Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Informação sem esclarecimento
>>Faltam biografias

Informação sem esclarecimento


Com muito atraso e hesitação, uma parte da mídia parece ter começado ontem e hoje a refletir a consciência de que o caminho armado para a resolução de problemas políticos é uma sementeira de insanidades, indica Alberto Dines


Dines:


– A carnificina de ontem em Qana, sul do Líbano pela aviação israelense desvenda uma realidade que precisamos encarar: estamos na Era da Informação mas longe, muito longe da Era do Esclarecimento. Cada vez mais informados e cada vez menos impregnados pela humanização da informação. Ontem, domingo, no jornal israelense de maior prestígio, o Haaretz, o jornalista Gideon Levy escreveu um violento libelo contra o seu governo, contra as lideranças políticas, contra os generais e contra a esquerda que ainda não conseguiu despertar da letargia. O título foi “Dias de Escuridão”. Não poderia ser mais apropriado porque apesar de bombardeados pela informação vivemos às escuras. Em 58 anos foram cinco guerras formais, o massacre de Sabra e Chatila, duas Intifadas, e horrorosos atentados terroristas. O pior é que apesar de tanta informação, os moderados de todos os lados não conseguem impor-se aos radicais. Alguma coisa está errada nesta engrenagem informativa. Ou no conteúdo do que ela produz. A CNN ficou ontem o dia inteiro acompanhando os debates do Conselho de Segurança e o dramático apelo do Secretário Geral da ONU, Kofi Anan para o fim das hostilidades foi repetido integralmente diversas vezes. Obteve-se alguma coisa, mas ainda é pouco. Está faltando na imprensa, ao contrário do que aconteceu na Guerra do Vietnã com a mídia americana, um empenho para acabar com a guerra. Agora este empenho precisa manifestar-se dos dois lados.



Sensibilidades


Nahum Sirotsky diz de Telavive que é muito triste o bombardeiro em Qana, mas, de onde está, o veterano jornalista vê na chuva de notícias uma inclinação anti-Israel. Certamente quem está no Líbano pensa que a violência dos ataques israelenses é subestimada. E esses são apenas dois lados de uma questão que tem muitos lados.


Fragilidade da ONU


Um dos pontos críticos da situação internacional que a mídia descura sistematicamente é a incapacidade da ONU para evitar escaladas bélicas. Aqui e ali, um comentarista toca no assunto, mas na massa de noticiário essa questão decisiva não é exposta com clareza.


Faltam biografias


Como fazem falta nos jornais biografias de parlamentares acusados de participação no esquema da máfia das ambulâncias. É claro que se deve dar aos acusados o mais amplo e irrestrito direito de defesa, como se deveria fazer sempre e muitas vezes não se faz, principalmente quando a pessoa é pobre e anônima.


A Folha presta serviço meritório ao publicar diariamente uma lista de acusados, mas é preciso mais.


Toda a informação é necessária para se ter a dimensão da gravidade seja de uma denúncia fundamentada, seja de uma acusação que se prove infundada.


É o caso do deputado Érico Ribeiro, do PP, Partido Progressista do Rio Grande do Sul. Ele é o maior plantador de arroz do Brasil, ou seja, um expoente do agronegócio, e um dos vice-presidentes da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul.


Se foi injustamente acusado, imagine-se o constrangimento em sua cidade, Pelotas. Se participou da máfia das ambulâncias, em troca de 10 mil reais, como tem sido noticiado, calcule-se o tamanho do ultraje à população e, em especial, ao empresariado gaúcho.


Assunto obscuro


A Veja desta semana traz sugestões para melhorar o ambiente político nacional. São mais sólidas e bem fundamentadas do que as soluções mágicas, entre aspas, que a revista publicou tempos atrás a respeito da segurança pública. Isso mostra que a cobertura de Política, apesar de tantas deficiências, ainda permite um grau maior de lucidez do que a cobertura sobre a questão da criminalidade. A violência afeta muito mais pessoas que, em sua maioria, não lêem nem jornais, nem revistas.