Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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O crime na política

Os jornais paulistas finalmente assumiram em suas pautas o tema que vinha sendo levantado pelo Globo há mais de dez dias.

O jornal carioca havia alertado, em várias reportagens, que muitas comunidades pobres do Rio estavam sendo fechadas por milicianos e traficantes a candidatos que não fossem de seu agrado.

O assunto é de extrema gravidade e revela que o crime organizado tenta consolidar seu avanço sobre as instituições políticas.

A recente prisão do deputado estadual Natalino Guimarães, cujos seguranças trocaram tiros com a polícia, expôs o grau de envolvimento de autoridades diretamente com os criminosos.

O vereador Jerominho Guimarães, irmão do deputado, já estava preso por envolvimento em cinco mortes e pela tentativa de assassinato de um delegado da Interpol.

Jerominho elegeu-se pelo PMDB e Natalino é deputado eleito pelo Partido Democratas.

O episódio do final de semana, durante o qual traficantes tentaram impedir o trabalho de jornalistas durante visita do candidato a prefeito Marcelo Crivella a um bairro da Zona Norte do Rio, finalmente uniu a imprensa em torno do problema.

Os jornais revelam que um assessor de Crivella, que é senador e dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus, havia mantido entendimentos com os traficantes para evitar distúrbios durante a visita.

Mas parece que os bandidos fugiram ao controle do senador.

Hoje O Globo informa que o Tribunal Superior Eleitoral vai reunir uma força-tarefa para combater os criminosos em todas as favelas do Rio, garantindo o direito de acesso a todos os candidatos.

Mas a imprensa precisa cobrar dos partidos políticos que tomem a iniciativa de eliminar de seus quadros os criminosos ou seus asseclas que conseguiram uma legenda para disputar as eleições.

O tal Claudinho da Academia, apoiado por traficantes como único candidato a vereador pela favela da Rocinha, é filiado ao PSDC e responde, segundo o Globo, a nada menos do que 14 processos criminais.

Mas não é apenas nas comunidades pobres que a política anda infiltrada pela ação de grupos que nada deveriam ter em comum com o ambiente parlamentar.

A Folha de S.Paulo revela que o deputado federal Alberto Fraga, do Partido Democratas foi usado pelo grupo Opportunity em uma representação junto ao Tribunal de Contas da União.

Afinal, quando um banqueiro com a biografia de Daniel Dantas consegue que um parlamentar lhe empreste o nome para uma ação controversa envolvendo o interesse público, o cenário não é muito diferente do que o que se revela nas favelas cariocas.

O crime e a demagogia

Alberto Dines:

– ‘Aqui é o mundo do crime. Não se pode sair fotografando assim’. Foi isso que o bandido armado com um fuzil automático disse aos repórteres de três jornais cariocas que no sábado acompanhavam o candidato a prefeito Marcelo Crivella na Vila Cruzeiro (a mesma onde há seis anos foi massacrado o repórter Tim Lopes da TV-Globo). O bandido gabou-se de entender de tecnologia e exigiu que as fotos fossem apagadas dos cartuchos de memória das câmeras digitais.

Nas redações, as fotos foram recuperadas com auxílio dos computadores e publicadas ontem, domingo, pelos jornais – O Dia, Jornal do Brasil e O Globo.

Vitória da imprensa, sem dúvida: os jornais não capitularam e cumpriram com o seu dever de informar. Mas convém lembrar que há poucos meses quando repórteres do Dia foram seqüestrados e torturados pelas milícias, o sindicato carioca de jornalistas acusou as empresas de colocar em risco a vida dos profissionais.

Equivale a dizer que soldados não devem sair dos quartéis nem bombeiros combater o fogo. Os jornalistas não  cobriam uma blitz, acompanhavam a campanha eleitoral de um país democrático.

A sociedade não pode se intimidar, o mundo do crime não pode se impor ao mundo cidadão. Dito isto, convém registrar que o candidato Marcelo Crivella, senador pelo PRB (base aliada do governo), estava acompanhado de um diligente assessor que tentava encerrar o incidente. ‘Isso não deveria acontecer’, alguns repórteres captaram o comentário do assessor. Isso não deveria acontecer  se o mundo da demagogia não compactuasse abertamente com o mundo do crime.