Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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>>A frente do desmate

O escândalo da hora

O escândalo que envolve tráfico de influência dentro do BNDES, com desvio de recursos para um esquema apadrinhado por conselheiros do banco de fomento, é o assunto que deve ocupar o lugar da falecida CPI dos cartões corporativos.

O epicentro do novo escândalo é o deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente da central Força Sindical.

O caso já vem se arrastando há mais de dois meses, e teve um momento de destaque no dia 24 de abril, quando foi preso o advogado Ricardo Tosto, conselheiro indicado para o BNDES por Paulo Pereira para representar a central sindical.

Tosto é conhecido por ser um dos responsáveis por manter o ex-governador Paulo Maluf fora da cadeia.

Na ocasião, Tosto saiu algemado de seu escritório, o que motivou protestos da Ordem dos Advogados do Brasil contra a Polícia Federal, que a imprensa acolheu rapidamente.

Desde então, os jornais vêm acompanhando com cautela o andamento das investigações, com uma cobertura bissexta que não facilita a seus leitores o entendimento do contexto da história.

A principal exceção é o Globo, que sempre tratou de manter o nome do deputado grudado aos nomes de todos os suspeitos citados pela polícia.

Agora o escândalo se torna uma peça pública de investigação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e a imprensa, em peso, elege Paulo Pereira da Silva o personagem do momento.

O pedido de cassação do deputado é manchete no Estado de S.Paulo, sub-manchete na Folha e título de primeira página no Globo.

Nas mesmas edições, os jornais noticiam o esfriamento do cadáver da CPI dos cartões corporativos.

Mais um escândalo para entreter os leitores?

Com certeza.

Mas este tem alguns ingredientes adicionais que a imprensa terá de administrar com mais cautela.

Além do advogado Ricardo Tosto, cuja influência sobre o ânimo dos jornais já se manifestou, os editores também têm que lidar com o fato de que o caso respinga no jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato, assessor do deputado e presidente do conselho de administração do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Vai ser interessante observar como se desenrola a cobertura.

Com o envolvimento de um jornalista e um advogado bem relacionado com a imprensa, a história adquire ingredientes corporativistas que complicam as decisões dos editores.

Vamos ver se a imprensa demonstra contra Paulo Pereira o mesmo apetite que revelou no caso que envolveu o senador Renan Calheiros no ano passado.

A frente do desmate

A posse do novo ministro do Meio Ambiente foi, como se esperava, uma festa.

O performático ministro encontrou no verborrágico presidente da República um parceiro ideal para a solenidade, na qual se falou de tudo, menos de planos efetivos para a preservação do patrimônio natural do Brasil.

Os jornais destacam que o presidente Lula comparou a ex-ministra Marina Silva a Pelé, relevam o informalismo do novo ministro e agasalham as novas promessas de rigor no controle de desmatamento.

Apenas o Globo tirou um pouco os olhos da festa de posse e deu maior visibilidade a outro episódio importante para entender a correlação de forças que envolvem o futuro da maior floresta tropical do mundo.

Praticamente ao mesmo tempo em que tomava posse o festivo ministro do Meio Ambiente, era lançada no plenário da Câmara dos Deputados a Frente Parlamentar de Apoio às Forças Armadas na Amazônia.

Hipoteticamente, a nova frente tem como objetivo dar suporte político à permanência e ampliação das forças militares na região amazônica, pretensão que tem apoio até do ministro da Defesa, Nélson Jobim.

O problema é que a frente parlamentar nasce sob a hegemonia da bancada ruralista, cujo outro nome é desmatamento.

Os discursos, aplaudidos por comandantes de alta patente, foram um rosário de manifestações saudosistas do regime militar e de críticas à política de proteção às populações indígenas.

Estavam presentes os chefes de Estado-Maior do Exército e da Aeronáutica e o chefe de Operações Navais, do Ministério da Marinha.

Pelo teor das manifestações, os inimigos são as ONGs e o problema da Amazônia é a demarcação de reservas indígenas.

Como disse o presidente Lula na posse de Carlos Minc, ele já falou em uma semana muito mais do que Marina Silva em cinco anos e meio.

As manifestações de poder dos inimigos da floresta fazem crer que ele vai precisar de muito mais do que palavras.