Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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O ano do confronto

Segundo noticia o Estado de S.Paulo, a SIP, Sociedade Interamericana de Imprensa, vai promover 2011 como o Ano Internacional da Liberdade de Expressão.

O objetivo, de acordo com o jornal paulista, é conscientizar as pessoas sobre o direito à informação.

A brasileira Associação Nacional de Jornais (ANJ) aderiu ao programa, bem como suas congêneres da Argentina, Bolívia, Chile Colômbia, México, Peru e Venezuela.
 
O ponto alto do movimento deve ocorrer no dia 3 de maio, em Santiago, durante as comemorações do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, mas a entidade que representa a mídia tradicional nas Américas tem programadas várias atividades em diversos países.


Trata-se, claramente, de uma reação aos conflitos que se arrastam entre as grandes empresas do setor e vários governantes da região.

No Brasil, certamente estará no centro da pauta a proposta de regulamentação de negócios do jornalismo e sua adequação a exigências constitucionais.
 
Também deve estar preocupando a imprensa tradicional o fato de que, apesar de todo o noticiário desfavorável, alguns desses governantes terem conseguido se manter no poder ou eleger seus sucessores.

A imprensa está em crise com o poder por toda parte, e isso não é necessariamente bom ou ruim.

Há desde casos extremos, como o da Venezuela, onde o presidente Hugo Chávez estende indefinidamente seu mandato e arranca do Congresso poderes excepcionais em meio a um verdadeiro clima de guerra na mídia, até o caso brasileiro, onde a imprensa vive dias de plena liberdade, apesar de posicionar-se declaradamente contra o atual governo.
 
Curioso é observar que o propósito declarado da criação do Ano Internacional da Liberdade de Expressão é educar, ou informar a população sobre a importância de uma imprensa livre.

No caso da Venezuela, embora se possa encontrar por todo o país uma enorme variedade de jornais de oposição, pode-se considerar que haja, de fato, uma grave ameaça ao direito de ser informado, na medida em que se torna desproporcional a influência do governo no volume de informações publicadas.

Mas no demais países o que se pode observar é a resistência da imprensa tradicional em aceitar que os governantes já não se preocupam em agradar os donos da mídia.

Uma campanha de conscientização sobre direitos fundamentais é sempre uma forma de contribuir para o desenvolvimento da cidadania.

Desde que tal movimento não venha a se somar a outras iniciativas corporativistas, que na verdade inibem o debate e dissimulam interesses muito particulares.
 
Safra de elogios

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

Fim de ano é época parca de grandes assuntos jornalísticos, regra quebrada apenas quando da ocorrência de tragédias ou de convulsões sociais. Pode ter sido decorrência da pauta minguada a manchete de ontem (quarta, 28/12) da Folha de S.Paulo: “Planalto pulveriza sua propaganda em 8.094 veículos”. A matéria a que remete a chamada de capa (na pág. A4) é relativamente curta – texto de 361 palavras apenas – mas correta, e com dados importantes sobre a distribuição física da publicidade oficial nos oito anos de governo do presidente Lula.

A matéria mostra que em janeiro de 2003, quando da posse do presidente ora em fim de mandato, as verbas de publicidade do governo federal eram distribuídas para apenas 499 veículos de comunicação, localizados em 182 municípios brasileiros. Hoje, esses recursos chegam a mais de oito mil veículos de comunicação com sede em 2.733 cidades do país. Um salto e tanto na capilarização das verbas e na disseminação das mensagens publicitárias junto a novas audiências.

O texto do jornalista Fernando Rodrigues informa que além de jornais, revistas e emissoras de rádio e TV, a publicidade oficial privilegiou sites e blogs na internet: eram 11 veículos nessa rubrica em 2003 e agora são 2.512 – o que reforça a importância das mídias digitais nas estratégias de comunicação pública. O volume total de investimentos do governo em publicidade nos oito anos de Lula, somados aos custos de produção, publicidade legal e patrocínio, foi, em média, de R$ 2,3 bilhões ao ano – o que não é pouca coisa.

A matéria é correta, sem juízos de valor. A ver o que o jornal, que no domingo retrasado publicou editorial de primeira página elogioso ao governo, pensa de tudo disso. Será que vêm mais elogios por aí?