Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Remuneração nas férias
>>Minissérie e História


As rádios Cultura FM de São Paulo e MEC AM e FM do Rio de Janeiro transmitiram hoje um programa antigo do Observatório da Imprensa no Rádio: o programa 154, de 6 de dezembro. Anunciava que o ex-ministro José Dirceu iria naquela noite ao Observatório da Imprensa na TV. O erro foi cometido por um programador da Rádio Cultura FM de São Paulo, que fez confusão com as datas 060106 e 060105. Pedimos desculpas aos ouvintes. O áudio correto estará em breve nesta página.   


 


Remuneração nas férias 


A devolução da remuneração de parlamentares pela convocação extraordinária do Congresso virou objeto de polêmica e tentativas de manipulação, seja entre os que se recusaram a embolsar o dinheiro, seja entre os que criticam isso como manobra eleitoreira. A imprensa deve à opinião pública uma análise mais profunda e equilibrada de todo esse processo, que, à falta de novas manchetes, tem ocupado boa parte do noticiário.



Minissérie e História


O Alberto Dines critica a confusão entre jornalismo e entretenimento.  


– Vou retomar um assunto que você levantou no seu blog do Observatório da Internet: o seriado JK, da TV Globo. Pois é, a mídia parece não estar muito preocupada em verificar a veracidade histórica da série. Quer apenas saber se está dando Ibope ou não está dando Ibope. Ora, quem deveria estar preocupada com o tal do Ibope deveria ser apenas a TV Globo que investiu muito, mas muito dinheiro na produção. O resto da mídia, principalmente os jornais, deveria olhar o outro lado e puxar a discussão para uma esfera mais séria.


Num país tão pouco inclinado a conhecer o seu passado, onde as gafes históricas cometidas pelas mais altas autoridades são quase diárias, é positivo substituir a história pela ficção? Qual o limite da ficção histórica? Não há limite? A Rede Globo com a sua equipe de historiadores e adaptadores deve ter total liberdade para apresentar a sua versão do passado. Mas a mídia impressa deveria ter se preparado com um pouco mais de cuidado para validar ou invalidar cada episódio. Televisão é entretenimento, espetáculo, show, enquanto a imprensa pretende ser o registro fiel dos fatos. Se jornais e revistas engolem balelas exibidas pela TV as próximas gerações estão condenadas a repetir estas balelas como se fossem a mais pura verdade. E isso pode ser grave.


Turbilhão de denúncias


Gerson Camarotti e Bernardo de la Peña são colegas na sucursal de Brasília do Globo e co-autores do livro Memorial do Escândalo – Os bastidores da crise e da corrupção no governo Lula. Foi lançado na segunda semana de novembro. É uma recapitulação muito útil dos acontecimentos. Permite perceber como, no turbilhão, alguns casos passam para segundo plano.


Três histórias que sozinhas renderiam semanas de reportagem podem ser rememoradas: a ligação de Marcos Valério de Souza com o atual vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade, a compra de um apartamento pela ex-mulher do ex-ministro José Dirceu Angela Saragoza e o aporte de capital da Telemar para uma empresa de um filho do presidente Lula. Entre muitas outras.


La Peña e Camarotti opinam que um ritmo tão avassalador de denúncias comprovadas não deixa escolha. Seria impossível dar a todos os fatos o mesmo relevo.


Bernardo de la Pena diz que os jornais “foram tomados por uma enxurrada de informações, denúncias, notícias”. Concorda com a visão de que alguns casos mereceriam ter tido tratamento diferenciado, mas afirma que isso não ocorreu devido às circunstâncias objetivas da cobertura. “Dezenas de vezes em que a gente teve que escolher, no Globo, especificamente, entre cobrir uma coisa e cobrir”, conta.


Gerson Camarotti é um entusiasta do trabalho dos repórteres de política de Brasília. Acha que a cobertura feita por todos os principais jornais e revistas foi muito boa, mas aponta o mesmo fenômeno. Diz ele: “São tantas as denúncias jorrando ao mesmo tempo que se você dá só uma coisa, não dá outras coisas”. Para Camarotti, a competição existente em Brasília funciona como fator de incentivo à qualidade da cobertura. Ele tem em alta conta o nível ético e a seriedade com que hoje se faz jornalismo na capital federal.


A necessária autocrítica


O veterano Luiz Garcia, do mesmo jornal O Globo, escreve nesta sexta-feira, 6 de janeiro, que é preciso temperar com autocrítica a sensação de dever cumprido: “É preciso reconhecer: praticamente todas as trapalhadas vieram à luz porque políticos quiseram, na forma que lhes interessava, no momento que desejaram. (….) Muito mais entrevistamos do que investigamos. Claro que é preciso ouvir quem tem algo a revelar, mas essa é apenas parte do ofício. Faz falta a informação crucial cavada por servir exclusivamente à opinião pública — e não oferecida gentilmente pelo político A para prejudicar o político B ou o partido C”.


Uma conseqüência política disso é que o governo se sente liberado para dizer que a mídia está sendo manipulada numa campanha da oposição, ou “das elites”.