Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Renan vira “novela”
>>Documentário para refletir

Senado viagiado


Uma série de reportagens sobre impunidade que o Globo publica desde a semana passada poderia servir de inspiração à imprensa na cobertura de escândalos no Senado. O jornal procura fazer uma revisão organizada desse panorama. O paradoxo senatorial é que quantos mais casos surgirem – agora, além de Renan Calheiros, entrou na berlinda Joaquim Roriz –, mais improvável se torna a punição de quem quer que seja. A saída para não deixar isso tudo cair no esquecimento é fazer recapitulações, sem esperar meses e anos para isso.
 
Renan vira “novela”


Alberto Dines critica a banalização do caso Renan Calheiros pelos principais jornais paulistas.


Dines:
 
– Tudo começou como um folhetim  e desde ontem, domingo, está parecendo uma autêntica telenovela. O Escândalo Renan está voltando à estaca zero, a sua importância política está sendo esvaziada não por causa de fofocas televisivas mas graças aos dois seríssimos jornalões paulistas que ontem aproveitaram o clima junino para espairecer. A Folha dedicou parte da sua capa e uma página inteira na parte interna, às confissões amorosas da ex-namorada do Presidente do Senado. “Amei demais”, confessa a nova namoradinha do Brasil, “fiquei muito triste como exploraram a minha intimidade”, acrescentou.  Já o Estadão com um pouco mais de compostura e menos destaque, foi na direção contrária. Preferiu ouvir a “legítima”, isto é, a mulher do senador que, como boa nordestina, não tem papas na língua: “Homem é mesmo muito besta” disse num surpreendente assomo feminista. Quem está preparando o terreno para adiar o Caso Renan para depois do recesso não é o governo nem a tropa de choque do senador alagoano. O Caso Renan caminha rapidamente para a pizzaria graças à irrefreável vocação da nossa mídia para banalizar as crises e converter em piada as nossas tragédias.


Vigário Geral e Parada de Lucas


Mais uma vez confirma-se denúncia feita pelo sociólogo José Cláudio Souza Alves sobre o padrão de conflitos entre o Comando Vermelho e o Terceiro Comando nas favelas de Vigário Geral e Parada de Lucas. Segundo o Extra e o Globo de hoje, a PM assistiu impávida a uma incursão de Vigário Geral e Parada de Lucas na noite de sábado. Só que o Globo, como se sabe, não dá os nomes das quadrilhas. 


Documentário para refletir


O cineasta João Jardim é o autor de Pro Dia Nascer Feliz, importante documentário sobre escolas brasileiras visto por mais de 50 mil pessoas em muitas cidades grandes do país, que nesta semana estréia em Vitória e Goiânia. O DVD de Pro Dia Nascer Feliz será lançado no final de julho. João Jardim fala da faixa específica em que transita o documentário, entre o noticiário algo raso da imprensa e uma reflexão mais aprofundada que atinge setores restritos do público.
 
João Jardim:
 
–  As matérias que eu lia, muitas no jornal, e via na televisão, deixavam muitas perguntas em aberto. E é justamente o que me causou grande curiosidade, entender o que está por trás daqueles números, daquelas denúncias. Infelizmente, no Brasil, a gente não tem o hábito de produzir um tipo de jornalismo reflexivo de consumo mais aberto. Você até tem isso na figura do Jabor, ou na figura desses cronistas assim, mas é sempre uma coisa muito opinativa. Justamente o que me interessou foi produzir uma peça de caráter opinativo – porque é uma coisa autoral; com certeza ali tem a minha opinião –, baseado em fatos reais, é um documentário, com o objetivo reflexivo. É sempre fato, só, é sempre fato, fato. Quando você vai para a questão mais reflexiva, você entra num tipo de produção que não é acessível para o grande público, que é ou o documentário que é muito hermético ou os cadernos de idéias dos jornais.
 
O que é interessante do filme, que foi o que eu quis produzir, é que ele é uma peça de estudo, uma peça de reflexão em si. Então a utilização que ele tem hoje em dia, é uma utilização das pessoas olharem para ele, ali tem tudo aquilo que os jornais denunciam visto de uma outra forma, mais humana, que permite uma crítica: “Ah, não, mas não é assim! Isso aqui não acontece aqui, isso aqui está exagerado”. “Ah, não! Mas faltou mostrar as experiências positivas”, faltou não sei o quê. Então, exatamente esse tipo de crítica ao produto e de reflexão sobre o produto, e dessa longevidade que o produto documentário tem, que de certa maneira falta.


Clique aqui e leia a entrevista completa de João Jardim.


Cinema nacional


Na Folha, reportagem cita posição do produtor de cinema Luiz Carlos Barreto a favor do reforço da distribuição de filmes brasileiros. A matéria trata de pedidos de financiamento feitos ao BNDES para a construção de 95 novas salas multiplex em capitais do país. No Jornal do Brasil, o ator e produtor Marco Ricca diz: “A Globo Filmes é um avanço, mas é monopolista. Tenho filmes que não posso divulgar na TV Globo. È a lei do mercado e sei que estamos acomodados, mas precisamos achar outros caminhos”.