Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Notícia ruim domina jornais
>>Crime cultural

Notícia ruim domina jornais

O noticiário econômico sofre hoje o impacto dos indicadores do último trimestre do ano passado, que apontam uma queda abrupta do Produto Interno Bruto.

Dos principais jornais brasileiros, apenas o Estado de S.Paulo registrou com destaque, na primeira página, que apesar do tombo no quarto período, o ano de 2008 terminou com um crescimento de 5,1% do PIB.

Os dados, apresentados de maneira impactante nas manchetes de hoje, eram anunciados por analistas do setor financeiro há pelo menos um mês, com base em informações do setor industrial sobre desova de estoques e redução da produção.

A imprensa centrou seus esforços em rechear a notícia da queda do PIB com análises e previsões, majoritariamente pessimistas, misturando a opinião de economistas com palpites de políticos.

O resultado é uma sopa de letras da qual o leitor dificilmente poderá tirar alguma conclusão sobre o tema central, a economia brasileira em meio à crise internacional.

O único ponto em comum, que pode emitir algum sinal de orientação para os leitores, é a opinião quase unânime de que o Conselho de Política Monetária, Copom, deverá reduzir a taxa básica de juros significativamente.

Alguns arriscam até mesmo o palpite de um corte de 2%.

A mistura de opiniões de políticos em meio às análises de especialistas não ajuda os jornais a cumprirem seu papel.

Apenas reforça a impressão de que a chamada grande imprensa tem uma predileção mórbida por notícias negativas.

Para efeito de comparação, observe-se, por exemplo, que entre os jornais especializados, a Gazeta Mercantil registra que o PIB de 2008 foi o segundo maior em toda a história econômica brasileira, perdendo no ano passado, em termos mundiais, apenas para a China.

A Gazeta observa ainda que os indicadores mostram uma mudança no perfil da economia brasileira: em 2009 o Brasil será menos industrial e mais sustentado pelo setor de serviços.

Os chamados grandes jornais de assuntos genéricos não destacam a disparada da Bolsa, que ignorou os indicadores do quarto trimestre e subiu 5,59% nesta terça-feira, dia 10.

Em outras circunstâncias, a imprensa teria destacado o desempenho da Bolsa como a notícia mais importante do dia.

Desse jeito, alguns leitores podem ficar com a sensação de que os jornais não correm atrás da informação mais relevante, mas daquela que provoca maior impacto emocional.

Crime cultural

A televisão brasileira ignora solenemente a norma constitucional que manda priorizar a produção regional de notícias, cultural e artística.

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Num país das dimensões do Brasil, dono de rica e multifacetada diversidade cultural, é mais do que óbvia a relação entre o fortalecimento da identidade nacional e a regionalização da produção de conteúdo audiovisual, sobretudo quando se constata – como já constatou o IBGE – que mais de 90% dos lares brasileiros dispõem de um ou mais aparelhos de TV. Este é um assunto tão sério que há muito está presente na pauta dos estudiosos da comunicação e dos formuladores de políticas públicas para essa área. Tanto que há mais de vinte anos, durante o processo de construção da Constituição promulgada em 1988, o legislador previu, no capítulo “Da Comunicação Social”, um artigo específico que obriga à programação das emissoras de rádio e televisão observar, entre outras deveres, a “regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei”.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas o problema está na expressão “percentuais estabelecidos em lei”. Ocorre que o artigo 221, em que pese sua pertinência, nunca foi regulamentado. A ex-deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) bem que tentou, mas seu projeto de regulamentação tramita no Congresso Nacional há exatos 18 anos. Quem controla as emissoras – muitos políticos, aliás – prefere trabalhar com uma programação pasteurizada, uniforme, enlatada, e por isso mais barata.

Resultado: o estudo “Produção Regional na TV Aberta Brasileira”, recentemente divulgado pelo Observatório do Direito à Comunicação, pesquisou 58 emissoras em 11 capitais das cinco regiões brasileiras e descobriu que apenas 10,83% da programação são ocupados por conteúdos de origem local. Trata-se de um vexame, se não fosse um crime. Um crime cultural.