Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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Igrejas e Tanure avançam na mídia


Daniel Castro noticia hoje na Folha que o governo acaba de dar um canal de televisão à Igreja Renascer, cujos dirigentes estão às voltas com a Justiça nos Estados Unidos e no Brasil.


A mídia brasileira passa por uma metamorfose. Daniel Dantas e Nelson Tanure, empresários com sólida tradição em negócios controvertidos, informam estar na iminência, cada um de seu lado, de comprar a Editora Três, cujo carro-chefe é a revista IstoÉ.


Tanure assumiu o controle da rede de televisão CNT e disputa o grupo O Dia de comunicação com R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, estrela do Show da Fé, na Rede Bandeirantes, e com Edir Macedo, da Igreja Universal, que já possui a Rede Record, programas de rádio, o jornal Folha Universal e a revista Plenitude.


Gratuito se defende


O jornal gratuito Destak, iniciativa de um grupo português, afirma em nota que André Jordan, naturalizado brasileiro há mais de 50 anos, possui 70,1% das ações, e seus diretores, Cláudio Zorzetti e Fabio Santos, são brasileiros natos. O comunicado do Destak diz que a lei brasileira não proíbe a participação de estrangeiros no conselho de administração da empresa.


A Folha de S. Paulo noticiou na semana passada que a Associação Nacional de Jornais pediu ao Ministério Público uma investigação sobre a participação estrangeira no jornal gratuito.


O editor do Destak, Fábio Santos, declara que o jornal só chamou a atenção da ANJ e a iniciativa do Ministério Público só virou notícia na Folha de S. Paulo porque “o jornal já é um projeto de sucesso, o que incomoda os grandes veículos já estabelecidos”.


A Globo fala aos pais


Uma portaria sobre classificação indicativa de programas de televisão aberta sai na semana que vem, depois de três anos de discussão pública. A classificação já existe, mas hoje cada emissora adota uma maneira própria de indicar aos pais a idade recomendada pelo Ministério da Justiça. Há dias a Globo martela anúncio institucional em que uma criança tem os olhos vendados, como se estivesse sendo impedida de ver, e o locutor tece loas ao discernimento dos pais.


[Acréscimo às 9h40:]


Eis o texto:


Todo programa de TV aberta tem uma classificação por idade. Mas o que conta mesmo é a sua opinião. Ninguém melhor do que os pais para saber o que os seus filhos devem assistir. A televisão brasileira oferece informação, diversão e entretenimento de qualidade e de graça. Os limites é você quem dá. Cidadania, a gente vê por aqui.”


Ontem, para capturar essa fala, passei algum tempo diante da Globo em horário vespertino. Vi muita coisa que eu não exibiria para crianças pequenas. Por exemplo, chamadas para programas adultos. Por exemplo, o noticiário que irrompe entre a Sessão da Tarde (onde alguns diálogos hão de ter provocado no mínimo perplexidade em crianças; Robin Williams, protagonista de Uma Babá Quase Perfeita, diz para o namorado de sua ex-mulher que ela tem em casa ‘um vibrador que você não faz idéia’, ou algo parecido, e, em seguida, como o interlocutor expressasse estranheza em face do diálogo, explicita coisas como ‘afogar o ganso’ e assemelhadas); por exemplo, propagandas dirigidas a crianças, protagonizadas por crianças para comover adultos e para comover crianças.


É claro que a classificação indicativa só funciona se o pai ou responsável levá-la em consideração. Ainda não existe televisão com câmera para vigiar quem assiste à programação (poderá haver, algum dia, mas será usada para entender o comportamento do público e modelar o marketing). Estaria a Globo chovendo no molhado? Não. Quando se combina a fala em ‘off‘ com as imagens a sugestão é de que cabe aos pais remover a censura que venda a visão de seus filhos. (Ver imagens que serão colocadas nesta página em algum momento do dia.) Ou seja: a Globo já antecipa uma campanha ‘anticensura’. Mas o Ministério da Justiça afirma que não se trata disso. Daqui a algumas horas publicarei reportagem feita com a assessora de imprensa do Ministério Patrícia Costa.


Dizer, de modo genérico, que a televisão aberta ‘oferece informação, diversão e entretenimento de qualidade’ soa como piada. Pior. É mentira.


Finalmente, é preciso reiterar que a televisão aberta não é ‘de graça’. O telespectador, como o leitor, o ouvinte ou o internauta, dá seu tempo, vendido a patrocinadores que embutem o custo da publicidade no preço dos produtos. Além disso, ainda não tenho notícia de distribuição gratuita de aparelhos de televisão, nem me consta que as emissoras paguem a conta de luz dos telespectadores.


(Ver também ‘Globo faz campanha oblíqua‘.)


Tarso é diferente de Lula


Alberto Dines diz que o ministro Tarso Genro diverge do presidente Lula ao voltar baterias contra a mídia.


Dines:


– Tarso Genro voltou a atacar. Depois de merecidas férias, na segunda-feira, num seminário em Porto Alegre, o ministro das Relações Institucionais denunciou o controle da mídia brasileira por grupos econômicos e acusou-a de ser responsável por uma “destruição cruel” do Poder Legislativo. O ministro Tarso Genro esqueceu que em junho de 2005, na qualidade de ministro da Educação, assinou um solene e tocante artigo na Folha de S. Paulo propondo a refundação do PT diante da sucessão de escândalos conhecida como “mensalão”. Agora, passa uma borracha no que sentiu e escreveu naquela ocasião e ainda acrescenta uma descomunal bobagem: a reforma política não pode ser imposta pelos “poderes mediáticos”, terá que vir da sociedade. O ministro só não explicou quais os meios que a sociedade usará para propor a reforma política – através do Congresso? Se o Congresso é palco neste momento de uma enorme lavagem de roupa suja, como é que a sociedade pode esperar que seja o árbitro de mudanças que começarão por ele mesmo? Antes de soltar o verbo de forma tão descuidada, Tarso Genro deveria olhar o seu crachá e o seu cartão de visitas para verificar se o seu cargo ainda é o de Relações Institucionais. Nesta posição seu compromisso funcional é o de preservar e garantir as relações institucionais do governo com os demais poderes, inclusive com a imprensa. A esta altura, repetir os chavecos chavistas sobre a mídia é um retrocesso. Mais do que isso: é um desacato ao presidente Lula, que há duas semanas comprometeu-se solenemente em preservar a democracia em nosso país.



A viuvinha ou os narcotraficantes?


O sensacionalismo, cada vez mais, atropela na imprensa informações relevantes. Hoje, Estadão e Folha nem noticiam na primeira página a prisão, em São Paulo e Mato Grosso do Sul, de integrantes de uma conexão internacional do narcotráfico. Mas dão chamada para a prisão da viúva do ganhador da loteria assassinado no Estado do Rio. O Globo, que dá chamada para o narcotráfico, dedica à prisão da moça título forte, com foto que ocupa dois terços da largura e um terço da altura da página.