Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>O fantasma da inflação
>>O futuro dos jornais

O fantasma da inflação


A imprensa anda  assombrada com a inflação por todo o mundo.


Mas no Brasil os fantasmas parecem mais tenebrosos.


Enquanto as principais publicações de economia dos países desenvolvidos insistem em que os governos devem evitar medidas heterodoxas de curto prazo e avaliam que os países em desenvolvimento vão ser protagonistas importantes na recuperação do equilíbrio global, a imprensa brasileira parece torcer por medidas de choque.

Parece que as lições do passado não foram suficientes.

Alguns analistas muito requisitados pela mídia sugerem que o Brasil deveria adotar soluções impactantes.


Ao mesmo tempo, repetem-se artigos e reportagens vinculando a popularidade do governo e a aprovação popular a resultados imediatos no afastamento do risco da inflação.


Praticamente dia sim, dia não, ao longo da semana, as emissoras de televisão têm mostrado donas-de-casa assustadas com os aumentos de preços.


Este é um ano eleitoral no qual situação e oposição medem forças nos municípios.


Como em todas as campanhas, o padrão de responsabilidade dos políticos cai a níveis preocupantes.


Não foram poucos os presidentes do Brasil que puseram a perder suas melhores intenções na economia em função do interesse político de curto prazo.


É da natureza dos políticos viver da mão para a boca na busca da manutenção de seus currais eleitorais.


Mas a imprensa não tem o direito de se deixar contaminar pelo jogo de interesses eleitorais.


Se tiver que tomar medidas amargas para impedir a volta da inflação, o governante não deve ser influenciado pelo que diz a imprensa a respeito de sua popularidade.


E a imprensa precisa manter o foco nos interesses de longo prazo da sociedade.


Faz bem em alertar o cidadão para preservar seu dinheiro da inflação, mas faz um jogo perigoso ao colocar no cenário a figura volátil da popularidade dos políticos.


O futuro dos jornais


Os jornais sofrem com a concorrência das revistas, da TV e da internet pela atenção do público e pelas verbas publicitárias.


Há quem diga que a imprensa tradicional está com os dias contados.


Outros acham que sempre haverá lugar para o velho e bom jornalismo de papel.

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:


– O crescimento exponencial do acesso à internet e as novas formas de produção e distribuição da informação são fenômenos que embutem uma mesma pergunta: qual o futuro dos jornais?


Os catastrofistas garantem que o fim do jornal em papel está próximo, é uma questão de poucos anos. Os analistas mais atilados, por sua vez, evitam conclusões precipitadas e juízos peremptórios. É o caso do jornalista Lourival Sant´Anna, que anteontem lançou, em São Paulo, o livro O Destino do Jornal, fruto de pesquisa que desenvolveu para uma dissertação de mestrado defendida ano passado na Escola de Comunicações e Artes da USP.


Ele centra seu estudo em três eixos. Primeiro, o acirramento da concorrência: como manter a identidade e sobreviver num ambiente de superabundância de informação. Segundo, as mudanças dos hábitos de leitura: a circulação média dos jornais tem decaído e, pior, o público leitor está cada vez mais velho. Como conquistar os jovens? E, terceiro, o desafio imposto pelas inovações tecnológicas: como os jornais estão se comportando diante do novo protagonismo assumido pelo público leitor. Antes, a comunicação era de mão única; hoje, tende ao diálogo.


A palavra de ordem parece ser a da convergência de mídias e da integração das redações online com as do produto impresso. A fórmula tem dado resultado em alguns jornais pelo mundo, embora a receita publicitária no meio digital seja uma equação ainda não de todo resolvida. O que não se pode negar é que a internet mudou o jornalismo, tanto o ofício propriamente dito quanto a gestão das empresas de mídia. Mas ainda vem muito mais pela frente. Quem sobreviver, verá.