Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

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Imprensa verde

O discurso do presidente Lula na ONU produziu um efeito que a ação de milhares de militantes, durante dezenas de anos, não havia conseguido: colocou a imprensa brasileira na defesa do meio ambiente.

Os jornais usam na edição de hoje os mesmos argumentos das organizações ambientalistas mais aguerridas para jogar água fria sobre o projeto brasileiro dos biocombustíveis.

Para contradizer a afirmação de Lula, de que o governo tem conseguido reduzir o ritmo do desmatamento na Amazônia, os jornais citam as mesmas estatísticas que têm ajudado os ambientalistas a criticar o agronegócio do etanol.

A imprensa se rendeu ao movimento verde.

Pelo menos nas páginas de política.

Midia e imprensa

O Estado de S.Paulo traz reportagem anunciando que a cúpula do PT vai cobrar do governo a mudança no sistema de concessões de rádio e TV.

Segundo o jornal, o partido governista quer tornar os critérios de concessão mais transparentes e menos políticos.

À primeira vista, a impressão do leitor é de que o jornalão paulista concorda com a proposta, mesmo porque em outras ocasiões o Estadão havia criticado a concentração de emissoras de rádio e TV nas mãos de politicos.

Mas do meio para o fim da reportagem, o viés passa a ser exatamente o oposto.

O Estadão observa que esse não seria o primeiro conflito do PT com ‘setores da imprensa’, lembrando a tentativa de criação do Conselho Federal de Jornalismo, frustrada no primeiro mandato de Lula.

Uma pequena mas conveniente confusão entre ‘mídia’ e ‘imprensa’.

Renan é descartável

O governo e a oposição fecharam ontem acordo para acabar com as sessões secretas no Senado em votações de cassação de mandato.

Em troca, a oposição vai desobstruir a pauta.

A reunião foi feita sem a presença de Renan Calheiros, que oficialmente ainda é presidente do Senado.

Renan também perdeu no Supremo Tribunal Federal.

A ministra Carmen Lúcia negou pedido do senador Almeida Lima para que a votação do próximo processo de Renan no Conselho de Ética fosse secreta.

Mais uma

Os jornais consideram que Renan também sai prejudicado na decisão do senador petista João Pedro, que resolveu interromper o processo contra o presidente do Senado no caso do suposto favorecimento à cervejaria Schincariol.

O relator vai esperar os dados de uma investigação da Câmara, que envolve o deputado Olavo Calheiros, irmão de Renan, para consolidar a denúncia.

Os jornais ponderam que a decisão pode fazer concidir o andamento desse caso com o processo pela compra de duas emissoras de rádio em Alagoas.

Com duas pedras desse tamanho nas mãos de seus adversários, Renan teria menos chance de evitar a cassação.

O direito de conhecer

Na sexta-feira passada foi noticiada a aprovação parcial da proposta de emenda constitucional que determina a abertura das sessões do Senado.

A Article 19, ou Artigo 19, uma ONG internacional que defende a Declaração dos Direitos Humanos no que se refere à liberdade de informação e expressão, veiculou recentemente uma carta considerando a sessão secreta do Senado uma ameaça à credibilidade das instituições democráticas brasileiras.

Em entrevista ao Observatório da Imprensa, a diretora da entidade no Brasil, Paula Martins, comenta o julgamento à escuras de Renan Calheiros e torce pela aprovação final da emenda.

Luciano:

– Paula, a imprensa muitas vezes apenas capitaliza algumas defesas para alimentar suas próprias pautas. Qual a importância da imprensa na defesa do acesso às informações públicas, sem que se crie um circo lucrativo sobre o assunto?

Paula Martins:

– É fundamental. Até para que as pessoas reconheçam ou tomem maior consciência de que o acesso é um direito e de que todos os cidadãos têm direito de aceder a essa informação. Então até em termos de divulgação do direito em si, a mídia tem um papel fundamental. E como coletor dessa informação e divulgador de informações específicas ela também tem uma papel fundamental, um papel duplo. De fomentador de um maior interesse pelo direito, pelo exercício desse direito. No momento, você fazer muito alarde e depois não acompanhar aquilo, não tentar aprofundar o tema é muito problemático. A gente não acha que este direito é absoluto. Então eu acho sim que, em alguns casos, existe um interesse público em resguardar, em ter sessões fechadas, por exemplo. Acho que são casos extremos, são muito poucos, deveriam vir definidos em lei e, mesmo assim, a gente analisar, se, naquele caso específico, o interesse público em abrir não é maior. Mas existe necessidade de se questionar, de se debater, de trazer à sociedade, então à mídia, à sociedade civil, ao governo, e debater quais são os limites. Como é que a gente aplica? Como é o procedimento? Esse é um debate necessário.

O ‘mensalão mineiro’ é do PSDB

Tanto refugou o PSDB, que acabou transformando em crise doméstica a ameaça de processo por conta do chamado ‘mensalão mineiro’.

Pivô do escândalo, como destaca a Folha de S.Paulo, e irritado com o isolamento que lhe impôs o partido, o senador Eduardo Azeredo jogou o problema no colo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A Folha explica que o PSDB decidiu isolar Eduardo Azeredo para preservar o governador Aécio Neves, sua melhor aposta para a sucessão presidencial de 2010.

Diz o jornal que o maior defensor da idéia de ‘rifar’ o senador mineiro é o ex-presidente Fernando Henrique.

O troco

Azeredo já demonstrou que não vai arcar sozinho com o escândalo.

Ontem, ao chegar ao gabinete do senador Sérgio Guerra, para uma reunião com dirigentes do PSDB, o ex-governador de Minas deixou claro aos jornalistas que espera a solidariedade do partido.

O Estadão registrou sua frase: ‘Para começar, essa campanha não foi só minha, foi do PSDB todo, inclusive de Fernando Henrique à reeleição’.

O Globo também registra o desconforto de Eduardo Azeredo, mas poupa o ex-presidente Fernando Henrique.

Azeredo admite que houve problemas na prestação de contas da campanha de 1998, mas afirma que, na sua tentativa de se reeleger governador, foram gastos apenas os 8 milhões e meio de reais contabilizados oficialmente, ‘e alguma coisa a mais’.

E deixou no ar o destino dos 100 milhões de reais que aparecem na denúncia.