Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

>>O Estado do crime
>>Um pouco de luz

O Estado do crime

A prisão do deputado peemedebista Álvaro Lins e a denúncia do ex-governador Anthony Garotinho por formação de quadrilha armada, noticiadas hoje com destaque nos grandes jornais paulistas e manchete no Globo, lançam uma luz sobre a quase incompreensível ineficiência do governo do Rio de Janeiro no combate às quadrilhas que há décadas dominam as favelas da região metropolitana carioca.

Garotinho e Lins são apontados como integrantes de um esquema de corrupção policial e funcional que dava cobertura a empresários sonegadores de impostos, exploradores de máquinas caça-níquel e jogo clandestino.

Garotinho é apontado como o chefe político do grupo.

A Polícia Federal vasculhou sua casa mas não revelou o conteúdo do material apreendido.

Além do deputado peemedebista, foram presos seis outros suspeitos, policiais que faziam parte de sua equipe mais próxima quando ele era chefe da Polícia Civil do Rio e parentes de Álvaro Lins, entre os quais sua mulher Sissy.

Outros três policiais estavam foragidos ontem.

O Globo observa, num de seus minieditoriais, que ‘nunca o crime organizado chegou tão longe como na era Garotinho’, lembrando que a mesma investigação que aponta para o ex-governador envolve a desembargadora Monica Di Piero e a deputada federal do PPS Marina Maggessi.

O jornal observa também que pelo menos a metade dos 70 deputados da Assembléia Legislativa do Estado do Rio respondem a processos criminais na Justiça comum ou foram denunciados por crime eleitoral ou irregularidades fiscais.

A eclosão da investigação, segundo o jornal carioca, revela o quanto o Estado estaria envolvido com o crime, o que explicaria a perpetuação do poder de bicheiros, a chamada máfia dos caça-níqueis e traficantes.

A Polícia Federal divulgou o conteúdo de um trecho de escuta telefônica no qual Lins pede a Garotinho o afastamento de um delegado que se negava a participar do esquema.

A Polícia constatou que o delegado foi realmente substituído por inteferência de Garotinho em 2006, quando sua mulher, Rosinha Matheus Garotinho, era a governadora.

O Globo compara o Rio à cidade de Chicago nos tempos do gângster Al Capone.

O noticiário revela que, sob o comando do ex-governador, delegados e outros agentes policiais recolhiam propina de criminosos para deixá-los em paz.

A notícia do desmanche na cadeia de comando que ligava o crime ao Estado é saudada pelo jornal como uma esperança de resgatar e devolver o Rio de Janeiro à sua população.

Um título do Globo revela muito: ‘Chicago é aqui’.

Um pouco de luz

A notícia da decisão do Supremo Tribunal Federal de liberar as pesquisas científicas com embriões é manchete no Estado de S.Paulo e na Folha e destaque no Globo.

Também deverá ser tema de destaque nas revistas semanais.

Mas a decisão, por um apertado placar de seis votos a cinco, mostra como o tema ainda levanta polêmica.

Alberto Dines:

– Uma sociedade secular e moderna merecia um placar no Supremo menos apertado do que o de ontem. De qualquer forma, ganhou a opção humanista e humanitária com a manutenção da autorização para pesquisas com células-tronco.

Diante de um Legislativo resignado com a sua desmoralização e de um Executivo empenhado apenas em legitimar-se através de sondagens de opinião pública, nossa suprema corte mantém-se no cenário institucional como um bastião moral.

Inspirado no exemplo do STF, o Ministério Público saiu da letargia e retoma o seu papel de fiscal rigoroso. Há dois dias o Procurador Geral da República pediu ao Supremo a abertura de um inquérito sobre a atuação do deputado Paulo Pereira, presidente da Força Sindical. Antecipou-se assim à pizza que os colegas do sindicalista preparam em sua homenagem na Câmara dos Deputados.

Ontem o ministério público federal anunciou que vai enquadrar o ex-governador Anthony Garotinho por formação de quadrilha armada. Sinal de que a República está viva e não se deixa intimidar.

Agora só falta uma imprensa vigilante, diversificada e corajosa para interromper a maré montante de vexames e indignidades.

Só assim devolve-se à sociedade a sensação de que alguém cuida dos seus interesses.