Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Sigilo discricionário
>>Mandonismo eletrônico

Sigilo discricionário


A íntegra do depoimento de Marcola à CPI do Tráfico de Armas foi passada por deputados a redações de veículos de comunicação. Contém acusações gravíssimas, que podem prejudicar pessoas. Por isso, é um documento mantido sob sigilo. Mas o sigilo é violado, dia sim, dia não, de acordo com critérios de jornalistas desses veículos. A Folha divulga hoje, sem dar detalhes, acusações de Marcola contra um delegado de polícia.


Os deputados, que foram eleitos, transferiram a veículos de comunicação, que não são eleitos, a decisão sobre o que divulgar, e quando, e como.



Ônibus queimados


Faz dois meses que ônibus são queimados a mando do PCC, ou supostamente a mando do PCC, e não saem reportagens sobre os prejuízos que isso causa a passageiros, trabalhadores e empresários. O máximo que se informa é o montante dos prejuízos. Como se queimar ônibus fosse algo natural, comparável a enchente ou seca. Hoje há uma charge de Glauco na Folha sobre o assunto.


Mandonismo eletrônico


O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, fala do chamado coronelismo eletrônico.


Egypto:


– Será preciso novamente entoar uma ladainha antiga, porém cada vez mais necessária diante do descalabro representado pela concessão de canais de radiodifusão a políticos, principalmente aos que detêm mandatos.


Há tempos este Observatório vem batendo nessa tecla, inclusive por meio de uma representação ao Ministério Público Federal pedindo providências contra uma situação absolutamente inconstitucional. De acordo com o artigo 54 da Constituição, parlamentares estão proibidos de manter vínculos com empresa concessionária de serviço público, que é o caso das emissoras de rádio e TV. O artigo seguinte reza que perderá o mandato quem infringir as proibições estabelecidas no artigo anterior. Isto jamais ocorreu.


O que esperar desta mídia, que opera sob os ditames do mandonismo eletrônico, diante da grave crise de segurança pública nos centros urbanos? Esses latifúndios midiáticos serão capazes de convocar um pacto político contra a violência? A necessidade dessa iniciativa, aliás, é o tema do programa desta noite do Observatório na tevê. O programa vai ao ar às dez e meia da noite na TV-E e às onze e meia na TV Cultura.


TV Mirante, do Maranhão


Em entrevista dada em março ao site Congresso em Foco, o governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, disse que a TV Mirante, pertencente à família Sarney e afiliada da Rede Globo, recebia uma verba mensal fixa de R$ 700 mil. Quando Tavares, que havia sido aliado dos Sarney, cortou a verba, a TV Mirante entrou em conflito com o governo do estado e se recusou a veicular até campanhas de utilidade pública. Foi preciso que o governo recorresse à Justiça.


Segundo a Folha de hoje, a disputa eleitoral esquenta no Maranhão.


Assassinatos e orgasmo


O noticiário do fim da tarde pode descrever o assassinato a pauladas dos pais de Suzane von Richtofen, mas a novela que antigamente era das oito não pode, às dez da noite, reproduzir depoimento de uma senhora sobre orgasmo.


Tem gente na imprensa que se diz chocada. Todos os preconceitos se juntam, porque a depoente é negra e de condição social humilde. E algumas vozes timidamente falam em excesso de sexo nas novelas. Sem a menor dúvida. É coisa antiga. Sempre sob o comando de Madame Audiência. As emissoras deveriam pensar antes de ofender a sensibilidade de muitas pessoas.


O Globo Online colocou toda a história à disposição dos internautas.


Vidas domesticadas


O depoimento da anônima senhora sobre o orgasmo tem uma qualidade cada vez mais rara em aparições públicas: franqueza.


Em seu pedido de desculpas, o autor da novela, Manoel Carlos, disse que o depoimento deveria ter sido editado. Ele se arrepende de não ter cortado palavras ditas pela senhora. Páginas de vida, só as criadas e manipuladas pelos autores.


Com seus muitos anos de TV Globo, Manoel Carlos deveria saber que a emissora não convive bem com espontaneidade, com improvisão, com participação popular não domesticada.


A Globo lutará agora para implantar a tevê digital sem interatividade, ou com interatividade controlada.


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