Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Reação venezuelana
>>Racistas são os outros

Alagoas
 
O Globo fez o trabalho de reportagem mais sensato e eficaz: mandou o repórter Alan Gripp a Murici, Alagoas, reduto da família liderada pelo senador Renan Calheiros. O panorama mostrado ontem e hoje ajuda a situar o presidente do Senado em seu contexto político.


Reação venezuelana
 
Alberto Dines diz que o presidente Hugo Chávez não contava com a reação de setores da população ao fechamento, ontem, da rede de televisão privada RCTV.
 
Dines:
 
– Enquanto o Brasil atola-se na corrupção, a Venezuela atola-se no autoritarismo. Aqui, imaginava-se que a lei só servia para punir os inimigos, Lá, o caudilho Chávez pensava que poderia fazer com a lei o que bem entendesse. Desde o escândalo Waldomiro Diniz, percebe-se uma atitude errática e insegura do Estado brasileiro no combate ao desvio de recursos publicos. Quando as denúncias eram feitas por arapongas disfarçados em jornalistas ou vice-versa, o governo jogava a culpa na imprensa sensacionalista. Mas os escândalos Vedoin, das máfias dos caça-níqueis e das licitações para obras foram revelados pela Polícia Federal através de procedimentos legais, tecnicamente corretos. Agora, alguns figurões políticos andam assustados com o excesso de grampos, algemas, desconforto dos camburões. Deveriam ter se preocupado antes com a decência de seus atos. A verdade é que o Brasil cansou de ser saqueado. Hugo Chávez, por sua vez, imaginou que o mundo democrático continuaria submisso aos seus petrodólares: calou o Congresso, subjugou o Judiciário e agora pretendia dar o golpe final no que restava de liberdade de expressão. Não contava com a reação do povo venezuelano, não contava com a repercussão externa.  Nem tudo está perdido.


Nova elite midiática
 
O correspondente do New York Times em Caracas, Simon Romero, escreveu no sábado reportagem em que mostra o surgimento de uma nova elite de mídia na Venezuela, ligada ao Estado.
  
Propaganda e consumo

 
Daniel Bergamasco assinou na Folha de ontem reportagem que derruba argumentos usados por fabricantes de cerveja para se opor à legislação que restringe a propaganda da bebida. São queixas feitas ao Conar, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. Queixas de umas contra as outras. As acusações são de que determinadas peças publicitárias induzem ao consumo abusivo de cerveja. A principal linha de ataque das empresas à regulamentação da publicidade consiste em dizer que ela não mexe com o tamanho do mercado, apenas promove mudanças de preferências. O Grupo Bandeirantes chegou a afirmar, na semana passada, que tudo não passa de manobra da Ambev para manter uma condição de quase monopólio no setor. A Ambev é a empresa que fez o maior número de denúncias no Conar.


Racistas são os outros
 
No documentário Zumbi Somos Nós, que estreou ontem à noite na TV Cultura, existe uma crítica à maneira como a mídia trabalhou, em 2005, no episódio em que o zagueiro argentino Desábato xingou o atacante brasileiro Grafite e saiu do estádio do Morumbi para uma delegacia policial. Quem explica essa visão é o DJ Eugênio Lima, um dos integrantes da Frente 3 de Fevereiro, que criou o documentário.
 
Eugênio Lima:
 
– Ela avalizava o senso comum. Não tinha nenhuma posição crítica. Na verdade, ela confirmava algo que depois fomos comprovar a partir de pesquisas. Perguntado para as pessoas se eram racistas, 90% das pessoas disseram que não. Perguntadas sobre se existe racismo no Brasil, 95% dessas mesmas pessoas disseram que sim. Racista é sempre o outro, mas cada um não é racista. Mas existe o racista. Aquele caso é exemplar. Porque era um caso de racismo que só nos competia delatar. O outro era argentino. Nem brasileiro era. A mídia reforçou uma idéia do senso comum que é: o brasileiro é uma espécie de ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados. Ela, que deveria ter um papel crítico diante da situação, não tem nenhum papel crítico. Ela só reforça os estereótipos e a idéia do senso comum.
 
Clique aqui para ler a entrevista de Eugênio Lima.


Rearranjos de poder


Duas entrevistas importantes hoje: o pesquisador Manuel Balán, da Universidade do Texas, diz no jornal Valor que as denúncias de corrupção servem a rearranjos de poder. Ele estuda casos em seu país natal, a Argentina, no Brasil e no Chile. Na Folha, o diretor-executivo da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, avalia que a discussão sobre reforma política é uma cortina de fumaça lançada sempre que figuras importantes são denunciadas. Abramo pede maior acesso a informações sobre as atividades dos governos.