Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

>>O Supremo nas manchetes
>>Os mortos da democracia

O Supremo nas manchetes

O Supremo Tribunal Federal começa a julgar os acusados no chamado caso mensalão.
Esse é o tema que deve dominar o noticiário político nesta semana, ao lado do processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Alberto Dines:

– A imprensa já começou a acender os holofotes para julgamento da próxima quarta-feira no STF, quando será examinada a denúncia do Procurador Geral de República contra os ’40 do mensalão’. Colunistas políticos, repórteres e blogueiros não pouparam adjetivos, hipóteses e possíveis desdobramentos para esquentar o início de um julgamento que está sendo considerado um dos mais importantes na história da nossa suprema corte,  pouco antes do seu ducentésimo aniversário em 2008. Espera-se que seja um julgamento eminentemente técnico, mas é óbvio que terá profundas implicações políticas e, sobretudo, eleitorais. O suspense em torno do julgamento foi aumentado com a reportagem de capa da revista Veja onde cinco dos onze ministros do STF admitem que podem estar sendo grampeados  e destes cinco, três não vacilam em declarar que a suspeita número um recai sobre uma suposta ‘banda podre’ da Polícia Federal. Denúncia gravíssima, espalha desconfianças e dúvidas para todo lado. Como o governo e o partido do governo são réus indiretos e como a Polícia Federal, embora órgão do governo,  funciona como uma polícia judiciária, já está claro que o julgamento começará num clima de tensão máxima e com uma pauta ainda mais explosiva. É certo que em algum momento, além do mensalão, discuta-se também o desempenho da mídia.

O julgamento da década

O Supremo Tribunal Federal decide nesta quarta-feira se existem dados suficientes para a abertura de ação penal contra o ex-ministro José Dirceu e 39 outras pessoas envolvidas num suposto esquema de repasse de dinheiro público para a criação de uma base parlamentar de apoio ao governo.

É o chamado esquema do ‘mensalão’.

A Folha de S.Paulo traz hoje o melhor retrospecto da história, que já frequentou a imprensa diária no final de semana.



Segundo a Folha, os empréstimos que teriam alimentado o chamado valerioduto – sistema de pagamentos administrado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza – ainda não foram pagos.

O jornal lembra que a direção do Partido dos Trabalhadores não reconhece a dívida que teria sido feita por Valério sem as mais comezinhas regras bancárias.

40 mais 1

Os acusados no escândalo, que foram chamados pelo procurador federal Antonio Fernando de Souza de ‘Ali Baba e os 40 ladrões’, saberão nesta quarta-feira se o Supremo Tribunal Federal aceita ou não a denúncia do Ministério Público.

O mais destacado deles é o ex-ministro José Dirceu.

O Executivo teme, segundo a Folha, que, se ele for condenado, isso acabe sendo assumido pela imprensa como condenação política do próprio governo.

Segundo a Folha, logo após a apreciação do caso chamado de ‘mensalão’, o procurador vai apresentar acusação contra o senador Eduardo Azeredo, do PSDB de Minas Gerais. Ele é acusado de crime de peculato, e de ter sido o primeiro beneficiário do ‘valerioduto’.

Se for condenado, a pena pode ser de até doze anos de prisão, mais multa.

Mandatos ameaçados

O Globo lembra que oito governadores e três senadores estão com seus mandatos por um fio.

Dos oito governadores, três são do PSDB, dois do PMDB, um do PPS, um do PDT e um do PT.

Eles estão sendo julgados no Tribunal Superior Eleitoral por compra de votos, uso da máquina administrativa e abuso de poder econômico.

Segundo o jornal, o presidente do TSE garante que não haverá condescendência.
 
Os mortos da democracia

O Globo começou no domingo e prossegue hoje uma série de reportagens sobre ‘os brasileiros que ainda vivem na ditadura’.

A reportagem revela que pelo menos 1 milhão e meio de cidadãos, moradores em favelas do Rio, vivem submetidos a verdadeiros regimes ditatoriais, com tribunais paralelos e penas de suplício dignas da Idade Média.

Os moradores vivem sob o domínio de milícias, de policiais corruptos e traficantes.



Cada um desses ‘governos paralelos’ age por sua conta, julgando e condenando a penas que vão de choques elétricos à morte sob tortura.

O governo único que deveria garantir o mínimo de bem-estar a esses brasileiros é o único ausente.

Apresenta-se eventualmente, em cinematográficas ações de tiroteio, e quando as câmeras de televisão se retiram, devolve a população para seus algozes.

O Globo entrevistou muitas vítimas e descreve cenas de puro horror.

Nos 21 anos de ditadura, foram registrados oficialmente 136 desaparecidos políticos no Brasil.

Nos últimos 14 anos de vigência do regime democrático, de 1993 até junho deste ano, são consideradas desaparecidas no Estado do Rio 10.464 pessoas.

Conspiração ou ‘barriga’?

Veja investiu semanas, ouvindo sete dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal, para demonstrar que a nossa mais alta corte estaria sendo bisbilhotada por grampos da Polícia Federal.

Cinco dos ministros disseram que se sentem vigiados.

Entre eles, três magistrados nomearam os supostos bisbilhoteiros: a tal banda podre da Polícia Federal.

Mas o resultado é uma coleção de sofismas.

Veja
parte das suspeitas de alguns dos entrevistados para afirmar que, existindo, a prática criminosa seria ensaio de uma política autoritária no Brasil.

No cenário em que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, faz nova tentativa de tornar virtualmente perene seu mandato, a reportagem de capa de Veja pode criar a sensação de que, no Brasil, a Polícia Federal se transformou em agente de uma conspiração contra a democracia.

Briga interna

Veja gastou seis páginas e mais a capa em seu esforço para denunciar o esquema de escuta clandestina de magistrados – que pode até acontecer, a se considerar o poder que vêm acumulando os grupos criminosos incrustados no Estado.

Mas a revista Época, resolveu conferir a veracidade da denúncia.

E em apenas duas colunas de menos de cinco centímetros jogou areia no enorme esforço da concorrente.

Época descobriu que tudo começou com dois emails apócrifos recebidos pelo ministro Marco Aurélio Mello, nos quais o remetente dizia que a Polícia Federal havia gravado conversas telefônicas de Mello e outro magistrado do STF.



Uma rápida investigação, segundo a revista Época, revelou que os emails haviam sido produzidos por um ex-delegado federal, demitido a bem do serviço público. Tudo não passaria de uma invenção para prejudicar um desafeto.

Veja
tem uma semana para provar que há uma conspiração ameaçando o supremo templo da Justiça brasileira. Ou admitir que deu uma das maiores barrigadas de sua história.