Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

>>O Brasil na elite
>>Um conselho polêmico

O Brasil na elite

Os três principais jornais de alcance nacional noticiam hoje com destaque a classificação do Brasil na lista dos países por Índice de Desenvolvimento Humano, organizada pela ONU.

Pela primeira vez desde que o IDH foi criado, há 80 anos, o Brasil aparece na categoria mais elevada.

Somos os últimos do grupo de elite, em 70o. lugar, mas estamos lá.

A Folha noticia que a ONU colocou o Brasil na elite da qualidade de vida.

O Estado de S.Paulo observa que o Brasil tem avanço, mas caiu em relação ao ano anterior.

O Globo, mais ranzinza, afirma que o Brasil está na ‘lanterna’ da elite mundial.

De qualquer modo, todos os jornais admitem que o Brasil vem melhorando gradativamente em todos os itens que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano, como renda, educação e saúde, mas o desenvolvimento econômico ainda tem um peso maior.

Segundo o relatório da ONU, citado por todos os jornais, o fator principal que levou o Brasil ao grupo de elite do IDH foi o efeito do programa Bolsa Família na renda dos mais pobres.

Os três jornais ressalvam que a inclusão do Brasil entre os países com maior Índide de Desenvolvimento Humano não quer dizer que nossos problemas acabaram.

O Brasil ainda tem um dos piores índices de desigualdade de renda e as deficiências na educacão representam um obstáculo para a melhoria da classificação do País.

Além de tudo isso, o próprio índice de Desenvolvimento Humano vem sendo contestado por especialistas como sendo um retrato impreciso da qualidade de vida.

De qualquer modo, segundo os jornais, a ONU afirma que temos motivos para otimismo.

Um conselho polêmico

O conselho curador da TV pública é o tema do comentário de hoje de Alberto Dines e do jornalista Luis Egypto, editor do Observatório da Imprensa.

Egypto, como você viu o processo de escolha?

Luiz Egypto:

– O governo anunciou anteontem os quinze representantes da sociedade civil no Conselho Curador da Empresa Brasileira de Comunicação, a entidade que abrigará a nova TV Brasil.

Ao Conselho Curador caberá aprovar a política de comunicação e a linha editorial propostas pela diretoria, e zelar pelo cumprimento dos objetivos previstos na medida provisória que criou a TV pública, entre outras responsabilidades – inclusive a de deliberar sobre eventual voto de desconfiança a integrantes da diretoria da emissora. Além dos escolhidos, farão parte do conselho quatro ministros e um representante dos funcionários da TV Brasil.

A indicação dos nomes foi feita exclusivamente pelo Executivo, sem a participação de representantes do campo da comunicação. A notar que nenhum dos escolhidos tomou parte do Fórum Nacional de TVs Públicas, que se reuniu em maio último. Para uma emissora que se quer pública, o processo de escolha do seu Conselho Curador submeteu-se muito mais ao governo que à sociedade. O que, por todos os metros, não é um bom sinal.

Obrigado, Luiz Egypto.

Ouça agora o comentário de Alberto Dines.

Dines:

– A TV Pública até agora vem sendo recebida com simpatia, a expectativa é positiva porque o telespectador cansou da fórmula oferecida pela TV comercial, quer algo diferente, mais palpitante. Esta expectativa positiva foi quebrada na segunda-feira quando o governo anunciou a constituição do Conselho Curador que vai supervisionar a nova rede. Dos vinte nomes anunciados, aquele que está provocando a mais intensa reação, verdadeira repulsa, é o do antigo czar da economia durante o regime militar, Antonio Delfim Netto. A idéia de formar um Conselho Curador diversificado é boa, democrática. Mas esta diversificação não pode ser desvirtuada ao se escolher para o comando de uma rede de televisão financiada por um governo democrático uma figura tão identificada com o autoritarismo e o desprezo pela liberdade. Compreende-se que jornais e revistas do segmento privado tenham Antonio Delfim Netto como colaborador para atender aos seus interesses e gosto dos respectivos públicos. Mas uma Rede Pública de TV tem compromissos maiores, um destes compromissos é não pisotear o passado.