Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Mídia patrioteira
>>A guerra recomeça

Mídia patrioteira


A Rede Globo, a Bandeirantes e a Record faturaram juntas 620 milhões de reais com a venda de patrocínio para a transmissão dos Jogos Panamericanos do Rio. Só a Globo obteve 400 milhões de reais. A Folha de S. Paulo traz uma reportagem crítica, observando que os organizadores ignoram os erros e que fariam tudo igual numa eventual olimpíada. Dines, como você viu a cobertura do PAN?


Alberto Dines:


– Acabou o PAN, faturou-se o que se podia faturar com os patrocinadores, o bom senso parece que voltou a imperar nas equipes que cobriram o evento: apesar do número total de medalhas e o recorde  de ouros, está na hora de voltar à realidade: nossos atletas terão que penar muito para chegar às Olimpíadas de Pequim em 2008. E os que lá chegarem vão penar ainda mais para subir ao pódio. A mídia, como sempre, cobriu um evento esportivo internacional vestida de verde-amarelo. Quando se trata de futebol, todos se justificam – futebol é paixão. Mas os esportes olímpicos com tradição milenar pedem um pouco mais de distanciamento e esportividade. As vaias aos adversários do Brasil não teriam sido fabricadas pela cobertura jornalística, sobretudo a televisiva, claramente patrioteira? Este é o assunto da edição do Observatório da Imprensa desta noite. Às vinte três e quarenta na TV-Cultura; na TV-E, ao vivo, às vinte duas e quarenta.


Luciano Martins:


A guerra recomeça


Encerrados os Jogos Panamericanos, o Rio volta à sua rotina. Em todos os jornais, destaque para o balanço do PAN se mistura com a volta dos combates entre policiais e traficantes.


O Globo foi menos rigoroso em relação à organização do PAN. Noticiou que o prefeito César Maia pretende manter uma estrutura montada para lutar pelos Jogos Olímpicos de 2016 e que a promessa de uma linha de metrô até a Barra da Tijuca foi requentada.


O Estado de S. Paulo também fez um balanço mais ameno, poupando os organizadores e esclarecendo que uma boa avaliação dos Jogos Panamericanos do Rio pode ajudar o Brasil a sediar as Olimpíadas. O jornal acompanhou grupos de atletas estrangeiros em sua viagem de volta e constatou que não houve problemas nos aeroportos.


No mais, o noticiário esportivo escorrega para as páginas policiais: mal as delegações fizeram suas malas, e as forças policiais voltaram a ocupar algumas favelas.


Em Mangueira, Jacarezinho e Vigário Geral, uma pessoa foi morta, foram presos dez suspeitos, drogas e armas foram apreendidas. A polícia também encontrou e  desativou cinco casamatas de alvenaria onde os atiradores se abrigavam.


No Morro do Borel, segundo o Globo, um homem acusado de ser traficante foi morto em confronto com a Polícia Militar.


Como antes dos Jogos Panamericanos, a guerra segue sendo noticiada segundo a versão unilateral da polícia.


Depois das vaias


Os jornais destacam que o presidente Lula decidiu manter no Rio de Janeiro 75% das forças federais de segurança que haviam sido destacadas para os Jogos Panamericanos. Além disso, a cidade vai continuar contando com o sistema de vigilância composto por um aparato de 800  câmeras ligadas a computadores, 140 motocicletas, 550 carros e 24 aviões.


Os computadores, segundo Lula, serão usados num programa de inclusão digital de jovens carentes.


Pode ser que a iniciativa funcione como uma vacina contra vaias.


A Folha observa que o secretário nacional de Segurança ainda não sabia, ontem, como irá distribuir os equipamentos e tropas na retomada da guerra ao tráfico.


Bom de frases


Com sua saída da Infraero mais do que anunciada, o brigadeiro José Carlos Pereira voltou a brindar os jornalistas com frases de efeito duvidoso. Pereira afirmou que não deixaria o cargo fazendo críticas. ‘Preciso sair da mesma forma em que fui colocado’, afirmou. E acrescentou: ‘Tudo que entra sai, tudo que sobe desce’.


Mas o ainda presidente da Infraero não deixou de pautar os jornais. Ele declarou que a segunda pista do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, precisa de reparos.


A Folha e O Globo fazem dessa informação suas manchetes de hoje.  ‘Fissuras põem também a pista de Guarulhos em risco’, assume o Globo. Já a Folha prefere citar a fonte da informação, dizendo que ‘para Infraero, segunda pista de Cumbica não é confiável’.


O reversor é essencial


O Estado de S. Paulo preferiu destacar o fato de o presidente Lula da Silva ter sido convencido pelo novo ministro da Defesa, Nélson Jobim, a desistir da construção de um novo aeroporto em São Paulo.


É possível que, em vez de um novo aeroporto, o governo opte por ampliar a capacidade de Congonhas, com uma terceira pista e a extensão das pistas atuais para 2 mil metros.


‘Promessa do governo para terceiro aeroporto só dura dez dias’, diz a manchete do Estadão.


Também com destaque na primeira página, o Estado sai na frente de seus concorrentes ao informar que a TAM decidiu mudar suas instruções aos pilotos. ‘TAM decide proibir uso de aviões com reverso travado’, diz o jornal.


A empresa, que até a véspera afirmava que o equipamento não era essencial no Airbus, não explicou a contradição.


E os leitores ficam sem saber que o reversor se tornou indispensável só depois dos 200 mortos em Congonhas.