Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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Os escândalos de cada um

Os jornais noticiam hoje que a CPI dos Cartões Corporativos vai convocar para depor o secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Filho, e André Fernandes, assessor do senador paranaense Álvaro Dias.

Os dois são apontados como os principais operadores do vazamento de informações sobre gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, atual motivo de excitação nos meios políticos de Brasília e entre os jornalistas do setor.

Não se sabe se o secretário mandou o arquivo para o representante do senador da oposição como um recado do governo ou se se tratava apenas de uma ação entre amigos.

A primeira versão, que mais agita a imprensa, poderia indicar que o governo, ou alguém na Casa Civil do governo, estaria tentando estabelecer os termos de uma chantagem contra a oposição.

O pacote de informações vazou para a imprensa através do gabinete do senador Álvaro Dias, o que, evidentemente, eliminaria a possibilidade de orcorrer realmente uma chantagem.

Mas o noticiário sobre o assunto já leva três meses, sem que se faça um esclarecimento adicional sobre esse ponto.

Se fosse realizada uma pesquisa sobre o interesse do leitor a respeito do tema, é bem possível que aparecesse um indicador perto de zero.

Mas a imprensa segue martelando e dando repercussão a um entrevero que, a rigor, não tem uma tese importante a provar.

No entanto, surgem aqui e ali pontas de outro novelo muito mais denso e interessante, sem que a imprensa se dedique a desenrolá-lo.

Trata-se dos indícios de que a empresa Alstom, uma das maiores fabricantes mundiais de turbinas, tinha entre suas táticas de negócios com governos da América do Sul o pagamento de propinas para o fornecimento de seus produtos e para evitar multas.

Os jornais começam a publicar, esporadicamente, informações sobre o que promete ser um grande escândalo.

Mas há divergências entre eles.

O Globo centra sua reportagem no possível envolvimento do senador governista Valdir Raupp, do PMDB de Rondônia.



A Folha de S. Paulo investe nos indícios de pagamento de propina no consórcio da Linha Amarela do metrô de São Paulo, que atingiria o governo paulista do PSDB.

O Estado de S.Paulo cita os dois núcleos do escândalo, que envolveria tanto gente do governo federal quanto representantes da oposição, dando hoje mais destaque ao possível envolvimento do senador Raupp.

Tudo indica, porém que apesar de terem os corruptos de sua predileção, os jornais vão se render ao fato de que a corrupção não tem ideologia.

Um escândalo internacional

O caso que envolve a fabricante de turbinas Alstom promete se estender para fora das fronteiras do Brasil.

Na Suíça, sede da Alstom, o governo local conseguiu a lista das fornecedoras brasileiras da empresa, atrás de indícios de lavagem de dinheiro nas obras do metrô de São Paulo.

Os elementos até aqui conhecidos prometem uma história de deliciar editor.

As manchetes por enquanto se concentram no caso dos cartões corporativos, onde o novo capítulo mostra a estranha parceria entre um funcionário de confiança do governo federal e o assessor de um senador oposicionista.

Mas em algum momento a imprensa vai se dar conta de que a história que mais interessa ao leitor ver esclarecida é aquela que conta como são escolhidos os destinatários do dinheiro aplicado em grandes obras.

Afinal, com o dólar em baixa, pode-se usar papel suficiente para publicar a fartura de escândalos disponíveis, sem poupar este ou aquele.

No momento em que o Brasil encaminha uma enorme quantidade de obras de infra-estrutura, essa é a pauta que pode proporcionar um grande momento à imprensa.

Ao que tudo indica, o caso da Alstom é um modelo do tipo de relacionamento que preside os negócios com o setor público, em todos os níveis.

Mais do que isso, talvez seja essa a oportunidade para a imprensa escancarar não apenas os nomes dos corruptos, mas também os dos corruptores.

Deve haver uma lista enorme de nomes lustrosos, que aparecem nos cadernos de economia, com potencial para adornar o noticiário sobre escândalos na editoria de política.



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