Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Retórica irresponsável
>>Benefícios da boa reportagem


Retórica
irresponsável


O ex-ministro José
Dirceu comparou ontem no Rio de Janeiro a atuação da imprensa hoje à dos tempos
da ditadura militar. Ele se diz perseguido. Dirceu tem o direito, até mesmo o
dever, de questionar a cobertura de qualquer assunto. Mas a comparação com os
tempos da ditadura é um exercício injusto e perigoso de retórica de assembléia
estudantil.


Flancos
abertos


Três flancos abertos no
governo Lula: o caso Waldomiro Diniz, a possível participação da Receita Federal
na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e o prosseguimento
do inquérito da polícia de Ribeirão Preto contra o ex-prefeito e ex-ministro
Antonio Palocci.


Benefícios da
boa reportagem


Alberto Dines mostra
que a imprensa, quando apura e cobre corretamente os assuntos, presta um grande
serviço público.


Dines:


– Quando a imprensa
quer, consegue. Basta reunir as informações corretas, checar e, depois,
apresentá-las de forma convincente. Convincente e firme. Anthony Garotinho já
estava se comportando como pré-candidato à presidência quando o Globo
desvendou quem são os seus financiadores. Gente da pesada. Garotinho agora fala
em devolver o dinheiro mas o estrago na sua imagem já foi feito. E talvez
definitivamente. O petista José Mentor estava muito feliz por que o plenário da
Câmara salvou o seu mandato mas o Ministério Público descobriu que, antes da sua
participação no valerioduto, Mentor já havia recebido 300 mil reais para livrar
um doleiro da CPI do Banestado. Tudo indica que Mentor será julgado outra vez e
desta vez o crime é gravissimo – corrupção explícita. Não é milagre, é obra da
imprensa que empenhou-se em divulgar o resultado da investigação do Ministério
Público. Exemplos não faltam, onde há clamor da mídia há resultados, a sociedade
ou o Estado sabem ouvi-la e tomam providências. A imprensa é indispensável para
coibir abusos – basta que seja correta e basta que não esqueça de defender o
interesse público.


Candidatos em
apuros


Dines, os jornais desta
quinta-feira 27 de abril, abrem mais espaço para denúncias que envolvem os
ex-governadores Anthony Garotinho e Geraldo Alkcmin. Segundo o Globo, o
governo do estado do Rio pagou 112 milhões de reais a empresas que fizeram
doações para a pré-campanha de Garotinho. A Folha de S. Paulo noticia que o
banco estadual Nossa Caixa concentrou gastos em publicidade durante a campanha
eleitoral de 2002, em que Alckmin se reelegeu.


Estatais de todo tipo
fazem campanhas publicitárias neste ano eleitoral. E a mídia, beneficiária, nem
dá bola.


De uma
transposição a outra


O projeto de
transposição do Rio São Francisco aparentemente está parado. Mas não tem
problema. Agora chegou a transposição do gás venezuelano. Com direito a
estrelato do presidente Hugo Chávez. Quem hoje abre as cortinas do palco para
Chávez não deve se queixar amanhã. Chávez segue e seguirá os interesses de seu
governo na Venezuela.



Cobertura
internacional


O professor Antonio
Carlos Peixoto, coordenador-geral de Assuntos Internacionais do governo do Rio
de Janeiro, dá sugestões para melhorar a cobertura internacional feita pela
mídia brasileira.


Peixoto:


– A imprensa brasileira
não é bem preparada para opinar sobre as questões internacionais. Ela se baseia
em correspondentes. Esses correspondentes podem ser excelentes jornalistas. Mas
a verdade dos fatos é que eles não têm competência para opinar sobre
determinados processos internos de outros países. Eles opinam sobre os fatos, os
fatos que eles vêem.


Uma das saídas:
organizem-se algumas mesas-redondas, em jornais, canais de televisão, mas de uma
forma mais regular. Chamem especialistas. O Brasil está formando muita gente em
relações internacionais. Mas essas pessoas, como de costume, continuam cortadas
da imprensa. Outra maneira: peçam-se artigos a determinadas pessoas.


Mauro:


– O professor Antonio
Carlos Peixoto acha que os veículos de imprensa deveriam organizar listagens de
problemas relevantes por país, de modo a fazer coberturas sistemáticas. Garantir
método e conhecimentos de boa qualidade que permitam abordar com segurança
assuntos cada vez mais complexos e graves.


Métodos de
luta


Cedo ou tarde o país
terá de tomar algumas decisões em relação aos métodos de luta de determinados
movimentos sociais. Hoje nem o Estado democrático de direito exerce o monopólio
do uso da força, nem alguns movimentos conseguem obter adesão popular a
manifestações mais radicais. Há uma espécie de empate.


O noticiário destaca
agora a iminência de um conflito entre a Polícia Militar da Bahia e invasores de
uma fazenda da empresa Suzano. É uma ação do Movimento dos Sem-Terra.


A mídia fotografa,
filma, relata. Aqui e ali, deita um editorial enviesado. Faz pouco para analisar
os processos e colaborar na busca de soluções – que não podem, claro, ser
baseadas em coerção ou opressão.


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Leitor, participe:
escreva para noradio@ig.com.br.