Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Jornalismo e eleições
>>A Record é fiel

Jornalismo e eleições

A notícia, destacada pelo Globo e pela revista Época, de que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, mandou investigar os contratos da prefeitura, feitos no tempo de Marta Suplicy, com a Finatec, vai esquentar a disputa eleitoral na cidade antes do tempo.

A Finatec, fundação que presta serviços à Universidade de Brasília, está sob intervenção, e a imprensa havia esquecido temporariamente o reitor Timothy Mulholland, acusado de gastos abusivos na esteira do escândalo dos cartões de crédito corporativo.

Uma olhada no noticiário recente sobre o reitor Mulholland revela que, entre outras denúncias, ele foi citado numa investigação do Ministério Público como tendo gasto R$ 470 mil de verbas públicas na reforma do apartamento oficial de Brasília, onde mora.

Além disso, a Finatec foi investigada no ano passado pela CPI das ONGs, e ficou marcada, em 2005, como envolvida na chamada ‘màfia dos concursos’ denunciada pela Operação Galileu.

Em um dossiê sobre fundações universitárias do ano passado, a Revista da Associação dos Docentes da USP também já indicava que, gozando de isenção fiscal e prestando serviços alheios à universidade, a Finatec teve contas questionadas pela Receita Federal e pelo Ministério Público do Distrito Federal em 1997 e 1998.

A mesma reportagem reproduz contestação pelo Tribunal de Contas da União de contratos, de 1997 a 2003, entre a Finatec e o Ministério da Agricultura.

A revista Época desta semana fez o serviço de trazer de novo o assunto para a opinião do público. Seus repórteres tiveram acesso a detalhes dos contratos entre a prefeitura de São Paulo na época de Marta Suplicy e a fundação.

Mas há muito mais do que isso.

A história de desvios da instituição criada há 15 anos para alimentar a produção científica da UnB tem mais de dez anos.

Há outras prefeituras e instituições públicas envolvidas. Aí é que entram dona Marta Suplicy, Gilberto Kassab e a campanha eleitoral em São Paulo.

Na edição desta semana, Época soube fazer algo que cabe às revistas semanais de informação: apresentou um bom balanço das denúncias sobre abusos com as fundações, fazendo emergir novos fatos.

Resta ver como vai se comportar a imprensa em geral conforme esquenta a disputa eleitoral na maior cidade do País.

A Record é fiel

A avalancha de ações judiciais contra jornalistas, claramente coordenada por advogados a serviço da Igreja Universal do Reino de Deus levanta outra vez o pano sobre alguns temas pouco abordados pela imprensa.

A clara ameaça à liberdade de imprensa não é representada apenas pela canhestra tentativa de manipular a Justiça. Ela se apresenta em outras formas de intimidação e no uso da Rede Record, uma concessão de serviço público, na estratégia da organização de negócios vinculada à denominação religiosa.

Ouça o comentário de Alberto Dines:


– Os juristas designaram o processo como “litigância de má-fé”, mas nós jornalistas  preferimos usar as palavras inequívocas, claras: o bispo-empresário Edir Macedo está tentando ocultar a verdade, obstruir investigações. Isso é crime. E ainda por cima orquestrou um amplo processo de intimidação contra jornais e jornalistas. As reportagens escritas pela jornalista Elvira Lobato na Folha de S. Paulo sobre o império mediático da Igreja Universal não tratam de religião nem de crenças. Tratam de irregularidades, ilícitos. Não contente em fazer mau uso  de  concessões públicas oferecidas por um Estado secular, o bispo Edir Macedo tentou converter estas denúncias numa questão religiosa. Este é um caso exemplar e o Observatório da Imprensa vai tratar dele hoje à noite com todos os seus desdobramentos. Às 22:40 na TV-Brasil. Pela Internet ao vivo em www.tvbrasil.org.br.


A partir de 11 de Março o Observatório retorna ao seu horário na TV-Cultura.