Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Meio & Mensagem
>>O Fórum e a censura

Entidades facciosas
 
Muitos poderão concordar com o fecho de um documento divulgado ontem na II Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa: “Nos regimes democráticos, nos quais o diálogo é a principal ferramenta de solução dos conflitos e construção dos consensos, a liberdade de expressão é pressuposto do qual não se deve arredar”.
 
Mas o teor do documento, o que antecede esse fecho, é faccioso. Discute apenas o que, no entender das grandes redes de televisão e dos maiores jornais, representa uma ameaça à liberdade de imprensa. Não aborda, por exemplo, a propriedade cruzada de meios de comunicação nem a forma como são dadas e renovadas licenças de radiodifusão.
 
Isso não espanta quando se lê a lista de entidades signatárias do documento, encabeçada pela Associação Nacional de Jornais, ANJ, e pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, Abert.


Meio & Mensagem
 
Daqui a pouco haverá reunião da diretora de redação do jornal Meio & Mensagem, Regina Augusto, com os integrantes da redação, que entraram em greve ontem para protestar contra a demissão do editor-adjunto, Costábile Nicoletta.
 
Ninguém pode obrigar um dono de jornal, ou diretor de redação, ou editor, que são prepostos do dono, a publicar o que quer que seja. Isso não é liberdade de imprensa. A discussão é outra: no caso específico, o obituário de Octavio Frias de Oliveira, publisher da Folha de S. Paulo, que provocou a demissão, trata-se de saber se a mídia de larga escala, e órgãos que gravitam em torno dela, como o Meio & Mensagem, aceitam diferentes versões sobre fatos e processos, sempre procurando-se garantir a busca da verdade e a qualidade editorial. Ou se só aceitam a história oficial.
 
E, dito isso, trata-se de saber se só com a história oficial se constrói uma sociedade democrática.


O Fórum e a censura
 
Alberto Dines relata uma confusão ligada à cobertura do 1º Forum Nacional de TVs Públicas, ontem.
 
Dines:
 
– Ontem à tarde o Sem Censura foi ao ar com alguma censura, tudo por causa do 1º Forum Nacional de TVs Públicas. Parece uma daquelas histórias absurdas escritas por Franz Kafka mas é rigorosamente verdadeira. Sem Censura é o nome do mais popular programa da TV-E do Rio transmitido todas as tardes  há 21 anos, produzido e apresentado pela jornalista Leda Nagle. A emissora que retransmite o programa em Brasília é a TV Nacional que faz parte do sistema da Radiobrás. Então aconteceu o seguinte: como havia interesse em valorizar a abertura do Fórum de TVs Públicas que deveria ocorrer em Brasília no mesmo horario do programa, alguém decidiu substituir o Sem Censura pela transmissão da solenidade. O programa foi ao ar normalmente na TV-E para o Rio e o resto do país mas foi omitido em Brasília. O Fórum ontem inaugurado foi uma iniciativa rigorosamente democrática do Ministério da Cultura para discutir o projeto de uma rede alternativa de TV o que também é uma iniciativa inovadora e democrática. A soma destas boas intenções não conseguiu evitar uma gafe que não chega a ser dramática mas é simbólica: a TV Pública precisa ser pensada prioritariamente para o cidadão-telespectador. Caso contrário, não fará sentido.


TV pública e privada
 
Discute-se como a nova TV pública será financiada e gerida. Essa discussão é importante, porque dela decorrerão virtudes ou vícios no futuro trabalho dessa rede.


Mas não vai resolver o problema político da pobreza de alternativas na chamada grande imprensa.


Classificação e abusos
 
As redes de televisão combatem a ferro e fogo midiático a classificação indicativa por horário para programas de televisão, em nome da liberdade de expressão. O assunto está agora no Judiciário. Hoje o Estadão informa que em sete anos de existência da portaria do Ministério da Justiça sobre classificação indicativa vinte ações judiciais resultaram em condenações de emissoras por terem cometido, no entender da Justiça, abusos que feriram os direitos infantis ou de outros segmentos.


Vila Cruzeiro é uma encruzilhada
 
Há algo de muito estranho numa ocupação policial que já produziu mais de trinta feridos e quatro mortos e não dá sinal de ter sucesso. No noticiário de hoje sobre a situação da Vila Cruzeiro, no Rio, aparece a estimativa de que há lá 150 traficantes bem armados e instruídos por desertores do Exército.
 
Os meios de comunicação limitam-se a descrever embates e a reproduzir declarações de autoridades. Não questionam se a política de segurança pública do Rio de Janeiro está ou não correta. Daqui a poucas semanas se realizará o Pan.