Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

>>Mais uma lista da vergonha
>>Violência fora dos palanques

Mais uma lista da vergonha


A lista de 15 deputados acusados de envolvimento no escândalo dos sanguessugas publicada hoje no jornal Valor dá uma triste maioria para o Rio de Janeiro. Há na lista um deputado do PSB, partido que se gaba na televisão de estar fora do mensalão. O deputado Cabo Júlio, hoje no PMDB, foi eleito como representante da Polícia Militar de Minas Gerais. O deputado Reginaldo Germano, do PFL da Bahia, foi relator na Câmara do projeto do Estatuto da Igualdade Racial.


Todos terão direito a defesa, mas é um triste retrato. Talvez ele fique mais feio com a revelação da lista completa de suspeitos, prometida para o início de agosto.


Violência fora dos palanques


Alberto Dines prega um pacto político para tirar dos palanques eleitorais o problema da violência.


Dines:


– Os jornalistas políticos, aos poucos, deixam de lado o pragmatismo, o ceticismo e começam a manifestar-se a favor de uma causa nobre, corajosa e a única capaz de produzir uma reação às ameaças do PCC. Trata-se do pacto político entre todas as forças para tirar o problema da violência dos palanques eleitorais. É isso o que deseja a sociedade civil e a sociedade civil por definição não dispõe de qualquer aparato institucional a não ser a imprensa. A sociedade civil quer soluções, quer mudanças, não pode e nem quer esperar até janeiro de 2007 quando o novo governo iniciar o seu mandato. Ontem, o colunista Clovis Rossi, da Folha de S. Paulo, lembrou que a Espanha só conseguiu chegar à democracia através do Pacto de Moncloa. Nossa democracia e o Estado de Direito estão seriamente ameaçados pelo narcoterrorismo. A politicagem eleitoreira de todas, de todas as partes só ajuda a bandidagem. Se a imprensa ainda se considera como porta-voz da sociedade civil deve obrigar os políticos a não envolver a política na questão da segurança.


Queremos trabalhar!


O fato social mais importante em toda a crise do PCC pode ter sido o brado “Queremos trabalhar!” ouvido nas ruas de São Paulo na quinta-feira. Mostra que há um fosso entre a violência criminosa e a opinião pública. É uma sinalização para a mídia. Mas ela precisa persistir também no esforço de entender melhor do que se está falando, com décadas de atraso em relação à origem do fenômeno, e semanas em relação ao surto insurrecional de maio.


No fim de semana várias reportagens, principalmente nos grandes jornais, conseguiram enxergar com mais precisão causas dos problemas.


Contra o corporativismo


Rodolfo Guttilla, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, Aberje, e diretor de Assuntos Corportativos da Natura, condena a proposta de estender a novas funções nas comunicações a obrigatoriedade do diploma de jornalismo.


Rodolfo:


– Isso já aconteceu no passado, com a regulamentação da profissão de relações públicas, a própria regulamentação do jornalismo. É um resquício corporativista. A sociedade deseja um profissional multifuncional, que domine as ferramentas, as tecnologias da comunicação, sem estar condicionado a um campo corporativo. Quando você vai à empresa e procura o profissional de comunicação, quem é ele? Ele não é necessariamente um profissional formado em comunicação. Ele é um administrador, ele é um atropólogo – meu caso, eu sou antropólogo –, um psicólogo que domina as técnicas de comunicação.


Isso certamente vai gerar reserva de mercado, pode gerar desemprego. É uma pena, porque o mundo caminha no sentido da auto-regulamentação. É um passo para trás. Espero que esse projeto seja vetado.


Chávez e Amazônia


Passou até agora em brancas nuvens uma advertência feita pelo ex-presidente José Sarney em artigo publicado na sexta-feira na Folha de S. Paulo. Ele disse que o plano do presidente Hugo Chávez de gastar US$ 60 bilhões em armas para transformar a Venezuela numa potência militar é uma ameaça ao continente. E explicou: “Quem pode saber se um presidente da Venezuela não achará que deve ocupar a Amazônia para evitar sua internacionalização?”