Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

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Faltam análises de fundo


O tamanho da crise está nas primeiras páginas dos principais jornais desta quinta-feira, 21 de julho. Nos primeiros cadernos espalham-se ramificações dos esquemas financeiros espúrios. O mapa ainda não está completo. Hoje, na Folha de S. Paulo, há notícias de participação de empresas no caixa 2 do PT, entre elas uma multinacional. De modo geral, as multinacionais estão sujeitas a auditorias duplas, no país em que operam e no país de origem. Seria mais uma volta no parafuso.


É cada vez mais urgente uma análise de fundo. Com ela se ganhará perspectiva para entender os próprios esquemas de financiamento. Aguardam-se sínteses analíticas no fim de semana.


Em artigo na Folha, o senador Jefferson Peres trata do que interessa agora: um entendimento para garantir o rumo democrático, maior crescimento econômico e redução da pobreza.


Publicidade oficial


Uma das moedas de troca do esquema financeiro agora denunciado foi a publicidade oficial, tema do Observatório da Imprensa na televisão desta semana, que o Alberto Dines comenta.


Dines:


− O último programa do Observatório da Imprensa na TV provocou um grande número de manifestações. A questão da propaganda oficial (ou propaganda de governo) interessou a muita gente, sobretudo aqueles que querem entender a parte submersa deste gigantesco iceberg.


O quase bilhão de reais que o governo gasta com propaganda está na origem das quantias fantásticas que o lobista Marcos Valério conseguiu dos bancos como empréstimo para o PT. Na maioria dos casos, Valério oferecia como garantia justamente os contratos de publicidade de suas agências com ministérios ou estatais. Isto está comprovado. É evidente que um publicitário responsável e decente não usaria o expediente de servir-se de contratos com o governo para levantar dinheiro para o partido do governo.


Claro, não é a publicidade do governo a única culpada por esta sucessão de escândalos. Mas se as verbas fossem menores, se as licitações fossem mais rigorosas e se a distribuição da propaganda oficial fosse mais equitativa, muitos, mas muitos vexames poderiam ter sido evitados. É evidente que a imprensa não está interessada em discutir esta questão.


Segredo profissional


O Globo de hoje informa que senadores americanos se movimentam para propor legislação que garanta proteção ao segredo profissional de jornalistas. A repórter do The New York Times Judith Miller está presa há duas semanas porque se recusou a dar o nome da autoridade que lhe revelou a identidade de uma agente do CIA.


Um senador republicano, Richard Lugar, disse que o fluxo de informações para os cidadãos americanos está ameaçado.


Estudantes e ônibus


A mídia praticamente ignora confrontos violentos de estudantes com policiais devido a aumentos de preços de passagens de ônibus. Há dois meses foi em Florianópolis, agora é em Vitória. É preciso saber se são casos isolados ou irrupções de um mal-estar mais profundo na classe média.


Contágio


As longas aulas de cinismo dadas por Silvio Pereira e Delúbio Soares têm efeitos colaterais. Ontem, no Jornal da Band, autoridades acusaram empresas farmacêuticas de forçar a barra para que remédios especiais desnecessários sejam pagos pelo Sistema Único de Saúde para pacientes crônicos.


O apresentador Carlos Nascimento disse que uma entidade representativa da indústria preferiu não se manifestar sobre o assunto. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas no contexto de um noticiário dominado pelo “mensalão”, ficou no ar um cheiro de negaça.


Daqui para a frente será necessário reavaliar o preço do silêncio.



Esperança


O efeito potencialmente mais perigoso da crise foi mostrado no mesmo jornal televisivo da Rede Bandeirantes. Uma senhora aposentada disse em entrevista que está amargurada e insegura. “Minha pressão subiu”.


O presidente Lula cometeu mais um equívoco ao dizer que é melhor falar bobagem do que fazer bobagem. Nem fazer, nem falar.


A tarefa mais nobre de um governante é dar esperança ao povo. E seu mais grave fracasso é tirar a esperança dos cidadãos.