Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

>>Pobreza, PIB e política
>>Promiscuidade institucional

Pobreza, PIB e política


O governo ganha hoje mais um elemento provisório de alívio: a Fundação Getúlio Vargas trabalhou com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, Pnad e constatou que a miséria diminuiu no país. O cálculo da FGV baseia-se na renda. Na quarta-feira o IBGE divulgará o crescimento do PIB no terceiro trimestre. O número é ruim para o governo e enfraquece politicamente o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.


Isso dito, é preciso deixar bem claro que a politização exacerbada de estatísticas não cria bom ambiente para a discussão da realidade nacional e das políticas públicas. Mas a mídia não consegue tirar o pé do acelerador.


Promiscuidade institucional


O Alberto Dines convoca a imprensa para se contrapor à promiscuidade institucional provocada pelo lançamento da pré-candidatura do presidente do Supremo Tribunal Federal à presidência da República.


Dines


– Mauro, só neste fim de semana é que alguns opinionistas resolveram comentar os procedimentos, digamos, inusitados ocorridos na última quarta, durante o julgamento do recurso do deputado José Dirceu. E apenas o Estadão incomodou-se no domingo com nova situação, no mínimo esdrúxula: o presidente do Supremo movimenta-se abertamente como candidato a candidato à presidência da República.


Veja que absurdo, Mauro: o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, portanto chefe do Poder Legislativo, apresenta o nome do Chefe do Poder Judiciário como candidato à Chefia do Poder Executivo. É a maior promiscuidade institucional desde os tempos da ditadura. E qual será o poder capaz de evitar esta lambança? Apenas a imprensa tem condições e legitimidade para impedir o prosseguimento desta falta de decoro generalizado nas mais altas esferas da República. A imprensa está ai para isso, resta saber se ela tem a disposição de enfrentar o presidente da nossa suprema corte. Como sabemos, uma indenização milionária pode acabar com a vida de qualquer empresa jornalística e estas questões relativas à imprensa geralmente correm no Supremo. O que estamos assistindo é um vale-tudo despudorado cuja origem está na consagração da impunidade.



Debates alvoroçados


A crise de corrupção de 2005 e a crise da campanha eleitoral de 2006, antecipada, se contrapõem ao encaminhamento sereno de questões administrativas. Algumas são totalmente estratégicas, como as verbas federais para a educação. No jornal Valor desta segunda-feira, 28 de novembro, o ministro da Educação, Fernando Hadad, coloca o assunto num contexto de conflito entre o Ministério da Fazenda e a Casa Civil.


A antecipação das eleições afeta a localização de nova refinaria de petróleo no Estado do Rio. O prefeito petista de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, defende que seja em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A governadora Rosinha Mateus quer a refinaria no Norte Fluminense, reduto do marido, Anthony Garotinho. No noticiário, nada sobre vantagens e desvantagens das duas propostas de localização da refinaria. Só conflito político.



Televisão digital


Existe um tipo de questão estratégica que não se submete a um recorte político-partidário, mas cuja discussão ocupa menos espaço do que seria necessário. É o caso das definições sobre a televisão digital. O debate é pobre, apresentado quase sempre como conflito em torno de escolhas tecnológicas. Mas o modelo econômico e o tipo de interatividade que permitirá são mais importantes.


As maiores interessadas diretas são as empresas de comunicação, em especial a maior delas, que tem o serviço jornalístico mais importante, que é a Rede Globo.


Hoje a Folha de S. Paulo mostra como a definição da tecnologia interessa a fornecedores europeus, japoneses e americanos.



Os inimigos da floresta


A revista Época publicou nesta semana reportagem com denúncia gravíssima sobre assassinatos já cometidos e encomendados no Pará.


Enquanto as Forças Armadas discutem doutrinas de defesa nacional que chegam a contemplar a hipótese de uma guerra de guerrilhas contra invasão estrangeira na Amazônia, constata-se cada vez mais que os maiores inimigos da floresta estão dentro do país. São grileiros, desmatadores, madeireiros, garimpeiros, empreiteiros e outros agressores. Sob o manto da omissão de sucessivos governos.