Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Velhos cacoetes
>>Quem manipula o medo

Velhos cacoetes


A campanha eleitoral tende a seguir seu ritmo próprio, com os velhos cacoetes. Parece não existir no país configuração política que permita mudar esse roteiro.


Santo André


Foi feita ontem mais uma denúncia sobre uso de recursos ilícitos em Santo André para financiar o PT.


Tanto faz


A dura realidade da política brasileira: com o afastamento do senador petista Aloizio Mercadante para fazer campanha eleitoral em São Paulo, Romero Jucá, do PMDB de Roraima, assume o posto de líder do governo no Senado. Jucá exerceu a mesma função no governo de Fernando Henrique Cardoso.


Propagação na internet


O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Eypto, fala da propagação de boatos pela internet.


Egypto:


– A explosão da violência em São Paulo, na semana passada, continua a suscitar desdobramentos e é uma pauta ainda longe de ser esgotada. Entre as várias lições que o episódio deixou, sobretudo no tocante à capacidade da mídia de cobrir e mesmo antecipar fatos como aqueles, uma passou quase despercebida. Trata-se do alcance das ações deletérias praticadas por meio da internet, em especial a divulgação de boatos e a promoção do pânico.


Na edição online do Observatório, o jornalista Luiz Weis escreve sobre o poder desse terror eletrônico – que ele denomina “versão pervertida daquilo que os publicitários chamam propaganda boca-a-boca”. E, no caso da internet, com possibilidades infinitas de propagação.


Se a Web permite o privilégio da informação em tempo real e da pesquisa refinada – do conhecimento, enfim – traz também latentes os riscos da imprecisão, da falácia e da reles tolice. Quando não do crime propriamente dito. É uma arma que pode ser pior que um celular nas mãos erradas.


Notícias pré-fabricadas


Em entrevista ao Observatório da Imprensa na TV de ontem (23/5) à noite, a inspetora Marina Maggessi, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, reproduziu diálogo com um repórter de jornal paulista: – Não tem nada acontecendo aí? Meu editor diz que tem que ter alguma coisa. Vocês estão escondendo algo?


É um exemplo inesquecível do método, tão freqüente, de tentar encaixar os fatos numa moldura fabricada nas cabeças dos chefes. E, especificamente, o retrato da resistência mental a admitir algo que só os desavisados não querem ver: que a criminalidade não respeita fronteiras estaduais, ou nacionais.


Quem manipula o medo


O editor de opinião do Globo, Aloizio Maranhão, sugeriu no programa de TV uma reflexão das redações paulistas sobre a criminalidade e a necessidade de cobrir melhor a periferia. Disse que o desafio, para todos os veículos, é tratar não apenas da violência, mas também da segurança pública.


Renato Lombardi, da TV Cultura de São Paulo, relatou que alguns jornalistas tinham conhecimento da realidade agora explicitada, mas não imaginavam que tivesse chegado a tal ponto. Ele pregou a ida dos repórteres para a rua, onde os fatos ocorrem.


O juiz Walter Maierovitch, ex-chefe da Secretaria Nacional Antidrogas, propôs que a legislação faça distinção entre crime organizado e crime comum, e que se crie uma coordenação federal para enfrentar quadrilhas com características pré-mafiosas.


A antropóloga Alba Zaluar lamentou que a universidade tenha muito pouco conhecimento sobre grupos criminosos, entre outras razões porque foi expulsa das cadeias, hoje controladas por facções. Alba disse que os pesquisadores brasileiros são divididos por rixas pessoais e institucionais. A antropóloga advertiu que a manipulação do medo pode levar a medidas extra-legais e à crença em salvadores.


Estadão volta à rotina


Alberto Dines detectou uma mudança de comportamento dos grandes jornais diante da criminalidade, a partir da explosão de violência promovida pelo PCC. De fato, durante dez dias, desde domingo, dia 14, os três maiores jornais abrigaram noticiário farto sobre os fatos que paralisaram São Paulo. Mas hoje já há mudança. A Folha e o Globo continuam firmes na cobertura, mas no Estadão o impulso arrefece. O caderno Metrópole prefere colocar na capa o fechamento, por falta de energia, do Museu de Arte de São Paulo, Masp.


Ratinhos no Congresso


As sessões de CPIs estão cada vez mais parecidas com sucursais de programas do Ratinho. Os advogados de presidiários ouvidos ontem, e seus inquisidores, irradiavam uma aura de mundo cão. Delúbio Soares e seus inquisidores não deixaram uma impressão melhor.


A mídia não pode se limitar a transmitir ou sintetizar as constrangedoras sessões. Precisa qualificar o que transmite. No caso, desqualificar.


Isso não afetaria a imagem do Congresso Nacional. O que a afeta é a incapacidade de dar resposta a problemas do país. E a baixaria reinante.


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Leitor, participe. Escreva para noradio@ig.com.br.