Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Notícias de violência
>>O avanço para trás

Notícias de violência


Os três jornais brasileiros de circulação nacional abordam a questão da violência, nesta sexta-feira, de ângulos distintos.


A leitura das três reportagens revela um retrato preocupante de um tema que não tem merecido muita atenção da imprensa.


A primeira delas, publicada pelo Globo, revela que o controle de armas de fogo é extremamente precário em todo o Brasil, com a situação, segundo o jornal, chegando a ser calamitosa na maioria dos Estados.


A informação foi colhida de uma pesquisa realizada em parceria entre a ONG Viva Rio e a Comissão de Segurança da Câmara dos Deputados.


Segundo o Globo, boa parte das armas apreendidas pela polícia retorna às mãos de criminosos.


Não existe uma política nacional de controle de armas e na maioria dos Estados os governadores não dão importância ao problema, embora ele esteja diretamente relacionado ao aumento da violência.


Estão disponíveis no Brasil cerca de 17 milhões de armas de fogo, 90% delas em mãos de particulares.


A pesquisa revela que muitas dessas armas são roubadas das polícias estaduais e dos arsenais das Forças Armadas.


Outra notícia inquietante saiu na Folha de S.Paulo, mostrando como a Justiça resolve o problema da superlotação dos presídios e cadeias públicas: mandando soltar criminosos.


A terceira, que saiu no Estado de S.Paulo e completa o quadro, revela que o número de latrocínios, ou seja, roubo seguido de morte, ocorridos até setembro na capital paulista, superou os índices de todo o ano de 2008.


Esses dados podem ser ainda mais graves, considerando-se que existem falhas no sistema de estatísticas da Secretaria de Segurança, afirma o jornal.


Desde que foram criadas as restrições ao porte de arma, o número de mortes por arma de fogo no Brasil caiu 12%, mas o Brasil é campeão do mundo em homicídios a bala, em termos absolutos.


Em números relativos, proporcionais ao tamanho da população, fica atrás apenas da Venezuela, El Salvador e África do Sul.


Essa é uma pauta urgente a ser assumida pela imprensa.


Principalmente porque a bancada da bala está tentando abrandar o Estatuto do Desarmamento no Congresso Nacional.


O interesse dos criminosos e dos fabricantes de armas não pode se sobrepor aos interesses da sociedade. 


O avanço para trás


Alberto Dines:


– Novo brinquedo eletrônico na praça, mas não se destina às crianças. O Kindle é um gadget para adultos, abonados e novidadeiros: trata-se de um leitor eletrônico de livros, lançado pela  livraria digital Amazon. Custará no Brasil cerca de mil reais e desde já tem à disposição 200 mil títulos que podem ser baixados do próprio aparelho em 60 segundos. A direção da Feira de Frankfurt, o maior evento editorial do mundo onde o aparelho foi apresentado, já previu que o livro de papel acabará até 2018. Dois anos depois da Olimpíada do Rio.


Jornais e revistas estão excitadíssimos. O Globo já anunciou sua adesão: sua edição impressa já está disponível no Kindle. O aparelho foi capa de revista no último fim de semana e Paulo Coelho, o maior fabricante de livros, proclamou que “quem não adotar a nova tecnologia ficará tão antigo como os monges medievais.”


Então, um “viva” aos monges medievais – o eles sabiam o que é bom. De qualquer forma, os  próprios jornalistas que se encarregaram de promover o incrível aparelhinho estão dizendo que a sua primeira versão é tosca e as páginas não são muito claras.  Os fabricantes anunciam que funcionará com a mesma tecnologia dos celulares embora isto não seja uma garantia de qualidade: como sabem os milhões de usuários das grandes cidades brasileiras, seis de cada dez ligações por celular são imperfeitas, perdem-se ou não conseguem ser completadas.


Os alegres promotores do fim do livro impresso também não informam o peso da maquineta nem a sua portabilidade. Muito menos respondem a algumas perguntas essenciais: é possível ler um kindle na cama, no metrô, no toalete? A nova noção de progresso é muito estranha, tem algo de medieval: ao invés de saudar avanços, regozija-se com retrocessos.


Portabilidade é a questão central nos veículos impressos. Não foi Gutenberg quem inventou o livro, o livro já existia antes dele. Johannes Gutenberg, de Mainz (Mogúncia), inventou os tipos móveis, quem inventou o livro tal como o conhecemos hoje foi o veneziano Aldus Manucius, meio século depois. Era verdadeiramente portátil.