Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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>>Esquentando o debate

Pensando no futuro

Em meio ao noticiário sobre a turbulência global, a imprensa brasileira começa finalmente a encontrar espaço para falar do pós-crise e de lições que podem ser aplicadas de agora em diante.

Os jornais destacam que, apesar da crise financeira, o nível de confiança dos consumidores paulistanos é o mais elevado em quase dez anos e, segundo pesquisa publicada hoje, o povo pretende ir às compras neste final de ano, mantendo a economia aquecida por aqui.

Por outro lado, segundo o Globo, consolida-se em todo o mundo o movimento pela mudança do padrão de consumo. Depois dessa crise, nada será como antes, diz o jornal carioca.

Ainda nas edições de hoje, o Estado de S.Paulo e a Folha destacam o acordo que deverá ser assinado hoje entre as ONGs Movimento Nossa São Paulo e Fórum Amazônia Sustentável e várias empresas de porte, pelo qual elas se comprometem a deixar de comprar produtos de donos de terras que provocam o desmatamento da Amazônia e toleram o trabalho em condições sub-humanas.

Pelo menos 30 empresas são as pioneiras nesse novo padrão de comércio, entre as quais se destacam algumas gigantes do setor de varejo.

Tanto as ações anunciadas em São Paulo como a notícia do Globo sobre a busca de padrões de consumo sustentáveis representam uma nova atitude de organizações sociais e empresas contra a raiz da crise financeira internacional.

O destaque dado pela imprensa brasileira a esses temas também significa uma mudança na abordagem das questões econômicas e de negócios.

Embora os jornais ainda continuem isolando o noticiário sobre sustentabilidade em sessões específicas, já é um bom começo.

Enquanto se discute se o futuro sistema econômico mundial será chamado de capitalismo social ou sócio-liberalismo, é importante que a imprensa dê visibilidade às instituições e empresas que já estão pensando no futuro, para lá do socorro ao mercado.

A busca da sustentabilidade, que inclui consumidores ativos mas conscientes, e empresas que contribuem para reduzir os impactos sociais e ambientais da atividade econômica, ainda é a melhor vacina contra as crises.

Esquentando o debate

Uma nova proposta de mudança da lei de imprensa reacende a discussão sobre a regulamentação da atividade jornalística.

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado um projeto de lei da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) que revoga a Lei de Imprensa, de 1967, e cria dispositivos com a intenção de regular a atividade jornalística. Na sua justificativa, a senadora reafirma a defesa de uma imprensa livre, mas ressalva que ‘não correspondendo a notícia à verdade e ao interesse público, e causando dano a particular, deverá ser atribuída uma indenização a quem reclamar perante o Judiciário’.

Obviedades à parte, o projeto capitula como ‘infração gravíssima’ a divulgação de informações de procedimentos judiciais que corram sob segredo de Justiça; e, mais grave ainda, a veiculação de material obtido sem autorização judicial – neste caso, o valor da indenização deverá ser multiplicado por cinqüenta e, a sentença, publicada por cinqüenta vezes, às expensas do infrator.

A proposta não entusiasmou a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) nem a Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Ao portal Comunique-se, o presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, disse que o projeto ‘é punitivo e tem o objetivo de engessar o jornalismo’. Maurício Azedo, presidente da ABI, considerou o multiplicador aplicado ao valor das indenizações como uma ‘hostilidade à liberdade de informação’.

A atual Lei de Imprensa é um documento anacrônico, um entulho autoritário herdado da ditadura. Tanto que em fevereiro deste ano o Supremo Tribunal Federal acatou a argüição do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) e suspendeu 20 dos 77 artigos da lei. Se o projeto da senadora petista não é o melhor do mundo, pelo menos reacende a discussão sobre a necessidade de uma lei de imprensa enxuta, justa e antenada com o seu tempo. Quando, afinal, a teremos?