Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Ingredientes políticos
>>O dia seguinte

O papel da mídia é levantar pistas, buscar testemunhos e descobrir evidências. Mas a mídia não pode prejulgar. Pode e deve extravasar a indignação e a revolta. Mas a mídia não pode presumir culpas. O erro do governo na tragédia da Gol, ao longo de Outubro passado, foi justamente o de permitir que o ministro da Defesa, Waldir Pires, lançasse suspeitas sobre os pilotos americanos para evitar que o governo fosse arranhado entre o primeiro e o segundo turno das presidenciais. Agora, nesta catástrofe, a mídia não pode cometer o mesmo pecado e embarcar em hipóteses delirantes sobre o comportamento dos pilotos da TAM. Eles não podem defender-se, estão mortos, e a caixa preta ainda não foi aberta. O que se espera da mídia é que seja  veemente e perseverante para que o caso não seja triturado e esquecido em poucos meses como costuma acontecer. Há nesta tragédia da TAM ingredientes eminentemente políticos sobre os quais a mídia não pode calar-se. Estes sim devem ser questionados com rigor e denunciados. Quanto mais cedo melhor. Mesmo que o tersol do presidente Lula ainda não esteja completamente curado.


Luciano:


Alberto Dines tem outro comunicado a fazer aos ouvintes.


Dines:


O Observatório da Imprensa não foi retransmitido pela TV-Cultura na noite da terça-feira. Justifica-se: a emissora estava em Congonhas na hora do desastre e graças a isso conseguiu imagens exclusivas e as exibiu extensamente. O presidente da Fundação Padre Anchieta pediu desculpas ao editor do Observatório da Imprensa. Mas poderia ter oferecido a sua magnífica cobertura à TV-E. Mas a TV-E, por sua vez, não se lembrou  de retransmitir a cobertura daquela que poderá ser uma de suas futuras parceiras. A verdade é que a Rede Pública de TV perdeu nova oportunidade para mostrar o seu potencial.


O dia seguinte


No dia seguinte ao da tragédia, o que os jornais apuraram aponta para uma nova direção nas investigações sobre a queda do Airbus da TAM no aeroporto de Congonhas. Parlamentares que integram a chamada CPI do Apagão Aéreo tiveram acesso a um vídeo do circuito de segurança do aeroporto e constataram que o avião se aproximou da pista a uma velocidade muito superior ao que se recomenda para o pouso. Essa informação coloca no horizonte outras hipóeses além daquela que predominou no primeiro dia, de que o acidente tenha sido provocado por inadequação da pista principal de Congonhas. Como, aliás, é de se esperar no caso de ocorrências complexas como os acidentes aéreos.


A manchete do Globo seria perfeita, se não fosse redundante.
“Infraero, Anac, Decea, Cindacta, FAB… e não se sabe o que houve”, diz o jornal, observando que o Brasil tem mais de dez órgãos cuidando da aviação, mas as repetidas tragédias não têm responsáveis.


A Infraero afirmou, e está nos jornais, que a falta de ranhuras na pista principal de Congonhas está descartada como causa do acidente. E os próprios jornais informam que a investigação deve durar pelo menos dez meses.


Erramos no infográfico


Os leitores que acompanharam a evolução das notícias devem estar se questionando sobre o que fazer com o infográfico de página inteira publicado ontem pelo Estadão, no qual se afirma que o avião estava a 240 quilometros por hora, o piloto tentou frear, não conseguiu, o avião derrapou e tentou arremeter. Ou seja, o jornal claramente apostava na hipótese da pista molhada e sem as ranhuras previstas como causa da tragédia. As informações colhidas pelos parlamentares da CPI indicam que a velocidade do pouso era muito superior ao normal e que não houve derrapagem.

No infográfico de hoje, o Estadão coloca três possibilidades, entre as quais falha no equipamento mecânico do avião e erro do piloto.


História antiga


De qualquer maneira, seguem sem resposta os questionamentos feitos pelos moradores da região do aeroporto, que há décadas pedem sua transferência para fora da cidade. Dez dias antes da maior tragédia da aviação brasileira, a Associação de Moradores de Moema havia obtido uma medida liminar da Justiça restringindo o horário de operações de Congonhas. Lígia Horta, presidente da entidade, volta a pedir que as autoridades e empresas aéreas examinem a possibilidade de reduzir progressivamente as operações até o completo desativamento do aeroporto.


Juros para baixo


A tragédia de Congonhas empurrou para escanteio a notícia sobre a redução em meio ponto porcentual na taxa básica de juros. A medida tira o Brasil da condição de país com o maior índice de juro real, calculado com o desconto da inflação. A repercussão otimista da decisão do Conselho de Política Monetária, de baixar a taxa Selic de 12% para 11,5%, bem recebida por investidores, economistas e empresários da indústria, quase se perde em meio ao luto que domina o noticiário de todos os grandes jornais.