– A pretensão da Telefônica de operar uma TV a cabo desencadeou uma briga aberta, que está nas páginas dos jornais. Segundo Renato Cruz, existe de fato uma ameaça à hegemonia da Rede Globo, e no meio desse conflito está o governo.


Renato:


– A ameaça é real porque existe uma diferença muito grande de tamanho entre as empresas que estão brigando por esse mercado, que está se transformando em um só. As Organizações Globo, no ano passado, faturaram 2,5 bilhões de dólares. Isso, comparado com 48,5 bilhões de dólares que faturou a Telefônica em todo o mundo, ou 38,2 bilhões que faturou a Telecom Itália. Existe aqui no Brasil uma briga entre o poder político das redes de televisão e o poder econômico das redes de operadoras de telecomunicações. Isso se refletiu na briga pela TV digital, e agora também nesse caso da TV por assinatura que a Telefônica está querendo lançar.


Mauro:


– O repórter do Estadão diz que ainda não se sabe como será de fato a TV digital brasileira.


Renato:


– Até o final do mês o governo precisa anunciar quais são as especificações técnicas dos equipamentos que vão ser usados na TV digital. Na verdade, foi escolhido o padrão japonês como base de um sistema brasileiro mas ninguém sabe direito, não está escrito em nenhum lugar, o que vai ser esse sistema brasileiro. A gente não sabe, por exemplo, até que ponto o trabalho que foi desenvolvido por pesquisadores locais vai ser incorporado aos equipamentos que vão chegar ao mercado.


Democratizar a informação?


O governo estuda criar uma Secretaria para Democratização da Informação, sob a responsabilidade da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anuncia hoje o Estadão. Segundo o repórter João Domingos, a idéia é sintonizada com propostas do PT para o setor. Já se sabe: elas começam com boas intenções e logo se transformam em ameaças à liberdade de imprensa.


Prepotência estatal


Quanto mais a Petrobrás demonstra prepotência contra a imprensa, por intermédio do atual presidente, José Sérgio Gabrielli, e de seu antecessor, José Eduardo Dutra, mais necessária se torna uma apuração correta e desassombrada das doações para campanha eleitoral que têm relação com a estatal. Isso afeta diretamente o processo processo político e é mais um fator de enfraquecimento da democracia. Assim como o uso eleitoreiro TVs Senado e Câmara, divulgado hoje no Estadão.


A eterna Rússia


A estatal Gazprom comprou o jornal Komsomolskaya Pravda. Já tinha o Izveztia e a NTV, maior rede de televisão privada.


Argentina e Uruguai


Na origem da briga entre Argentina e Uruguai a propósito da fábrica de papel houve um pedido de propina feito na Argentina às empresas finlandesa e espanhola. O editor do argentino Clarín, Julio Blanck, escreveu sobre o assunto em janeiro deste ano.


[Para leitores do site, eis o trecho de Blanck, datado de 22 de janeiro:


Los europeos habían proyectado instalar las plantas en Entre Ríos. La crisis y el default argentino influyeron para cambiar esos planes. Y además, es un secreto a voces en medios políticos y empresarios, las exigencias de la provincia para dar vía libre a la inversión estuvieron fuera de todo parámetro. Esa pretensión terminó por expulsar hacia la orilla de enfrente a los finlandeses antes que a los españoles, que suelen ser más flexibles a ese tipo de pedidos. La codicia rompe el saco, dice un refrán castellano tan antiguo que hace 400 años Cervantes lo escribió en El Quijote’.


Eis a tradução dos trechos menos evidentes para o leitor brasileiro, feita a meu pedido por Matias Molína, ex-editor-chefe da Gazeta Mercantil:


“Os europeus (…) E além disto, é um segredo já conhecido em meios políticos e empresariais que as exigências da província para aprovar o investimento foram longe demais (…) Quem tudo quer nada tem, como diz um ditado castelhano tão antigo que há 400 anos Cervantes o escreveu no Quixote”.


O autor menciona um antigo ditado que não tem tradução literal. Mas o sentido é esse: quem muito ambiciona tudo perde’.]