Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Os mesmos de sempre
>>A verdadeira babá eletrônica

Os mesmos de sempre

Como suspeitavam alguns observadores, as primeiras investigações da força-tarefa agregada à Operação Satiagraha descobriram ligações entre operações fraudulentas no Banco Opportunity e o escândaldo Banestado, que acabou em pizza na CPI e foi engavetado pela imprensa.

Reportagem publicada hoje pelo Globo informa que fiscais da Receita Federal que analisam os arquivos eletrônicos apreendidos no banco de Daniel Dantas em 2004 constataram que alguns clientes do Opportunity também movimentaram dinheiro no Banco do Estado do Paraná em Foz do Iguaçu.

Uma investigação da Polícia Federal deu início, em junho de 2003, a uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre evasão de divisas, que ficou conhecida como CPI do Banestado.

A CPI se encerrou com a conclusão de que, entre 1996 e 2002, mais de 84 bilhões de dólares haviam sido enviados irregularmente para o exterior através de contas na agência do Banestado em Foz do Iguaçu.

A CPI não causou punições, por causa da apresentação de dois relatórios paralelos que formaram a massa da pizza, mas a Polícia Federal manteve os registros, que indicam o envolvimento de mais de 130 políticos, que teriam se beneficiado de contas ilegais no exterior.

Também foram identificados empresários, celebridades do mundo do entretenimento e criminosos ligados ao tráfico de drogas, de armas e exploradores da prostituição.

Uma bela mistura entre políticos, empresários e mafiosos.

Segundo o Globo, a investigação do caso Opportunity entra agora nos detalhes técnicos, sem os holofotes que expuseram divergências na Polícia Federal e no Judiciário.

Os primeiros cruzamentos de dados indicam que parte dos clientes do Opportunity usava regularmente os mesmos truques para movimentar grandes somas em contas no exterior.

Há indícios de que, com a exposição das fraudes no Banestado, muitos envolvidos no esquema passaram a usar o Opportunity para manter as movimentações ilegais.

Até mesmo o número de envolvidos é semelhante.

O Globo informa que os fiscais da Receita Federal agregados à Operação Satiagraha estão fazendo uma devassa nas contas de cerca de uma centena de clientes do Opportunity.

Diferente das ações judiciais, a investigação fiscal é mais rápida e punitiva, pois uma vez constatada a irregularidade o autor é submetido a pesadas multas e obrigado a devolver o valor sonegado.

Seria um bom serviço se a imprensa fosse divulgando esse nomes.

Afinal, alguns deles podem ser candidatos em futuras eleições.

A verdadeira babá eletrônica

A falta de limites na busca lucros no mundo midiático pode produzir idéias monstruosas.

É o caso da emissora de TV criada para entreter bebês.

Luiz  Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Num dia qualquer de 2003, dois profissionais de marketing – Guy Oranim e Sharon Rechter – tiveram a idéia de criar uma emissora de TV dirigida a crianças de seis meses a três anos de idade. Por mais estapafúrdia que pudesse parecer – e é –, a iniciativa resultou rentável. Assim nasceu a BabyFirst TV, com sede em Los Angeles (Califórnia) e programação em inglês, espanhol e francês. Seu sinal chega a 28 países e o negócio fechou 2007 com treze milhões de assinantes.

No ano passado a emissora chegou à França e despertou reações virulentas, como mostra matéria de Leneide Duarte-Plon, na edição online deste Observatório (ver ‘A perigosa relação do bebê com a TV’). Um manifesto organizado por psiquiatras especializados em crianças recomendava uma moratória para esse tipo de canal, até que se debatesse a fundo a qualidade de sua influência na formação dos bebês. Agora o assunto voltou à baila na revista semanal do Le Monde, a Monde 2, que avaliou com especialistas a exposição de bebês à TV. ‘A simples idéia desse canal contraria tudo o que sabemos sobre o psiquismo do bebê’, disse o psicanalista Serge Hefez, ouvido pela revista.

Por cinco dólares ao mês, o preço da assinatura nos Estados Unidos, contrata-se uma babá eletrônica por 24 horas ao dia, sete dias por semana. Tristes tempos.