Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

>>Liminar para encerrar greve
>>A Bolívia e o homem comum

Liminar para encerrar greve


Nada mais brasileiro do que ganhar uma liminar na Justiça para encerrar uma greve de fome cuja motivação não convenceu. Do ponto de vista da credibilidade da imprensa, o que importa é esclarecer tanto quanto possível os fatos denunciados: ONGs intermediárias de fundos de campanha e avião de traficante alugado. Se o ex-governador Anthony Garotinho conseguir provar que lhe foram feitas acusações infundadas, mantém relevância na política nacional.


Tiroteio e esquecimento


Mas vem aí a convenção do PMDB, depois retoma-se a campanha, a crise na Bolívia vai se intensificar até as eleições para a Constituinte. Se os padrões usuais prevalecerem, ficará o dito por não dito e o não dito por dito.


A Bolívia e o homem comum


Alberto Dines mostra, a propósito do noticiário sobre a Bolívia, como jornalistas escrevem para jornalistas.


Dines:


– Qual é a maior preocupação do cidadão brasileiro com relação ao contencioso com a Bolívia? Por acaso o cidadão brasileiro está preocupado com as firulas diplomáticas ou quer saber o que vai mudar na sua vida se o presidente Evo Morales prosseguir na escalada nacionalista? De esquerda ou de direita, simpático ou opositor do PT, o cidadão brasileiro quer saber se vai faltar gás, se o preço do botijão vai aumentar muito e quer saber como anda a exploração dos poços no litoral santista, que deve acabar com a nossa dependência da Bolívia. E parece que isso o cidadão não está encontrando na mídia, mais preocupada com a dramatização e a politização do episódio do que com as suas conseqüências práticas na vida cotidiana. É preciso não esquecer também os milhares de pequenos acionistas da Petrobrás que usaram seu FGTS para ganhar o status de sócios da maior empresa brasileira e agora estão ameaçados de ver suas ações se desvalorizarem. Estes ainda estão no escuro, quase 15 dias depois da nacionalização decretada por Evo Morales.


Mais uma vez evidencia-se que jornalistas escrevem para outros jornalistas, ou, na melhor das hipóteses, escrevem para os políticos lerem. Raramente pensam no cidadão-leitor, e isso talvez explique alguns dos grandes problemas da nossa mídia.


Quadro histórico ausente


O ex-presidente José Sarney pede hoje sensatamente, em sua coluna na Folha de S. Paulo, lucidez no diálogo com a Bolívia. Mas o noticiário continua raso. Se tivessem ido aos livros de história, os jornais teriam constatado que nas relações entre Brasil e Bolívia existe um episódio anterior de hesitação brasileira. Num tratado de 1867, terras que hoje constituem o Acre haviam sido atribuídas à Bolívia. Mas elas foram povoadas e exploradas por brasileiros. No fim do século XIX, a Bolívia decidiu exercer direitos sobre o território. E o governo brasileiro a princípio lhe deu razão. O conflito se intensificou. Só em 1903, no Tratado de Petrópolis, o ministro Rio Branco resolveu a pendência, ao mesmo tempo com determinação e muita habilidade.


Desordem no campo


A sucessão de eventos irresistivelmente midiáticos – Evo Morales, Silvio Pereira, pré-campanha eleitoral, Garotinho, Varig – oculta a crise agrícola, da qual se noticiam epifenômenos, como piquetes com tratores em remotas estradas. Essa é uma crise que poderá ter grandes e graves conseqüências. Anunciada há muitos meses, sistematicamente descurada pela imprensa.


Balizas de campanha


Espera-se que a Justiça Eleitoral ponha alguma ordem na regulamentação da campanha eleitoral deste ano. A legislação aprovada no Congresso foi feita de modo improvisado, ao calor dos acontecimentos recentes. O veto limitado do presidente Lula não resolve o problema. Deixar os poderes envolvidos cuidar do assunto é dar à raposa a guarda do galinheiro.


Longe dos holofotes


A repórter Soraya Aggege, autora da entrevista de Silvio Pereira ao Globo que a CPI dos Bingos quer convidar para depor, está em Viena. Foi enviada pelo jornal para cobrir a reunião de cúpula entre a União Européia e países da América Latina e do Caribe.



Baixaria sectária


Nelson Motta capta com agudo senso crítico, na Folha desta sexta-feira, 12 de maio, uma característica dos blogs sobre política criados em 2005 na internet: provocam comentários que lembram discussões de botequim sobre futebol: “Petistas, tucanos e garotistas se equivalem em baixeza e em ignorância nas ofensas e nas acusações”. Nelson Motta faz referência às honrosas exceções de leitores que têm algo de novo ou sábio a dizer.


Aqui no Observatório da Imprensa podemos afirmar, sem demagogia e com orgulho, que o público participa, na absoluta maioria dos casos, em alto nível. E isso já acontece há dez anos.


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Leitor, participe: escreva para noradio@ig.com.br.