Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Pausa para boataria
>>Imitar os pilotos

Pausa para boataria


Quem gosta de boato vai ter prato cheio neste feriado.


Financiamento de campanha


O jornal Valor procurou ouvir sobre dinheiro de campanha eleitoral, para reportagem publicada ontem, vinte sociedades anônimas. Só três responderam. A Natura e a Localiza informaram que não vão mais contribuir. A Ambev disse que vai continuar dando quantias iguais para todos os partidos. As outras 17 calaram o bico, o que é sintomático. Sintomático de quê? De que pouca coisa vai mudar.


Mas uma campanha na internet poderia convidar partidos e candidatos a voluntariamente publicarem suas receitas e despesas de campanha.


Imitar os pilotos


Alberto Dines pede que governo e imprensa revelem competência equivalente à dos pilotos que conhecem o rumo da viagem. Fala, Dines.


Dines:


– A nossa imprensa está tão perdida nesta história da Varig quanto o governo. Talvez pudéssemos dizer isso de outra forma: como o governo parece desorientado, a imprensa o imita. Ou ainda: como a imprensa não está sabendo cobrar providências e oferecer opções, as autoridades só conseguem balbuciar frases convencionais do tipo “não podemos colocar dinheiro público numa empresa privada”.


A verdade é que o governo está evidentemente ferido com a divulgação da denúncia do procurador- geral da República e parece baratinado: perdeu sua capacidade de agir e a imprensa há muito só consegue reagir, abriu mão da iniciativa, não sabe se antecipar. O clima é de apreensão não apenas nos aeroportos, mas no país inteiro, porque o brasileiro apreendeu a voar, precisa viajar com rapidez e há 15 dias só lhe oferecem incertezas. Quem tenta preencher este vácuo são os pilotos. Ontem, quinta, no vôo 2420 da Varig, do Rio para São Paulo, o comandante tomou a palavra pelo microfone e procurou assegurar que a sua função, além de levar o avião ao seu destino em segurança, é garantir a tranqüilidade dos passageiros. Os pilotos da Varig mostram que estão cumprindo com o seu dever. Pena que nem o governo e nem a imprensa fazem a sua parte.


Cabeças de chip


Vozes poderosas conseguiram impor à discussão sobre TV digital sua pauta estreita e imediatista: fábrica de chips, indústria de televisores, sistema de modulação, briga entre redes de televisão e empresas de telecomunicação, e por aí afora.


Aqui de seu cantinho, o Observatório da Imprensa tem martelado meses, anos a fio: o exame da TV digital deveria privilegiar o enriquecimento do conteúdo.


Mas prevalece a lógica dos horizontes limitados.


Se no Brasil os dirigentes pensassem a longo prazo, a educação pública não estaria do jeito que está.


Mistura indigesta


A mesmice das pautas da Semana Santa é uma ilustração de como funciona a máquina que combina informação, entretenimento e interesses promocionais.


Mas sobra também para o jornalismo propriamente dito. Ontem à tarde, na CBN São Paulo, os ouvintes tiveram direito a uma dessas metáforas que deveriam pagar multa: “O preço do bacalhau está salgado”.


Centenas de reportagens parecidas umas com as outras, nesta época do ano, colocam no mesmo plano dois ingredientes que não fazem a melhor combinação: bacalhau e chocolate. Argh!


Câmera oculta


O ex-editor do Jornal da Globo e do Jornal Nacional Ernesto Rodrigues, hoje professor de jornalismo da PUC do Rio de Janeiro, organizou o livro coletivo No Próximo Bloco – O jornalismo brasileiro na TV e na internet, onde escreveu:


“Concordamos com a gravidade dos erros jornalísticos, mas não sabemos nem aceitamos discutir o preço a pagar quando violamos a privacidade alheia de forma gratuita e irresponsável, quando não apuramos bem, quando embarcamos em denúncias precipitadas ou quando, tardiamente, nos descobrimos instrumentos da calúnia, da difamação e das conspirações de toda espécie”.


A despeito dessa tomada de posição firme, Ernesto Rodrigues concorda o uso de câmeras ocultas, que torna os jornalistas indistinguíveis de policiais.


Diz Rodrigues, em defesa das câmeras ocultas:


– A televisão não é discreta. Ela provoca mudança nas pessoas. Ela altera o comportamento dos entrevistados, altera o comportamento das pessoas em volta da equipe… Não estou tirando o valor de entrevistas nem de reportagens feitas com câmera normal. Agora, essas câmeras que são sensacionais para você pegar flagrantes, câmeras em que a TV filma sem ser percebida, isso é espetacular. Espetacular não no sentido de espetaculoso. Espetacular, mesmo. Você pega o cara dizendo: Me dá aqui trinta mil que eu faço isso ou faço aquilo. Você pega o cara com batom na cueca, não tem jeito. Isso é forte, e sempre será forte.


Mauro:


– É preciso argumentar que muita coisa forte não é aproveitada nos noticiários. Ainda bem.


# # #


Leitor, participe: escreva para noradio@ig.com.br.